sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Quando os mais fracos vencem

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São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2011


Quando os mais fracos vencem

MOISÉS NAÍM


UMA DAS quase constantes na história militar é que forças militares maiores e mais bem equipadas tendem a derrotar forças menores e menos bem armadas. Igualmente constantes na história, contudo, são os casos de forças armadas pequenas que conseguiram assediar essas máquinas militares grandes, sustar seu avanço e até mesmo derrotá-las.
Nos tempos modernos, especialistas nesse método de guerra apresentaram a doutrina de seu êxito. Estes incluem Che Guevara, Ho Chi Minh e Mao Zedong, entre outros.
Na linguagem militar atual, as guerras de guerrilha são "irregulares" e "assimétricas". São irregulares na medida em que incluem um antagonista que é um grupo armado, mas não uma força militar tradicional. E são assimétricas porque há desproporção entre os adversários em matéria de poderio militar bruto - pessoal e equipamentos. Hoje em dia, e graças a grupos como Al Qaeda e Taleban, os conflitos irregulares e assimétricos tornaram-se a praxe.
Hoje, a guerra raramente opõe diretamente dois exércitos nacionais, e, quando isso ocorre (como na bem-sucedida invasão americana do Iraque, em 2003), é mais provável que se dissolva em uma forma não tradicional, como uma insurgência.
Quando dois inimigos se enfrentam, a chance é maior que nunca antes na história moderna que aquele que parece ser mais fraco, no papel, acabe por prevalecer. O número e variedade de atores envolvidos em conflitos militares não vinculados à defesa de um território particular, mas motivados por objetivos ideológicos, religiosos, criminosos ou econômicos politicamente sem fronteiras não tem precedentes na história moderna.
Considere o que aconteceu com a arte da guerra tradicional -do tipo que opõe forças militares organizadas, com exércitos nacionais que se enfrentam ou que enfrentam uma força rebelde com um território.
O estudioso de Harvard Ivan Arreguín-Toft analisou as 197 guerras desse tipo travadas em todo o mundo entre 1800 e 1997 e que também foram assimétricas -ou seja, em que havia uma grande disparidade inicial entre os antagonistas, conforme o que se mede em termos tradicionais, pela combinação das dimensões de suas forças militares e sua população. Arreguín-Toft constatou que, em quase 30% dos casos, o ator supostamente "fraco" venceu o conflito. Isso é notável por si só, mas mais notável ainda foi a tendência ao longo do tempo. Nos últimos dois séculos o antagonista supostamente "fraco" viu suas chances de prevalecer aumentarem constantemente.
Entre 1800 e 1949, o ator fraco venceu apenas 11,8% do tempo. Mas, entre 1959 e 1998, o ator fraco venceu em 55% dos casos. Isso significa que um axioma fundamental da guerra foi colocado de ponta-cabeça.
Houve uma época em que o poder de fogo superior prevalecia. Isso deixou de ser verdade. Os planejadores do Pentágono estão pensando sobre isso. O Taleban, também.

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