São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011 |
Wall Street e a praça Tahrir
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Vi, no voo de volta para São Paulo, o documentário "Inside Job", que conta a história da crise de 2008/09 e concorre ao Oscar de melhor documentário. Por mim, ganharia com um pé nas costas. É revoltante, dá náuseas. Não há "mocinhos" nessa história.
Revoltante é o comportamento dos agentes de mercado, com sua insolência, leviandade, irresponsabilidade, arrogância. Capazes até de roubar as próprias firmas para as quais trabalham, ao lançar como despesas de serviço gastos com cocaína e com prostitutas de luxo. É o mercado, enfim.
Dá náusea ver a omissão dos governantes, a promiscuidade com os negócios dessa gente. A começar de Ronald Reagan, com o qual se inicia o trabalho de desmanche da regulação que acaba, passados vários presidentes, montando o palco para os "senhores do universo" provocarem o colapso que custou ao mundo dois anos de crescimento zero (a economia mundial tem hoje o mesmo tamanho de 2008).O sistema financeiro instalou portas giratórias no governo. Funcionários saem da banca para o governo, nada fazem para controlar o sistema de que saíram e voltam a ele, ganhando fábulas.O documentário denuncia, com toda a razão, a "colonização" da academia pelos agentes de mercado. Professores de economia, das melhores grifes, têm empregos muito bem remunerados em conselhos e passam a produzir apenas a ideologia dos que lhes pagam, não a compilar informações e analisá-las de maneira tão objetiva quanto possível em se tratando de algo, a economia, que não é ciência exata.
Revoltante, por fim, é saber que nada mudou, depois da tentativa inicial de que a política governasse os mercados, e não o contrário.
Não vou viver para ver, mas, desse jeito, a menos que surja um estadista, Wall Street ainda será uma imensa praça Tahrir. Tomara.
Dá náusea ver a omissão dos governantes, a promiscuidade com os negócios dessa gente. A começar de Ronald Reagan, com o qual se inicia o trabalho de desmanche da regulação que acaba, passados vários presidentes, montando o palco para os "senhores do universo" provocarem o colapso que custou ao mundo dois anos de crescimento zero (a economia mundial tem hoje o mesmo tamanho de 2008).O sistema financeiro instalou portas giratórias no governo. Funcionários saem da banca para o governo, nada fazem para controlar o sistema de que saíram e voltam a ele, ganhando fábulas.O documentário denuncia, com toda a razão, a "colonização" da academia pelos agentes de mercado. Professores de economia, das melhores grifes, têm empregos muito bem remunerados em conselhos e passam a produzir apenas a ideologia dos que lhes pagam, não a compilar informações e analisá-las de maneira tão objetiva quanto possível em se tratando de algo, a economia, que não é ciência exata.
Revoltante, por fim, é saber que nada mudou, depois da tentativa inicial de que a política governasse os mercados, e não o contrário.
Não vou viver para ver, mas, desse jeito, a menos que surja um estadista, Wall Street ainda será uma imensa praça Tahrir. Tomara.
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Domingo, 23 de Janeiro de 2011
A história de um crime de 20 trilhões de dólares
Marco Aurélio Weissheimer
Como causar uma quebradeira de 20 trilhões de dólares, por meio de uma farra de negócios especulativos, e cobrar a conta de milhões de pobres mortais que não participaram da festa? O documentário Inside Job (“Trabalho interno”, em português) responde essa pergunta mostrando ocomportamento criminoso de agentes políticos e econômicos que conduziu à crise econômica mundial de 2008. Essa conduta criminosa provocou a perda do emprego e da moradia para milhões de pessoas.
Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight) e narrado por Matt Damon, o documentário conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Para repeti-la, provavelmente.
O documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.
Em No End in Sight, Ferguson faz uma análise sobre o governo de George W, Bush e sua conduta em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente (e seguem prejudicando) a vida de milhões de pessoas. Agende-se: a estreia do documentário no Brasil está prevista para o dia 18 de fevereiro.
“Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção” – diz uma das frases promocionais do documentário. Uma revolta necessária, pois, neste exato momento, muitos dos agentes causadores da crise (do roubo, seria melhor dizer) voltaram a dar “conselhos” para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.
Os arautos das privatizações e da desregulamentação seguem soltos como se nada tivesse ocorrido. Inside Job mostra as entranhas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira. São estes criminosos, no frigir dos ovos, que seguem dando as cartas no planeta. Preparem o estômago, abram os olhos e ouvidos e não deixem de ver esse filme.
A história de um crime de 20 trilhões de dólares
Marco Aurélio Weissheimer
Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight) e narrado por Matt Damon, o documentário conta um pouco da história que Wall Street e seus agentes pelo mundo querem que seja esquecida o mais rápido possível. Para repeti-la, provavelmente.
O documentário resultou de uma extensa pesquisa e de uma série de entrevistas com políticos e jornalistas, revelando relações corrosivas e promíscuas entre autoridades, agentes reguladores e a Academia.
Em No End in Sight, Ferguson faz uma análise sobre o governo de George W, Bush e sua conduta em relação à Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram seriamente (e seguem prejudicando) a vida de milhões de pessoas. Agende-se: a estreia do documentário no Brasil está prevista para o dia 18 de fevereiro.
“Se você não ficar revoltado ao final do filme, você não estava prestando atenção” – diz uma das frases promocionais do documentário. Uma revolta necessária, pois, neste exato momento, muitos dos agentes causadores da crise (do roubo, seria melhor dizer) voltaram a dar “conselhos” para governos e sociedades. Algumas das mais novas vítimas são gregos, irlandeses, espanhóis, portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do FMI”.
Os arautos das privatizações e da desregulamentação seguem soltos como se nada tivesse ocorrido. Inside Job mostra as entranhas deste mundo de cobiça, cinismo e mentira. São estes criminosos, no frigir dos ovos, que seguem dando as cartas no planeta. Preparem o estômago, abram os olhos e ouvidos e não deixem de ver esse filme.
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