terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cadela é excepcional farejadora de câncer

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São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2011 

Cadela é excepcional farejadora de câncer

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Marine gosta tanto de correr atrás de bolinhas de tênis que se tornou uma "médica" brilhante só para brincar mais com elas.
Tudo bem que, no canil onde vive, no Japão, ela não chega a ser um Gregory House, aquele personagem de série de TV que, com meia dúzia de sintomas, descobre doenças raríssimas nos pacientes. Mas, na doença em que Marine se especializou, câncer de intestino, seus diagnósticos estão certos em mais de 95% dos casos.
A exemplo de House, Marine, uma labrador preta de oito anos, também não gosta muito de ver os pacientes: a cadela se concentra nas suas amostras de fezes. Fareja por um instante e, quando sabe que o sujeito está com a doença, senta-se em frente à amostra. Se ele estiver saudável, segue andando.
Marine deixou os cientistas japoneses da Universidade Kyushu muito intrigados. Eles não fazem ideia de qual é o composto químico que Marine identifica nas fezes (e também em sacos plásticos com o ar expirado pelos doentes, descobriu-se).
Cientistas suecos até conseguiram relacionar moléculas à base de carbono com câncer de ovário (leia abaixo), mas o grupo japonês não está muito esperançoso sobre o câncer de intestino. Nas palavras do médico Hideto Sonoda, "eu tenho alguns palpites, mas é difícil descobrir. Somente os cachorros sabem a resposta".
A equipe de Sonoda vinha acompanhando vários relatos, nos últimos anos, de colegas cientistas pelo mundo sobre a capacidade canina de farejar vários tipos de câncer (como no pulmão, mama e ovários), com uma boa taxa de acertos (um estudo de 2004 mostrava 41% de acertos com câncer de bexiga).
Começaram, então, a treinar Marine em 2005. Colocavam-na para cheirar amostras de fezes de pacientes com câncer no intestino e de voluntários saudáveis.Ensinaram que, se ela sentasse só quando cheirasse amostras de doentes, ganharia o direito de brincar correndo atrás de uma bolinha de tênis.
Marine, uma cachorra especialmente entusiasta da atividade de gandula, deixou-se subornar com facilidade pelas bolinhas, e passou a sentar rapidamente ao farejar amostras "doentes", ansiosa por brincar.
Os cientistas perceberam que ela tinha talento para a coisa. No começo de 2009, viram que ela já estava apresentando ótimos resultados. Acharam que era a hora de calcular seu nível de acerto.
Marine foi então apresentada a amostras (inéditas, para ela) de 48 voluntários com câncer no intestino e a 258 amostras de pessoas saudáveis. Errou em menos de 5% dos casos. Foi bem mesmo quando a doença ainda estava em estágio inicial, segundo artigo publicado agora na revista científica "Gut".
Pode parecer promissor, mas existem, porém, dificuldades para utilizar cães em hospitais para fazer diagnósticos. Primeiro, o treinamento canino leva quase tanto tempo quanto uma faculdade de medicina humana. Marine levou quatro anos até estar craque -e a "vida útil" de um cão é bem menor do que a de um médico.
Além disso, apesar de Marine, na sua modéstia de quem só quer correr atrás de bolas amarelas, não saber disso, ela é muito melhor do que a maioria dos cães. A capacidade de farejar varia de cão para cão. E, mesmo que o cachorro seja um bom farejador, nem todos se entusiasmam com o treinamento (ou com bolinhas) como Marine.

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São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010 
Cães não lambem seus donos por amor

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO 

Pode ser poético dizer que um cão encheu seu dono de beijos quando ele voltou de viagem, mas a realidade, estão descobrindo os cientistas, não é assim tão fofa.
Isso porque cachorros são extremamente sensíveis a cheiros e sabores -coisas tão importantes para eles quanto a comunicação verbal ou a visão para os humanos.
Assim, quando um dono volta da rua cheio de novos cheiros e gostos, seja da mão daquele colega de trabalho que foi cumprimentado ou da sujeira do banco de metrô em que sentou, ele está oferecendo ao seu cachorro um festival de sensações.
Se seu cão quer saber por onde você andou, isso significa, claro, que ele vê algo de especial em você. Mas eles gostam de cheirar e lamber mesmo desconhecidos.
"Saber do papel do odor para eles mudou minha forma de pensar sobre a maneira alegre com que minha cachorra cumprimentava um visitante, indo diretamente na região genital dele", diz Alexandra Horowitz, da Universidade Columbia (EUA).
O comportamento da cachorra de Horowitz, que está lançando no Brasil o livro "A cabeça do cachorro" (BestSeller), faz todo sentido, diz.
As regiões genitais, assim como a boca e os sovacos, produzem muitos odores -e logo ensinamos às crianças a importância de lavá-las bem. Estando a boca e os sovacos geralmente mais distantes do cachorro, não é difícil imaginar que área ele vai atacar.
"Não deixar que um cão cheire um visitante equivale, entre humanos, a vendar-se na hora de abrir a porta para um estranho", diz a cientista.
Para um cão, cada pessoa tem um cheiro inconfundível, o que faz com que eles nos identifiquem pelo odor. Humanos conseguem usar o nariz para saber, por exemplo, se alguém fumou, mas cachorros vão muito além.
Eles podem saber se você fez sexo, e até saber quem e quantas pessoas estavam junto. Ao se aproximar da sua boca, conseguem identificar o que você comeu.
Mais do que isso, cachorros sentem cheiro de medo.
"Gerações de crianças foram alertadas para nunca mostrar medo diante de um cão estranho", diz Horowitz.
Não era à toa. Quando assustados, suamos, e o odor do nosso corpo entrega o pavor. Além disso, a adrenalina é inodora para nós, mas não para bichos de faro aguçado.
O olfato dos animais é tão bom que os cientistas querem utilizá-los na medicina.

Um estudo treinou cães para reconhecer a urina de pacientes com câncer. Os cientistas se assustaram. Os cães aprenderam a "diagnosticar" a doença: só erraram 14 vezes em 1.272 tentativas.
Não se sabe direito quais substâncias eles aprenderam a reconhecer, mas alguns cientistas propõem "cães doutores" -pelos estudos feitos, eles acertam mais que muitos doutores humanos.

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