O geofísico Valiya Mannathal Hamza, indiano naturalizado brasileiro
O Estado de São Paulo, 25 de agosto de 2011
Cientistas anunciam rio subterrâneo de 6 mil km embaixo do Rio Amazonas
Alexandre Gonçalves - O Estado de S.Paulo
Pesquisadores do Observatório Nacional (ON) encontraram evidências de um rio subterrâneo de 6 mil quilômetros de extensão que corre embaixo do Rio Amazonas a uma profundidade de 4 mil metros. Os dois cursos d"água têm o mesmo sentido de fluxo - de oeste para leste -, mas se comportam de forma diferente. A descoberta foi possível graças aos dados de temperatura de 241 poços profundos perfurados pela Petrobrás nas décadas de 1970 e 1980, na região amazônica. A estatal procurava petróleo.
Fluidos que se movimentam por meios porosos - como a água que corre por dentro dos sedimentos sob a Bacia Amazônica - costumam produzir sutis variações de temperatura. Com a informação térmica fornecida pela Petrobrás, os cientistas Valiya Hamza, da Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional, e a professora Elizabeth Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas, identificaram a movimentação de águas subterrâneas em profundidades de até 4 mil metros.
O dados do doutorado de Elizabeth, sob orientação de Hamza, foram apresentados na semana passada no 12.º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, no Rio. Em homenagem ao orientador, um pesquisador indiano que vive no Brasil desde 1974, os cientistas batizaram o fluxo subterrâneo de Rio Hamza.
Características
A vazão média do Rio Amazonas é estimada em 133 mil metros cúbicos de água por segundo (m3/s). O fluxo subterrâneo contém apenas 2% desse volume com uma vazão de 3 mil m3/s - maior que a do Rio São Francisco, que corta Minas e o Nordeste e beneficia 13 milhões de pessoas, de 2,7 mil m3/s. Para se ter uma ideia da força do Hamza, quando a calha do Rio Tietê, em São Paulo, está cheia, a vazão alcança pouco mais de 1 mil m3/s.
As diferenças entre o Amazonas e o Hamza também são significativas quando se compara a largura e a velocidade do curso d"água dos dois rios. Enquanto as margens do Amazonas distam de 1 a 100 quilômetros, a largura do rio subterrâneo varia de 200 a 400 quilômetros. Por outro lado, as águas do Amazonas correm de 0,1 a 2 metros por segundo, dependendo do local. Embaixo da terra, a velocidade é muito menor: de 10 a 100 metros por ano (mais informações nesta página).
Há uma explicação simples para a lentidão subterrânea. Na superfície, a água movimenta-se sobre a calha do rio, como um líquido que escorre sobre a superfície. Nas profundezas, não há um túnel por onde a água possa correr. Ela vence pouco a pouco a resistência de sedimentos que atuam como uma gigantesca esponja: o líquido caminha pelos poros da rocha rumo ao mar.
Temperatura
Hamza e Elizabeth apontam a existência do que os pesquisadores chamam de "dois grandes sistemas de descargas de fluidos na Amazônia": o Rio Amazonas, com seus 6.100 km de extensão, e o fluxo oculto das águas subterrâneas.
Segundo os dados apresentados por Elizabeth, o fluxo subterrâneo é praticamente vertical - de cima para baixo - nos primeiros 2 mil metros. Depois, nas camadas mais profundas, muda de direção, tornando-se quase horizontal. Depois de atravessar as bacias do Solimões, Amazonas e Marajó, o rio alcança o fundo do mar, perto da foz do Amazonas. Hamza argumenta que as descargas do fluxo subterrâneo de água doce poderiam explicar os bolsões de baixa salinidade comuns no litoral da região.
O geólogo Olivar Lima, da Universidade Federal da Bahia, assistiu à apresentação do trabalho e, na ocasião, mostrou aos autores mais dados, obtidos em outros poços perfurados pela Petrobrás na foz do Amazonas, que confirmam as conclusões do estudo. Porém, acha um exagero classificar a descoberta como um rio. "Os resultados são muito bons", afirma Lima. "Só não acho correto propor a existência de um rio subterrâneo." Ele argumenta que os dados permitem afirmar a existência de um imenso fluxo de água através das formações permeáveis da Bacia Amazônica. Mas a velocidade seria muito baixa para justificar a categoria de rio. Contudo, se por um lado a velocidade não se compara à de um rio convencional, o volume de água assume ordens de grandeza que tornariam compreensível tal comparação, reconhece o pesquisador.
A descoberta, por enquanto, não mudará a vida das populações que habitam a Bacia Amazônica. Como o rio está a uma profundidade muito grande e há muita água doce na superfície, não seria economicamente razoável perfurar a terra para acessar o curso d"água. O estudo pode ajudar, no entanto, a prospecção de petróleo.
PARA LEMBRAR
Há dois anos, cientistas italianos descobriram um rio subterrâneo que corre embaixo de Roma, mais extenso que o Tibre - o terceiro maior da Itália, com 392 quilômetros. Assim como o brasileiro, o rio subterrâneo italiano foi encontrado graças a dados de perfuração de poços. No Brasil, outra reserva de água subterrânea é o Aquífero Guarani, com 45 milhões de litros. A maior parte fica no Brasil, mas ele também se estende no Paraguai, Uruguai e Argentina.
Le 29 août 2011
Hamza : un nouveau "fleuve" à 4.000 mètres sous l'Amazone
Par Bruno Scala, Futura-Sciences
Un « fleuve » a été découvert par une équipe de chercheurs de l'Observatoire national du Brésil. Cet écoulement d'eau, baptisé Hamza, se situe à environ 4.000 mètres de profondeur, sous l'Amazone, au Brésil.
Un « fleuve » a été découvert par une équipe de chercheurs de l'Observatoire national du Brésil. Cet écoulement d'eau, baptisé Hamza, se situe à environ 4.000 mètres de profondeur, sous l'Amazone, au Brésil.
Une équipe de chercheurs brésiliens de l’Observatoire national, qui est lié au ministère des Sciences et des technologies, a révélé l’existence d’un « fleuve » souterrain, se trouvant sous le fleuve Amazone, en Amérique du Sud.
Les études récemment effectuées sur des données relevées entre 1970 et 1980 par l’entreprise de raffinage brésilienne Petrobas ont permis de mettre en évidence la présence d’eau, se déplaçant d’ouest en est, à l’instar de l’Amazone.
L'Hamza coule sous l'Amazone
L’équipe de recherche emmenée par Valiya Mannathal Hamza et Elizabeth Tavares Pimentel a analysé la température au sein de 241 puits de forage dont 185 sont situés dans le bassin du fleuve Amazone (au niveau des États de l’Acre, l’Amazonas, le Para et de l’Amapa). Les résultats ont permis d'établir une courbe de températures concordant avec la présence d’un fleuve souterrain. Les scientifiques l'ont baptisé Hamza, du nom du chercheur responsable du projet.
Les mouvements de l'eau sous le bassin de l'Amazone sont verticaux jusqu'à 2.000 mètres, puis verticaux et horizontaux jusqu'à 4.000 m de profondeur. © Elizabeth Tavares Pimentel, Observatoire national du Brésil
Selon les résultats, l'Hamza se situe à environ 4.000 mètres de profondeur. Dans la partie supérieure des formations géologiques (jusqu’à une profondeur de 2.000 m), les analyses ont mis en évidence un flux des eaux vertical, tandis que plus profondément, ce flux vertical est mélangé à un flux horizontal (voir schéma ci-dessus).
Si les chercheurs brésiliens ont qualifié leur découverte de fleuve souterrain, il n'est cependant pas correct d'utiliser le terme « fleuve » pour un écoulement d'eau si faible (voir ci-dessous). Le professeur Hamza est d'ailleurs revenu sur ce terme dans un entretien avec la BBC.
Des caractéristiques physiques différentes
Une analyse du débit au niveau de différentes zones empruntées par l'Hamza a permis aux scientifiques de déterminer la direction du flux horizontal : d’ouest en est, tout comme le fleuve Amazone. Ils ont également évalué plusieurs caractéristiques de l'Hamza et ont établi des comparaisons avec son voisin du dessus.
Caractéristiques physiques de l'Amazone et de l'Hamza. © Bruno Scala/Futura-Sciences, d'après les données de l'Observatoire national du Brésil
Le débit de l'Hamza est beaucoup moins important que celui de l’Amazone (3.900 m3/s contre 133.000). La vitesse du flux est également nettement plus faible (10-8-10-9 m/s contre 0,05-5 m/s). En revanche, la largeur de l'Hamza est bien plus importante (200-400 km contre 1-100 km) et la longueur des deux est assez similaire (voir données ci-dessus). Selon les scientifiques, l'Hamza se déverse dans les parties profondes de l’océan Atlantique et est probablement responsable des poches à faibles salinité observées dans la zone d’embouchure. Cette théorie est cependant soumise à controverse.
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