quarta-feira, 20 de julho de 2011

BC totalmente subserviente ao mercado sobe juros a 12,5%.

É para isto que querem um BC autônomo do Executivo.

Para servir a Mr. Market e somente a ele!



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JURO DE 12,5%: BC APERTA A CORDA NO PESCOÇO DO PAÍS


O Brasil tem a moeda mais valorizada num conjunto de 58 economias importantes do planeta. Com base num índice de equilíbrio igual a 100, o Real encontra-se hoje num patamar de 158 em relação a uma cesta de moedas. O segundo posto no ranking, bem abaixo, é ocupado pelo yuan chinês, com índice de 116, conforme os cálculos do Banco Internacional de Compensações, informa o Valor. A liderança brasileira encontra explicação em outro recorde: o país tem a maior taxa de juro real do mundo, superior a 6%. O padrão mundial, desde a crise de 2007/2008, gira em torno de zero. Em busca de lucro fácil, especuladores de todos os mercados –inclusive os nativos-- tomam dinheiro a juro zero lá fora e despejam em títulos públicos aqui.  Em junho, em apenas 15 dias, conseguia-se com essa operação - carry trade -  um lucro equivalente ao obtido em 24 meses de aplicação em papéis do Tesouro americano. Irresistível.
Apesar de todas as medidas mitigatórias tomadas para conter esse tsunami, cerca de US$ 10 bi, entre fluxos comerciais e financeiros, ingressaram liquidamente na economia  na primeira quinzena de julho. Um colosso. A desindustrialização embutida nessa mecânica obedece a um roteiro já banalizado: o Real 'forte' barateia importações, desloca demanda e transfere empregos para fora do país. Nesta 4º feira o BC anunciou a subida de mais um degrau nesse patíbulo, elevando a Selic para 12,5%. Com uma novidade desconcertante, considerando-se os próprios termos da equação monetária: todos os índices de preços sinalizam desaceleração ou deflação. A elevação da taxa em 12 meses deve-se à substituição, na série acumulada, de períodos como o bimestre junho/julho de 2010, quando a variação foi zero ou negativa, pelas taxas atuais, positivas, mas declinantes. Inútil: o BC cumpre um roteiro blindado. É como se carrasco puxasse a corda apesar da suposta vítima do crime gritar da platéia: é inocente!
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BC não resiste às expectativas do 'mercado' e sobe juro pela 5ª vez


André Barrocal

BRASÍLIA – Pela quinta vez no governo Dilma Rousseff, o Banco Central (BC) decidiu aumentar o maior juro do planeta, por entender que há riscos para segurar a inflação dentro dos limites autoimpostos pelo governo. O Comitê de Política Monetária (Copom), que reúne a diretoria do BC, decidiu nesta quarta-feira (20/07), por unanimidade, subir a taxa de 12,25% para 12,50%. A decisão era esperada pelo chamado “mercado”, mas foi condenada por sindicatos e entidades empresariais ligadas ao setor produtivo. Em nota, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que a elevação do juro “agrada” e “beneficia” o sistema financeiro, afeta a melhoria da renda dos trabalhadores e impede o desenvolvimento do país. Também em notas oficiais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmaram que o aumento vai prejudicar o setor porque atrairá dólares de investidores estrangeiros ao Brasil, mantendo o real caro para quem quer exportar.

As duas entidades cobraram do governo medidas que compensem a perda de competitividade da indústria produzida pelo dólar barato. Pediram desoneração de impostos, algo que o ministério da Fazenda estuda fazer mexendo em tributo destinado à Previdência Social incidente sobre a folha de salário. A Fazenda pretende transferir a cobrança para o faturamento das empresas, a fim de ajudar aquelas que possuem muitos empregados e são as mais afetadas pelo dólar barato – seja nas exportações, seja contra importações.

Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que horas antes da decisão do BC havia divulgado um boletim trimestral com análises sobre os rumos da economia, não havia motivo para o Copom subir os juros. Os principais fatores inflacionários estão sob controle, exceto as expectativas do “mercado”, que são virtuais mas têm poder de influenciar o mundo real. Também horas antes da decisão do Copom, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula a inflação oficial do país, havia divulgado uma prévia do índice de julho, chamado de IPCA-15, que havia mostrado nova desaceleração dos preços. O índice foi de ,0,10%, e em junho tinha sido de 0,23%. O IPCA final de junho já havia sido o mais baixo em dez meses.

O “mercado”, no entanto, apostava em uma nova alta de juros, de 0,25 ponto percentual, porque já trava com o BC uma queda de braços sobre a inflação do ano que vem. O BC já disse publicamente que está trabalhando para que a meta de inflação do governo, de 4,5% ao ano, atinja o alvo em 2012. E, para o ano que vem, o “mercado” está prevendo, neste momento, que os preços vão subir 5,2%.

Apesar de ter sido a quinta vez que o juro sobe no governo Dilma, o BC produziu uma novidade ao final da reunião do Copom. A decisão é sempre comunicada numa nota curta – a explicação detalhada vem a público na quinta-feira da semana seguinte, quando a ata da reunião é divulgada. Desta vez, o breve comunicado foi mais lacônico do que de costume. Apenas uma frase: “Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic para 12,50%, sem viés”.

O laconismo, que não dá nenhuma pista sobre o que pensam os diretores do BC, já está sendo interpretado pelo “mercado” como um sinal de que o ciclo de cinco aumentos seguidos do juro pode ter chegado ao fim. Vários analistas do "mercado" fizeram tal avaliação depois da reunião, em entrevistas em emissoras de TV e portais da internet. Para eles, não haveria mudança na taxa na próxima reunião do Copom, dia 31 de agosto.

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Variáveis inflacionárias controlaram-se, menos previsão do 'mercado'


André Barrocal

BRASÍLIA – A atividade econômica está menos veloz, o mercado de trabalho segue aquecido mas em ritmo moderado, o avanço do crédito desacelerou, o preço dos alimentos e dos combustíveis parou de subir. Não por acaso, os últimos índices de inflação mostram perda de força. Por tudo isso, o Banco Central (BC) não teve motivo para elevar a taxa de juros na noite desta quarta-feira (20/07). Só um elemento justificou o conservadorismo. A visão do “mercado”, que ignora dados reais e mantém expectativas de inflação mais pessimistas. A avaliação é do economista Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele é responsável por um boletim trimestral do Ipea que analisa a conjuntura econômica cuja edição mais recente foi divulgada nesta quarta-feira, poucas horas antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Do ponto de vista das variáveis reais, não houve motivo para aumentar a taxa de juros”, afirmou Messenberg. “Só há um senão: o Banco Central não opera de forma completamente isolada do mercado financeiro, que consegue exercer força e pressão com suas expectativas. Esta é a única variável que não foi controlada ainda.” O “mercado” a que se refere o economista se expressa toda semana por meio de uma pesquisa feita pelo BC sobre juros e inflação com cerca de 100 instituições, a maioria ligada ao sistema financeiro. O levantamento divulgado segunda-feira (18/07) mostra que o “mercado” continua mantendo para o ano que vem uma previsão de inflação superior à meta que o BC diz perseguir.

O debate sobre a inflação de 2012 tornou-se importante desde que o BC avisou que não trabalharia para atingir a meta de 4,5% em 2011, mas só em 2012. Depois dessa decisão, o “mercado”, que antes projetava uma inflação até 4,5% no ano que vem, passou a prever mais – a última estimativa é de 5,2%. Para Messenberg, a inflação sob controle em 2011 mostra que o Banco Central acertou todos os diagnósticos feitos este ano sobre o controle da inflação, construiu credibilidade com isso e, agora, deveria “ir contra o mercado financeiro”. “Talvez seja hora de o Banco Central jogar mais duro. Poderia ter uma estratégia de mostrar mais auto-confiança. O BC acertou tudo até agora”, afirmou.

Segundo o economista, o mercado continua enfrentando o BC e produzindo prognósticos diferentes por vício e interesse. “O mercado se acostumou a uma administração de política monetária que está completamente obsoleta no mundo inteiro. A realidade mudou, o mundo se complicou, não existe mais só o instrumento da taxa de juros contra a inflação”, disse. “Mas quando a taxa se eleva, o mercado ganha dinheiro e quem sofre são outros atores.”

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