domingo, 30 de outubro de 2016

O último encontro de Jackeline Kennedy e Marilyn Monroe antes do suicídio


O último encontro de Jackeline Kennedy e Marilyn Monroe antes do suicídio



Por Sebastião Geraldo Nunes



Jackie sorveu um gole de vinho e repuxou a saia até mostrar metade da coxa.

            – Não sou menos sexy do que você, sou? – perguntou a primeira-dama com um sorriso cínico e ambíguo e sacana.

            – Não – respondeu a atriz famosa com toda a seriedade. – Você não é menos sexy do que eu. – Com um movimento displicente, levantou a saia para exibir também metade da coxa.

            – Talvez na cama? – insinuou Jackie.

            – Talvez na fama – respondeu Norman Jeane.

            As duas se olharam quase amigavelmente. Norma Jeane provou um pouco de uísque puro, estalando a língua. Jackie fez de conta que não ouviu.

PAPO DE RANDEVU

            Jackie tinha 45 anos naquela tarde de 1962. Norma Jeane tinha 36. Não eram íntimas nem inimigas, apenas partilhavam o mesmo homem. Com outras, é claro, e nenhuma das duas se importava com isso. Não eram frívolas nem pequeno-burguesas.

            – Às vezes me pergunto o que ele quer – confidenciou a primeira-dama. – Muitas vezes acho que seria melhor montar um harém aqui na Casa Branca.

            – Assim não teria graça – respondeu a atriz famosa. – Conheci tantos homens que sou capaz de adivinhar o que pensam.

            – E o que é que Jack pensa?

            – Pensa que quanto mais variedade, melhor. E quando mais secreto, melhor.

            – Só isso?

            – Não. Ele precisa de sexo como precisa de comida. Variedade e quantidade.

            As duas brindaram, uma com vinho, a outra com uísque. Jackie era sofisticada e preferia vinhos franceses e californianos. Norma Jeane era rústica e gostava de bebidas fortes como bourbon e rye.

A BATALHA DAS CALCINHAS

            Quem primeiro mostrou a calcinha foi Jackie.

            Ao se recostar na poltrona, depois de depositar o cálice na mesinha de centro, a primeira-dama abriu lentamente as pernas, deixando que Norma Jeane visse sua calcinha de seda preta rendada nas bordas.

            Norma Jeane era uma adversária de peso. Sem largar o copo, a atriz famosa inclinou-se para trás e abriu descaradamente as pernas. Sua calcinha era vermelha, de um vermelho vivo como seus lábios.

            – Creio que nossos gostos não são exatamente iguais – disse Jackie. – Pelo menos em termos de cor. E talvez de homens.

            – Também acho que não – concordou Norman Jeane. – Você gosta de preto, eu de vermelho. Você gosta de um homem só, eu de muitos.

            – Quem disse que eu gosto de um homem só? – indagou cuidadosamente a primeira-dama. – Onde você se informou? No FBI?

            – Apenas imaginei – respondeu a atriz famosa com uma ponta de ironia. – Minha especialidade não são mulheres, mas homens. Pensei que você e Jack fossem um desses casais caretas e monógamos. De sua parte, é claro.

A BATALHA DA LINGUAGEM

            – Ah, você conhece a palavra monogamia? – perguntou a primeira-dama, erguendo as sobrancelhas. – Pensei que atrizes tivessem vocabulário limitado e só falassem de sexo, comida e, naturalmente, dólares.

            – Você não está com ciúme, está? – perguntou por sua vez a atriz famosa. – Ciúme não combina com uma primeira-dama, ainda mais com a mulher de Jack.

            – Não, não estou com ciúme. Só me espantei um pouco. Desculpe.

            – Somos quase amigas, não somos? – perguntou um pouco ansiosa a atriz famosa. – Longe de mim ofendê-la. Já basta furtar um pedaço do marido.

            – Sim, basta furtar um pedaço do marido – respondeu a primeira-dama. – Se eu fosse me preocupar com quem Jack transa, não teria me casado com ele.

            – A vida de atriz é mais fácil – disse Norma Jeane pensativa. – Mesmo porque todo estúdio é um puteiro e todo homem num estúdio é gay ou tarado.

            – Igualzinho por aqui – respondeu Jackie, baixando a voz. – Se você visse o que se passa nos banquetes e coquetéis oficiais ficaria de queixo caído.
          
DERRUBANDO O NÍVEL

            – Creio que o universo do cinema é pior – disse a atriz famosa. – Hollywood é o maior puteiro do mundo, já disse alguém. Festa de estúdio sem suruba não é festa. Sem cocaína não tem graça. Sexo é só uma mercadoria de troca.

            – Em política é a mesma coisa – disse a primeira-dama. – Gente fraca não tem a mínima chance.

            Fizeram uma pausa. Beberam mais um pouco.

            – Vou me matar esta noite – disse calmamente a atriz famosa.

            Jackie olhou para dentro do cálice. Enomancia é a velha arte da adivinhação pela cor e pela textura do vinho. Jackie era enomante. Norma Jeane sabia que Jackie era enomante. As duas se encararam. Mas nenhuma delas disse nada.

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