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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Israel semeia tempestade
São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
INTELIGÊNCIA/ROGER COHEN
Saindo da postura defensiva
LONDRES
Houve uma palavra que não ouvi durante as duas semanas passadas na praça Tahrir, no Cairo, e nas redondezas: Israel.
Temas diversos, desde os direitos das mulheres até o Estado de direito, surgiam regularmente, mas o Estado judaico não fazia parte da pauta de ninguém.
É boa notícia para o Oriente Médio o fato de árabes estarem focando o mau governo de árabes por parte de árabes. A primavera árabe é o acontecimento global mais importante e mais auspicioso em duas décadas. A maneira mais estúpida de desviá-la de seu rumo seria iniciar outra guerra radicalizadora na região, quer fosse entre Israel e um país vizinho ou entre o Ocidente e o Irã.
A melhor maneira de reforçar a campanha por sociedades árabes democráticas que acabem com a humilhação rotineira de seus cidadãos - e os ímpetos extremistas que essa humilhação gera - seria um avanço entre Israel e a Palestina que está para ser.
Salam Fayyad, primeiro-ministro da Autoridade Palestina, me disse: "Honre a transformação, resolvendo este conflito! O que de mais importante poderíamos fazer para validar esse renascimento e despertar do que trazer a estabilidade da paz?"
Lamentavelmente, não detecto muito pensamento ou motivação novos por parte do lado israelense. O premiê Binyamin Netanyahu está mais ocupado em lançar avisos sobre novos Irãs que vão surgir das revoluções árabes do que em saudar a ampliação do clube democrático no Oriente Médio, que até agora tem sido minúsculo. Isso revela miopia e é um equívoco.
As outras palavras que eu não estava ouvindo no Egito ou em Túnis eram islamismo ou jihad. Os levantes que vêm acontecendo desde a Líbia até o Bahrein reivindicam liberdade e representação. São dirigidos contra déspotas envelhecidos com seus tigres de estimação, gente que, como Nero, tocava lira, enquanto suas populações jovens ardiam em chamas. Essas revoluções nada devem ao fanatismo religioso que acompanhou o nascimento da República Islâmica iraniana em 1979.
A mensagem radical do Irã tem se alimentado de três coisas: os dois pesos e duas medidas ocidentais que estão por trás do apoio dado pelos EUA a gente como Hosni Mubarak, o ex-presidente do Egito; a frustração presente entre as populações árabes subjugadas e o conflito israelo-palestino, uma ferida que nunca cicatriza. Uma resolução dos dois primeiros fatores agora tornou-se possível. O terceiro precisa ser encarado de frente.
É imperativo que Israel saia da posição defensiva que enxerga um radical islâmico em potencial em cada árabe que reivindica democracia. Israel precisa reconhecer as transformações que estão colocando a conquista de direitos, a não violência e a ascensão por mérito no topo de uma nova agenda árabe. Em nenhum lugar, isso é mais evidente que na rapidamente crescente Cisjordânia, onde instituições estão ganhando forma, investimentos vêm chegando, e os fundamentos de um Estado estão sendo construídos.
No entanto, Israel vem reagindo com desconfiança às ações de construção de um Estado realizadas por Fayyad, e a agressão é evidente na ampliação dos assentamentos e nas incursões militares em áreas controladas pelos palestinos.
Tudo isso transmite uma mensagem clara de Israel: preferimos humilhar vocês a coexistir pacificamente com vocês.
Ao mesmo tempo, a administração Obama tomou a medida curiosa de vetar uma resolução das Nações Unidas que empregava o discurso do próprio presidente Obama sobre a necessidade de parar com as construções nos assentamentos israelenses na Cisjordânia. Assessores de Obama disseram que a resolução não ajudava; os aliados dos EUA, entre os quais o Reino Unido e a França, votaram, corretamente, em favor dela. A única justificativa possível deste rumo americano seria uma promessa feita por Israel a Obama, nos bastidores, de um gesto equivalente em troca, sob a forma de uma concessão significativa aos palestinos.
Vou aguardar essa concessão com curiosidade e impaciência. Se os árabes tivessem esperado que todos os astros estivessem alinhados antes de agirem, eles jamais teriam se livrado de seus ditadores. Se Israel esperar até que todos os astros se alinhem - sim, as divisões entre Hamas e palestinos são problemas -, vai semear a tempestade, em lugar de aproveitar as oportunidades que a primavera árabe proporcionou.
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