quinta-feira, 19 de maio de 2011

A indignação nas ruas da Espanha e do mundo

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19/05/2011

A INDIGNAÇÃO NAS RUAS


Por Mauro Santayana


Os protestos populares na Espanha não diferem, em sua essência, dos que ocorreram e ocorrem nos países árabes. Excluída a observação de que a Europa começa nos Pirineus, que tenta localizar historicamente a Península Ibérica na África, há mais do que a proximidade geográfica na semelhança entre os movimentos. Se, no caso dos países árabes, muitos dos manifestantes se insurgem contra o poder pessoal, na Espanha esse protesto se dirige contra o sistema como um todo.
No capitalismo neoliberal, dominado por banqueiros corruptos, políticos corruptos, intelectuais corrompidos, e alguns poderosos meios de comunicação, pouco importa o partido que se encontre no poder: a ordem de domínio e de exploração é a mesma.

A ocupação das ruas não é nova na história. A possível desordem nas manifestações populares nem sempre é má. Muitas vezes é a expressão da ira dos justos. O padre Francisco Lage, de Belo Horizonte, ao ser questionado por liderar manifestações populares, no início dos anos 60, costumava dizer que muitas vezes é preciso a desordem das ruas, para que se imponha a ordem nas consciências. Em uma dessas manifestações, em favor dos trabalhadores municipais havia meses sem receber, o padre montou um presépio humano na véspera do Natal, que se encenava, alternadamente, sob a marquise dos grandes bancos. Os banqueiros se reuniram e fizeram generoso empréstimo à Prefeitura, a fim de livrar-se da incômoda manifestação de fé.

Por mais os meios de comunicação finjam não perceber o que tais manifestações anunciam, o povo está começando a sair às ruas, e às ruas sairão, em todas as latitudes e longitudes, em busca de uma vida mais humana. As instituições estatais não podem continuar a serviço dos mais fortes, nessa promiscuidade escandalosa entre os que dominam o capital financeiro e os que ocupam os governos. Os grandes jornais norte-americanos não noticiam, como deveriam, os movimentos que, de forma discreta, por enquanto, começam a surgir naquele país, protestando contra a crescente e insuportável desigualdade social.

Ontem à noite, milhares de pessoas se reuniam na Porta do Sol, centro geográfico de Madri, convocados pelo movimento suprapartidário dos indignados, sob o lema de Democracia Real, Já. Não admitem que a crise econômica seja resolvida com o sacrifício dos trabalhadores, enquanto as corporações multinacionais, dominadas pelos grandes bancos – como algumas que nos exploram no Brasil – continuem beneficiadas pelo governo. Hoje, são os “socialistas” que se empenham em favorecer o capitalismo neoliberal, como ontem foram os conservadores, dentro do sistema eleitoral vigente – parlamentarista e de listas fechadas, registre-se. Como disse o comentarista Iñaki Gabilondo, de El Pais, os partidos devem deixar a sua postura narcisista e entender o que se passa na sociedade real da Espanha. Terão que se refundar, com seriedade e urgência.

Enganam-se os que se encontram no poder. Se, em toda a História, o poder foi situação precária, sujeita às intempéries sociais, em nossos dias sua fragilidade é maior. A força da internet tornou veloz a mobilização dos inconformados e a explosão dos indignados. Como bem comentou o jornalista Ramón Lobo, em seu blog acolhido por El País, “Madri não é Tahrir, mas o vírus é o mesmo: o fastio de uma juventude sem esperança – diante de um mercado minguante que se “moderniza” cortando direitos sociais e empregos – com o único horizonte de contratos imundos, de longa duração. Prevalece a voz oficial, a dos outros, a da linguagem burocratizada, a das entrevistas coletivas sem perguntas, a dos intocáveis”.
Frente aos superbilionários que, todos os anos, se reúnem em segredo, para dividir o mundo em novas colônias, a indignação das ruas é a legítima e necessária ação de defesa dos oprimidos. Em todas as latitudes.


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Segundo noticiou o El Mundo, às duas da madrugada, permaneciam na Puerta del Sol, em Madrid, mais de 2000 pessoas. Foto de EPA/Pablo Talamanca

Milhares de manifestantes ocupam o centro de Madri


Esquerda.net/PCWorld Espanha

Mais de 10 mil pessoas, de várias idades, responderam terça-feira a um apelo feito em redes sociais e concentraram-se na Puerta del Sol, em Madrid, em protesto contra a crise econômica e as políticas anti-sociais implementadas pelo governo espanhol. Segundo o jornal El Mundo, às duas da madrugada, mais de 2000 pessoas permaneciam no local. O objetivo é manter este acampamento improvisado até 22 de maio, dia das eleições autônomas e municipais.

Segundo noticiou o El Pais, foi estabelecida uma rede de voluntários de forma a apoiar os manifestantes. Foram criadas cinco comissões: alimentação, comunicação, infra-estrutura e actividades, e aconselhamento jurídico.

Mais de 300 polícias cercaram a Praça e controlam as ruas adjacentes.

Em Granada, três pessoas foram detidas após a polícia ter dispersado os manifestantes que se preparavam para pernoitar no Paseo del Sálon. Os detidos são acusados de “resistência à autoridade”, acusação que negam. Durante a noite de hoje, os manifestantes voltarão a concentrar-se em Granada, na Plaza del Carmen. Para Sevilha está marcada uma concentração de duração indefinida a partir de quinta-feira.

No domingo, 18 pessoas foram presas durante os protestos convocados para mais de 50 cidades espanholas. Na segunda-feira, a polícia espanhola prendeu mais um manifestante que se preparava para acampar na Puerta del Sol, em Madrid. Cinco pessoas, menores de idade, continuam detidas, segundo divulga o El Pais.

Os representantes da Plataforma Democracia Real ya!, que convocou os protestos do domingo passado, dia 15 de Maio, afirmam que, neste momento, são os próprios cidadãos que organizam estas ações.

Redes sociais ajudam espanhois a protestar contra a crise

Por PC World - Espanha

As redes sociais têm ajudado a mobilizar milhares de pessoas em diversas cidades da Espanha, em um movimento conhecido inicialmente como “os indignados” e que recentemente ganhou o nome de "15M". O movimento tem invadido as ruas – e as redes sociais, sob hashtags como #democraciarealya e #nolesvotes.

Milhares de pessoas têm-se mobilizado por toda a Espanha para reivindicar mudanças, principalmente no nível político, em antecipação às eleições regionais e locais marcadas para domingo (22/5). A praça Puerta Del Sol, em Madri, tornou-se o marco zero para este protesto específico, e as redes sociais (lideradas pelo Twitter) mobilizam centenas de cidadãos em vários tipos de protestos e manifestações.

Como ocorreu em outros países, centenas de espanhóis têm tomado as ruas em protesto contra a situação política, econômica e social existente no país. Sem um líder claro, este grupo difuso e indefinido tem sido formado por milhares de pessoas para protestar contra os políticos e pedir mudanças.

Lei Sinde
O movimento formou-se em torno da oposição à chamada Lei Sinde, que vai regulamentar os downloads de Internet na Espanha. A oposição das pessoas a essa regulamentação gerou a hashtag #nolesvotes, que convocava os cidadãos a não votar em partidos políticos que apoiam esta iniciativa: PSOE (no governo), PP (principal partido da oposição) e CiU (o partido catalão). Enrique Dans, professor do Instituto de Empresa e forte defensor do movimento, explicou a filosofia da iniciativa em seu blog.

Esta iniciativa, aliada à crise econômica espanhola (que já levou o Fundo Monetário Internacional e outros órgãos a advertir sobre uma “geração perdida”), e o impacto de manifestações semelhantes em outros países e nas redes sociais têm dado origem aos protestos nas cidades espanholas.

A plataforma DemocraciaRealYa (http://democraciarealya.es) convocou para uma manifestação em várias cidades em 15 de maio. Em Madri, a reunião levou a confrontos com a polícia, levou o grupo às primeiras páginas dos jornais locais e culminou com a decisão de algumas dezenas de pessoas de acampar na praça Puerta del Sol como forma de protesto.

A DemocraciaRealYa afirma ser um movimento que é “apartidário, forjado no calor da Internet e das redes sociais e que tem como único propósito promover uma discussão aberta entre aqueles que desejam se envolver na preparação e na coordenação de ações conjuntas.”

Na noite de segunda-feira (16/5), a polícia tentou desmontar o acampamento que os “indignados” montaram na praça Puerta del Sol. O YouTube está repleto de vídeos da ação policial e os usuários das redes sociais têm expressado sua oposição em relação ao que tem ocorrido.

Desde então, centenas de hashtags apareceram nas mensagens do Twitter, incluindo #spanishrevolution, #acampadasol, #yeswecamp e #nonosvamos.

Embora Madri esteja atraindo a maior parte da atenção, os acampamentos de protesto têm sido organizados em outras cidades na Espanha. Muitos deles são retratados em blog.
(Arantxa Herranz)

As informações são do portal Esquerda.net e do PCWorld/Espanha.

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