quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Espanha: "Menos crucifixo, mais trabalho fixo"

São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Católicos e 'indignados' se agridem por visita de papa

Emilio Morenatti/Associated Press

Manifestantes gritam contra fiéis católicos, em protesto ontem em Madri, contra a onerosa visita do papa Bento 16

LUISA BELCHIOR
EM MADRI

Uma manifestação laica contra a ida do papa Bento 16 a Madri terminou ontem em enfrentamento entre jovens cristãos e "indignados" -movimento que tomou as praças da Espanha em maio, exigindo mais empregos.
Os dois grupos se agrediram ao encontrar-se na Porta do Sol, a principal praça da capital espanhola e epicentro dos protestos recentes. Ao menos sete ficaram feridos e outros cinco foram detidos.
Os católicos estão desde anteontem em Madri para ver o papa -que chega hoje à cidade- e participar da 26ª Jornada Mundial da Juventude, encontro de jovens cristãos que reúne cerca de 1 milhão deles, de 137 países.
A manifestação de ontem, com mais de 20 mil pessoas, foi organizada por grupos laicos, "indignados" e até igrejas de base contrárias a Joseph Ratzinger. O principal protesto era contra os gastos do governo com visita do papa, que, segundo a organização Europa Laica, sairão em € 20 milhões (R$ 45 mi).
No mesmo momento, participantes do encontro faziam procissão que, como o protesto, terminou na Porta do Sol. Lá, os dois grupos trocaram provocações. Os manifestantes vaiavam freiras e padres, gritando "pederastas" aos católicos -que respondiam com odes ao papa.
A polícia interferiu com agressões a ambos os lados e, em menos de um minuto, esvaziou toda a praça. Um grupo de brasileiros -país com o maior número de participantes do encontro de fora da Europa- passava pelo cordão de isolamento no momento do enfrentamento. Nenhum deles ficou ferido.
"Levamos um susto. Sabíamos que teria protesto, mas não fazíamos ideia de que acabaria assim", diz a missionária Janayna Rezende, 29, de Cachoeira Paulista.
As tensões pelo encontro entre os grupos já preocupava ambos os lados desde a semana passada, segundo relataram representantes dos dois lados à Folha.
"Sabíamos que podia acontecer algo assim porque haveria muita gente, mas demos orientação para que não revidassem as agressões", diz o coordenador de voluntários do encontro, Fernando Sols. Os manifestantes planejam um beijo gay coletivo durante a passagem de Ratzinger.



"MENOS CRUCIFIXO, MAIS TRABALHO FIXO"
 

Milhares de indignados tomam as ruas do centro de Madrid nesta 4º feira e ocupam a praça do Sol em protesto contra gastos públicos  para a visita  do Papa Bento XVI, que chega nesta 5º feira à capital espanhola. 'Mais educação, menos religião'; 'Menos crucifixo, mais trabalho fixo', dizem alguns dos cartazes  na  Praça do Sol.

Tradicional reduto dos 'indignados', o local foi interditado recentemente  como preparativo para a recepção ao Papa, que participa na Espanha da Jornada Mundial da Juventude. O país tem o maior índice de desemprego do euro, 20%. Entre os jovens a taxa é dramaticamente superior: chega a 45%, no caso da Andaluzia, por exemplo. A crise atingiu em cheio a economia espanhola cujo crescimento mimetizou a bolha imobiliária norte-americana. O governo Zapatero mimetizou igualmente a terapia  ortodoxa de cortes de gastos para atender à pressão dos mercados. Fundos e bancos ameaçam não  financiar mais a dívida pública, exigindo juros cada vez mais elevados. Zapatero antecipou para novembro as eleições a sua sucessão. Rubalcaba, o candidato dos socialistas, adotou um discurso à esquerda na tentativa de reconquistar o eleitor tradicional do partido. Mas as pesquisas indicam que a direita está em vantagem na corrida eleitoral. Manifestantes laicos pró-emprego e cristão pró-Papa trocaram insultos  na Porta do Sol, antecipando o clima das urnas em novembro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário