São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011
Gibi teen da Mônica vende 500 mil cópias
Daniel Marenco - 12.mai.2011/Folhapess
Maurício entre Mônica e Cebolinha, na posse da cadeira 24 da Academia Paulista de Letras
DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
O número 500 constou das planilhas de Mauricio de Sousa, 75, nos últimos meses.
A edição 34 da "Turma da Mônica Jovem" foi impressa em 500 mil cópias, enquanto a revistinha "Mônica" comemorou sua 500ª edição.
Enquanto isso, nos EUA, os números para esse mercado são mais desanimadores. Em maio, nenhuma HQ vendeu mais de 100 mil cópias.
A diferença entre as situações está, para Sousa, em sua capacidade de adaptar-se a novas situações. Em 2008, por exemplo, ele envelheceu os personagens da turminha, apostando no mercado teen. O próximo passo será torná-los adultos.
Logo, não surpreende que o desenhista atenda o telefone e responda assim como tem passado: "Trabalhando".
"Se um livro vende 5.000 cópias já é considerado best-seller", diz Sousa à Folha. "Se vendemos 500 mil gibis, dizem 'tudo bem, acontece'."
O empresário faz parte de um mercado que, na última década, viveu a entrada de gibis japoneses, o surgimento de novas editoras e selos especializados e a consagração de artistas nacionais.
A falta de loas ao mercado sinaliza, para ele, preconceito em relação aos gibis, tidos como entretenimento menor -não por ele, que publica a garota gorducha, baixinha e dentuça desde os anos 60.
Nesse tempo, Sousa reuniu o que chama de "arsenal": uma série de estratégias eficientes para vender gibis.
Um exemplo é a edição 34 da "Turma da Mônica Jovem" e o caso das 500 mil cópias.
"A editora me avisou que a revista tinha tido queda nas vendas em três edições seguidas", narra. "Falei 'Não por isso! Vamos fazer o Cebolinha e a Mônica namorarem'."
A tática fez as vendas saltarem em 100 mil exemplares, com a capa que já se tornou histórica, mostrando o beijo dos dois personagens.
O fato de Sousa ser uma figura central tanto nos negócios como na parte artística da firma ajuda na tomada de decisões rápidas, como a de pôr Cebolinha e Mônica para namorar. Nos EUA, diz, "às vezes, as escolhas têm de ser feitas por muitas cabeças".
Afinal, no modelo norte-americano de gibis de super-heróis o direito sobre os personagens nem sempre é do criador, e sim da editora.
"IMPÉRIO"
A Mauricio de Sousa Produções -maior estúdio de quadrinhos da América Latina- tem 200 artistas, faz parceria com 110 empresas e publica gibis em 12 editoras. A empresa produz cerca de 1.200 páginas mensalmente.
Não é exagero chamar a firma de império. Os negócios de Sousa se espalham por mais de 50 países e incluem desenhos animados a espetáculos circenses.
Uma seara na qual ele ainda receia entrar, porém, é a dos meios digitais. "Temos feito experiências com iPad. Mas, nessa área, quero entrar onde tiver menos pedrinhas."
Por outro lado, Sousa tem mirado a área educacional e tenta entrar no mercado de livros didáticos. Mas ainda não conseguiu que o governo adote seu material. "Se demorar muito, vou lançar eu mesmo e colocar nas bancas."
A partir de 2012, personagens vão começar a envelhecer
DE SÃO PAULO
Os personagens da "Turma da Mônica" têm soprado sete velinhas em seus bolos de aniversário há cinco décadas.
A trupe avançou à adolescência em 2008, com os gibis "Turma da Mônica Jovem", mas a "maldição" de nunca envelhecer se manteve.
Porém, com decisão inédita adiantada com exclusividade pela Folha, Mauricio de Sousa vai romper com um dos paradigmas dos quadrinhos: vai aumentar, ano a ano, a idade de seus personagens.
"Gibis, jornais, remédios e alimentos têm prazo de validade", afirma. "Você tem de rejuvenescer, se adaptar."
Com a novidade, a turma da Mônica irá se tornar uma família cronológica de personagens. Eles vão, por exemplo, amadurecer, se alistar no Exército, casar e ter filhos.
"Será como um folhetim, uma história ininterrupta", diz Sousa. "Tenho planos de montar uma equipe com psicólogos e médicos."
Dessa maneira, o empresário espera transformar seu negócio, que "deixará de ser histórias em quadrinhos" para abranger um leque amplo de setores condizentes com a idade de seus personagens.
Por exemplo, quando a Mônica tiver filhos, precisará montar o enxoval.
E, vale lembrar, as fraldas descartáveis estão entre as vedetes do mercado de licenciamento -que responde atualmente por cerca de 85% do faturamento da empresa de Mauricio de Sousa.
O envelhecimento da turminha terá consequências no mundo fora dos gibis.
O empresário já adianta, por exemplo, que planeja montar eventos nos aniversários dos personagens.
RESISTÊNCIA INTERNA
Leitores devem ver as mudanças no final de 2012, em parte devido inclusive à resistência interna às novidades.
"Imagine quando eu anunciar isso no estúdio", diz Sousa. "O pessoal me lixa."
A própria "Turma da Mônica Jovem" -que rompeu com outro paradigma, ao adotar o estilo dos mangás no lugar do desenho tradicional da série- ficou em gestação durante quatro anos.
O descolamento dos super-heróis em relação ao tempo é apontado como um dos motivos pelos quais o mercado norte-americano tem enfrentado desgaste.
O Homem-Aranha, por exemplo, não envelhece desde os anos 60. (DB)
Indústria global busca estratégia para fugir da retração
DE SÃO PAULO
Enquanto os super-heróis dos gibis se dedicam a salvar o dia, a indústria por trás deles se preocupa com questões, digamos, mais triviais, como rentabilidade e lucro.
É um negócio de US$ 650 milhões nos EUA e de US$ 4,6 bilhões no Japão. O vilão da queda nas vendagens, porém, ameaça ambos - HQs norte-americanas venderam 17% a menos em maio em volume, e a queda nipônica foi de 6,6% em valor em 2009.
A preocupação se estende a outros nichos. A exemplo dos heróis, essa indústria tem dupla identidade: ela alimenta outros ramos milionários.
O mercado de licenciamento, por exemplo, faturou US$ 5,2 bilhões com royalties em 2009. Desse total, 46% são resultado do licenciamento da marca de personagens.
O cinema de ação também tem se voltado aos quadrinhos para buscar inspiração.
O recente "X-Men: Primeira Classe" lucrou mais de US$ 130 milhões globalmente na primeira semana em cartaz, segundo a Mojo Box.
Manter esses números altos é a meta das editoras, que para tal têm de lutar contra a ameaça da queda nas vendas.
Tendo esse cenário em vista, a gigante DC Comics - propriedade do grupo Time Warner - lança em setembro um pacotão de estratégias.
A primeira novidade diz respeito aos fãs. Os gibis voltarão às edições número um, e seus personagens serão reformulados em alguns detalhes. O Superman, por exemplo, deve aposentar a cueca vermelha por cima da calça.
A cadeia de distribuição, por sua vez, será tentada com agrados, como descontos de até 72%, de acordo com o título e o montante do pedido, e a possibilidade de devolver o encalhe quase sem custos.
As editoras miram também os meios digitais, que ainda rendem muito menos (US$ 8 milhões nos EUA em 2010), mas prometem crescimento. A maioria, contudo, ainda não consegue aplicar um modelo rentável de negócio. (DB)
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