Folha.com, 01/07/2011
Fusão Pão de Açúcar/Carrefour pode ser um 'horror', diz Firjan
CIRILO JUNIOR
DO RIO
A fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour poder ser um 'horror', disse nesta sexta-feira o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.
Para ele, o negócio, se concluído, pode gerar desemprego, por 'estrangular' o canal de distribuição e pelo poder que a empresa terá junto aos produtores.
Gouvêa Vieira disse que já expôs ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e ao presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, pesquisa que mostra que a maior parte do empresariado é contrária à fusão.
"Espero que o governo repense. É impossível se concordar. O interesse da sociedade, do consumidor, do produtor, de todos, é inverso. Inclusive essa questão de internacionalização, não vi nada. Por quê uma empresa que não exporta hoje vai exportar depois? A troco de quê?", questionou.
Segundo o executivo, o presidente do BNDES sinalizou que só daria apoio caso a oferta não fosse hostil, e se todos os acionistas estiverem de acordo.
O presidente da Firjan lembrou ainda que a tese de se criar uma companhia nacional forte não se sustenta. "A nova companhia será também de capital majoritariamente francês, hoje e amanhã", completou.
São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2011
BNDES investe em varejista 61% francês
MARIO CESAR CARVALHO
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
O BNDES autorizou a injeção de R$ 3,9 bilhões numa operação de fusão que, se der certo, será majoritariamente francesa - do Carrefour e do Casino.
Os franceses têm hoje, direta e indiretamente, 61% da empresa que resultará da fusão entre o Pão de Açúcar e a unidade brasileira do Carrefour, se o projeto for aprovado pelo Casino, que resiste à oferta sob a alegação de que não foi consultado. A presença francesa no Pão de Açúcar cresceu nesta semana, após o Casino comprar US$ 1 bilhão em ações da varejista.
Uma das justificativas do BNDESPar, braço de investimentos em empresas do banco estatal, para entrar no negócio é que o aporte ajudaria a fortalecer a presença internacional de um grupo brasileiro, o Pão de Açúcar.
No caso, a operação brasileira, chamada de NPA (Novo Pão de Açúcar), terá 11,7% do Carrefour mundial.
A proposta, feita pelo banco BTG Pactual, prevê a fusão do Pão de Açúcar/Casino com o Carrefour no Brasil.
O Casino é sócio do Pão de Açúcar desde 1999, quando entrou no capital da varejista brasileira para salvá-la da bancarrota. Em 2005, comprou o controle, que deveria assumir no próximo ano.
A Folha apurou que o BNDES exigiu que o poder de cada um dos sócios seja limitado a 15%, independentemente da quantidade de ações que ele possuir.
O limite foi criado para evitar que estrangeiros tenham poder de decisão em empresa com presença do BNDES.
No Brasil, acordo de acionistas prevê que o comando dos negócios seja compartilhado, meio a meio, entre NPA -mistura de Casino, Abilio Diniz, BNDES, Pactual e minoritários- e Carrefour.
O presidente da nova empresa será escolhido pelo conselho de administração, que será indicado pela ala vinda do Pão de Açúcar.
Não há impedimento de que um francês presida o braço brasileiro da empresa.
O Carrefour está hoje nas mãos de investidores financeiros - os gestores de fundos Blue Capital e Colony, além de Bernard Arnault (dono da Louis Vuitton), que não escondem o desejo de vender suas participações.
Com a fusão no Brasil, os brasileiros passariam a ter direito a dois assentos no conselho do Carrefour, podendo indicar um terceiro em 2013.
ASSEMBLEIA
Ontem, o Casino solicitou ao grupo Pão de Açúcar uma assembleia de acionistas.
É mais um passo para a discussão sobre a proposta de fusão, que não foi apresentada aos franceses.
Diniz foi a Paris, ficou 26 horas esperando para ser recebido por Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, mas o executivo francês se recusou a atendê-lo.
Se não houver acordo, a disputa vai para o Conselho Nacional de Arbitragem. O Pão de Açúcar já escolheu os escritórios que vão representá-lo: Wald Advogados e Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide Advogados.
A decisão dos árbitros não pode ser contestada na Justiça, segundo o acordo de acionistas do Pão de Açúcar com o Casino.
Compra de ações pela BNDESPar atinge R$ 43 bi
LEILA COIMBRA
DO RIO
A BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, já investiu R$ 42,6 bilhões na compra de participações societárias em empresas das áreas de petróleo, telefonia, energia, mineração, celulose e até frigoríficos.
Esse foi o volume de recursos investidos em compra de ações durante o mandato do atual presidente do banco, Luciano Coutinho, que comanda a instituição desde abril de 2007.
Entre as empresas em que a subsidiária do BNDES aplicou o dinheiro estão gigantes como Petrobras e Vale, mas boa parte dos recursos foi para processos de fusão, como o que pode ocorrer entre Pão de Açúcar e Carrefour.
Dentro dessa política foram criadas outras grandes "campeãs nacionais", como a Oi (telefonia), o JBS Friboi (carnes) e a Fibria (papel). Por meio do seu braço de participações, o banco se tornou sócio dessas empresas, aportando nelas dezenas de bilhões de reais.
Isso fez com que a BNDESPar aumentasse em quatro vezes o seu tamanho no período. Seu ativo total subiu de R$ 25 bilhões para R$ 125,8 bilhões, dos quais mais de 80% se referem a uma carteira de ações. A conta considera só os aportes diretos no capital das empresas. Não entram os empréstimos concedidos por linhas de financiamento do banco.
A participação direta do BNDES na criação de grandes grupos empresariais brasileiros é uma das principais estratégias traçadas por Coutinho, na qual a BNDESPar tem sido cada vez mais agressiva na política de criação de gigantes nacionais.
Empresas de carnes, como a JBS/Bertin e a Marfrig, obtiveram um total de R$ 6,85 bilhões da BNDESPar por meio de venda de fatia societária ou subscrição de debêntures conversíveis em ações. Esses valores não levam em conta os financiamentos concedidos a elas.
Na Vale, a BNDESPar aportou R$ 3,9 bilhões. Em seguida aparecem Votorantim Celulose e Papel (VCP), que mais tarde viria a se tornar a Fibria, e a Telemar (agora Oi), com R$ 1,8 bilhão e R$ 1,2 bilhão, respectivamente.
PETROBRAS
A capitalização da Petrobras, que consumiu R$ 22 bilhões, fez a participação da petrolífera na carteira de participação da empresa atingir 46,9%. Mas, nesse caso, o BNDES e sua subsidiária foram envolvidos na operação para que o Tesouro pudesse ampliar o esforço fiscal em 2010, e não por razão estratégica de investimento.
Segundo fonte familiarizada com a política do banco, essa atitude agressiva da BNDESPar é lucrativa para o BNDES: a subsidiária responde por 22% dos ativos do banco, mas por 55% do lucro.
A carteira de investimentos da empresa, considerando as participações societárias, debêntures e fundos, apresenta concentração nos setores de petróleo e gás (36,5%), mineração (21,2%), energia elétrica (11,7%), alimentos (9,8%), telecomunicações (4,4%) e papel e celulose (4,3%).
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