domingo, 20 de fevereiro de 2011

O "crescimento estúpido"

Acredito que, mais do que uma reformas profundas, o sistema capitalista precisa é ser substituído. Já atendeu e cumpriu seu papel histórico de elevar as forças produtivas a níveis jamais imaginados. Mas, intrisicamente, é absolutamente incapaz de promover uma distribuição justa do que mostra-se capaz de produzir. O lucro é seu fim e o homem um mero instrumento a mais para alcançá-lo.

A riqueza que hoje se produz é mais que suficiente para se erradicar toda a miséria, bastaria que fosse distribuída com justiça.
Há que promover o nascimento de um novo sistema no qual o ser humano seja o fim e todo o restante instrumentos subordinados ao seu progresso.





São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA UMAIR HAQUE

Os EUA protegem uma indústria ultrapassada

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O capitalismo está em uma encruzilhada e precisa de reformas profundas para que possa sobreviver. É o que defende o economista norte-americano e colaborador da "Harvard Business Review" Umair Haque, 34, no recém-lançado livro "The New Capitalist Manifesto" (O Novo Manifesto Capitalista) - que ele próprio define como "um manual" para um futuro melhor.
Para Haque, as empresas que terão êxito no século 21 serão capitalistas construtivos - companhias que não causam danos à sociedade, não geram resíduos, desenvolvem produtos a partir da demanda dos consumidores e vendem itens de alta necessidade e baixo custo.
Nenhuma empresa alcançou esse status ainda, afirma, mas algumas já deram os primeiros passos.
Para Haque, a crise de 2008 foi apenas um exemplo do grande desequilíbrio do sistema. Segundo o economista, a absoluta maioria dos governos e empresas continua agarrada aos princípios da era industrial, buscando "extrair valor" - das pessoas, da natureza - em vez de "produzir valor".
Disso resulta um "crescimento estúpido" que, na sua visão, pode ser ilustrado pela recuperação do lucro das empresas nos EUA, apesar de o desemprego permanecer alto e a renda, estagnada.
Veja exemplos no quadro ao lado e confira a entrevista concedida por e-mail.

 
Folha - O senhor afirma que o capitalismo está numa encruzilhada. Há alguma relação com a crise de 2008?
Umair Haque
- A crise de 2008 foi grande e histórica, mas há uma crise subjacente mais profunda. O crescimento global tem desacelerado há décadas, sugerindo que o modelo da era industrial, fortemente dependente da agressão à natureza, ao futuro, à sociedade e às comunidades, está perdendo força.
O problema mais profundo é este: as instituições da era industrial subcontabilizaram os custos reais e supercontabilizaram os benefícios reais. É o que eu chamo de Grande Desequilíbrio - não um evento transitório, como a Grande Depressão, mas uma falha subjacente, fincada no coração do capitalismo, que limita sua capacidade de gerar prosperidade duradoura e compartilhada.

Por favor, explique o conceito "thick value" (valor espesso).
"Thin value" (valor magro) é o que as instituições da era industrial criam: valor que é insustentável e artificial. Hoje, por exemplo, Andy Haldane, diretor-executivo do banco central inglês, diz que os bancos criaram pouco ou nenhum valor real na última década, pois o custo para resgatá-los se igualou ou ultrapassou seus lucros ao longo da década.
"Thick value" (valor grossso), em contraste, é o valor que é sustentável e significativo. É o valor real, ganho por meio de benefícios que perduram e se multiplicam. Criá-lo, é claro, não é fácil - é o grande desafio desta década e, talvez, do século.

Qual é o papel da internet na "criação de valor"?
A internet e as redes sociais tornam mais visível, de forma imediata, quando e onde o valor real está sendo criado e onde está apenas sendo extraído. Eles permitem que as pessoas se auto-organizem e se revoltem contra o valor extraído delas.
Quando vimos isso recentemente? No Egito, onde, depois de décadas de extração de valor, jovens marginalizados utilizaram o Facebook e o Twitter para fazer o impensável: em três semanas, derrubar uma ditadura férrea.
Os protestos no Egito começaram com um único homem na Tunísia, um vendedor de frutas tão desesperado que colocou fogo em si mesmo. Parece que hoje uma única voz pode ser amplificada para o berro de milhões de pessoas, que podem mudar o mundo. É um nova ameaça - e uma grande ameaça.

Existem empresas totalmente construtivas hoje?
A maioria das empresas radicalmente inovadoras está apenas dando os primeiros passos para o capitalismo construtivo. Hoje -numa época de estagnação- dar pequenos passos construtivos já é um ato perturbador.

Quão veloz é essa evolução?
Depende. Alguns países podem ser deixados para trás. Por exemplo, os EUA estão se contorcendo, pois protegem ferozmente as indústrias do passado. Alguns já estão avançando, como a Índia, que anunciou planos de incluir custos ambientais no cálculo do PIB, um movimento que remodela incentivos em toda a economia.

E as start-ups (empresas inovadoras, de forte expansão)?
O Vale do Silício não está produzindo muitas start-ups construtivas, mas start-ups que obedecem princípios da era industrial. Os investidores ainda pensam em termos de tecnologia, em vez de novas bases institucionais.

A economia americana está em recuperação?
Os EUA estão se recuperando só em termos de crescimento estúpido. Exemplo perfeito: o PIB está aumentando, e os lucros corporativos estão em níveis recordes, mas há um desemprego crônico, os salários estão estagnados. Em praticamente qualquer dimensão que importa para os seres humanos, a recuperação é uma ilusão.

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São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


Da prisão, Madoff diz que bancos "tinham de saber" das fraudes

DIANA B. HENRIQUES
DO "NEW YORK TIMES", EM BUTNER (CAROLINA DO NORTE)

Bernard Madoff disse que jamais imaginou que o colapso de seu esquema de pirâmide fraudulento causaria destruição do tamanho da que se abateu sobre sua família.
Mas, durante entrevista de duas horas em uma sala para visitantes da penitenciária de Butner, terça-feira, e em troca anterior de e-mail, ele disse que bancos e fundos de hedge, cujos nomes não quis citar, eram, de algum modo, "cúmplices" em sua complicada fraude, o que representa reversão de alegações anteriores de que ele era o único envolvido no esquema.
Mark Madoff, seu filho, matou-se em dezembro, e a família do financista enfrenta dezenas de processos judiciais e a perda da maior parte de seu patrimônio. Isso levou à perda de contato entre Madoff e sua mulher, Ruth, e os filhos do casal.
Madoff falou de modo intenso e fluente sobre suas transações com diversos bancos e fundos de hedge, apontando para a "cegueira deliberada" e a negligência quanto ao exame de discrepâncias entre as contas que sua empresa apresentava às autoridades regulatórias.
"Eles tinham de saber", disse Madoff. "Mas a atitude era mais ou menos a de, "se você está fazendo algo de errado, não queremos saber."
Embora tenha admitido, na entrevista, sua culpa e declarado que nada servia de desculpa para seus crimes, os comentários que fez foram concentrados de forma precisa em grandes investidores e instituições gigantescas com as quais negociava, e não no sofrimento financeiro que causou a milhares de seus investidores mais modestos.
Madoff disse ter ficado atônito quando foi informado sobre alguns dos e-mails e mensagens trocados entre banqueiros antes do colapso do seu esquema, mencionando dúvidas sobre seus resultados. Essas informações estão emergindo agora em processos judiciais.
Ele não disse que algum banco ou fundo de hedge específico tenha sabido ou sido cúmplice de sua fraude, que durou quase 16 anos e consumiu US$ 20 bilhões em capital perdido e mais US$ 65 bilhões em patrimônio hipotético inexistente. Em vez disso, ele se referiu à inércia dos bancos no que tange a conduzir o exame normal das transações financeiras.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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