segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Petrobrás batiza nome de titanossauro

São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Petrobrás vira nome de titanossauro na Argentina

Universidade de Zaragoza

Pesquisadores escavam ossos do dinossauro em Puesto Hernández, na Patagônia argentina

 
RICARDO MIOTODE SÃO PAULO

Sinal dos tempos: hoje em dia até dinossauro tem "naming rights" -o termo que se usa quando uma empresa coloca o seu nome em um estádio de futebol ou em uma sala de cinema, por exemplo.
O caso de merchandising paleontológico mais recente é o de um titanossauro argentino herbívoro e quadrúpede com 85 milhões de anos de idade, 22 metros e até 35 toneladas que ganhou o nome da Petrobras, descoberto por pesquisadores de lá.
Casos parecidos aconteceram recentemente com outras empresas do ramo da Petrobrás. O dino Futalognkosaurus dukei, de 2007, por exemplo, tem esse nome por causa da Duke Energy. O Panamericansaurus, do ano passado, refere-se à Pan American Energy.
A homenagem dos hermanos não é, claro, só um gesto de camaradagem latino-americana: a Petrobras, que hoje tem vários poços pelo país, dá suporte logístico (como alojamento e alimentação) a paleontólogos do país que tentam encontrar fósseis perto das perfurações.
Segundo Leonardo Filippi, paleontólogo do Museo Municipal Argentino Urquiza e autor do artigo científico, não é bem, então, que a Petrobrás tenha "comprado" o nome do bicho. Nas palavras dele, é um "reconhecimento da colaboração constante" da empresa brasileira.
Petrobrasaurus puestohernandezi
-o segundo nome por causa de Puesto Hernández, na Patagônia, local onde o animal foi achado.
"De um tempo para cá, dar a empresas e instituições que financiam pesquisas o animais recém-descobertos tem se tornado muito comum. Nos EUA, é prática. A National Geographic, por exemplo, é bastante lembrada", diz Mario Cozzuol, paleontólogo da Universidade Federal de Minas Gerais.
Espécies grandes e chamativas como dinossauros, claro, são consideradas mais valiosas. Quem não é uma gigante do setor petrolífero, porém, pode se contentar em nomear espécies de menor destaque -e há um vasto mercado de nomenclatura científica se consolidando.
Uma ONG europeia chamada Biopat se especializou em intermediar a venda de nomes de espécies recém-descobertas. Qualquer um pode colocar o nome que quiser em um bicho ou planta, basta pagar. É caro: eternizar o seu nome em um beija-flor, por exemplo, chega a custar mais de R$ 20 mil reais.
O problema é que empresas e pessoas só querem mesmo nomear espécies carismáticas como beija-flores ou orquídeas -mesmo que o pessoal da Biopat faça um bom desconto, ninguém se interessa por uma coitada de uma baratinha, digamos.
O fato de ninguém querer dar nome para insetos é tão sério que a empresa achou estranho quando um cliente alemão quis pagar para isso. Entrou em contato com ele e descobriu que o nome que ele queria colocar no bicho era... bom, era o da sua sogra.
O caso da sogra-inseto chegou a ser assunto nas páginas da normalmente sisuda revista acadêmica "Science" em março de 2005, em um texto que desejava justamente chamar a atenção para a grave desigualdade que a preferência por bichos e plantas fofas estava criando.
Tinha-se receio que os milhares de dólares estimulando a descoberta de espécies bonitas acabassem minando a busca por espécies na ala desprezada que natureza -vamos lá, não é porque os bichos são feios que não tem o seu valor científico.
No Brasil, esse capitalismo todo ainda não chegou à nomeação de espécies.
Homenagens são mais comuns. Foi assim que o jornalista José Hamilton Ribeiro, por votação na internet, passou a nomear um antúrio-mirim, planta ornamental de nome científico Aceae anthurium hamiltoni, encontrada em uma reserva da Vale no Espírito Santo.

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