terça-feira, 17 de maio de 2011

Caso Abdelmassih - O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher vai calar?

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Jornal OTEMPO, 17/05/2011

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher vai calar?

Fátima Oliveira*

O que pensa sobre Roger Abdelmassih o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM)? Como cidadã, quero saber. O CNDM vai ou não exigir do governo as medidas cabíveis para proteger mulheres e homens nos processos de fertilização in vitro (FIV) e as crianças nascidas por tais meios? Ou o CNDM age agora ou feche a suas portas para sempre.

O "rei da paternidade" fugiu. Mas quem era que achava que alguém, pelo que a mídia relata, desprovido de escrúpulos de qualquer ordem, configurando uma personalidade sociopata, condenado a quase 300 anos de cadeia, ia esperar ser preso tomando uma fresca, numa cadeira de balanço?

De mamando a caducando, todo mundo sabia o resumo e o final da ópera. Deve estar agora com sua consorte palitando os dentes à beira do Mediterrâneo, arrotando caviar. Por que permitiram que fugisse?

O fugitivo é matéria de capa da última revista "Época" (16.5.2011): "Exclusivo: A clínica do horror", com algumas chamadas que falam por si: "Pais descobriram que os bebês concebidos com a ajuda do fugitivo Roger Abdelmassih não eram seus filhos biológicos"; "O casal que recebeu R$ 600 mil para ficar em silêncio"; e "Um cientista que frequentava o laboratório denuncia manipulação genética...".

A matéria extrapola o que a imaginação é capaz de supor. Fiquei atônita, enojada, nauseada e... vomitei. Sou autora de um livro sobre o tema: "O Estado da Arte da Reprodução Humana Assistida em 2002 e Clonagem e Manipulação Genética Humana: Mitos, Realidade, Perspectivas e Delírios", publicado pelo Ministério da Justiça e pelo CNDM em 2002, uma demonstração de que o tema àquela época preocupava o órgão e sua presidente, Solange Bentes Jurema. Depois de 2002, o CNDM nunca mais se interessou, pelo menos publicamente, pelo assunto.

Chegou a hora. A hora é agora! Não é de hoje que várias feministas escrevem sobre as angústias que nos causam as clínicas de reprodução humana no Brasil, discurso que não ecoa junto às autoridades nem mobiliza o CNDM!

Em "As novas tecnologias reprodutivas conceptivas a serviço da materialização de desejos sexistas, racistas e eugênicos?", citei o fugitivo: "Só para ilustrar, ouçamos o dr. Roger Abdelmassih, em entrevista à revista Domingo, do JB ("O rei da paternidade", 30.6.1996), sobre a rigorosa seleção de óvulos para que resultem em bebês belos. Quando indagado se existe algum tipo de seleção dos óvulos doados, Abdelmassih disse: "A seleção é feita entre óvulos doados por nossas pacientes. Por ano, são feitos aqui na clínica 600 ciclos de fertilizações, ou seja, 600 mulheres recebem embriões. A média é de 50 por mês. Nesse universo de pacientes, metade é de mulheres com menos de 30 anos. Dessas, 60% a 70% concordam em doar seus óvulos. A seleção é feita a partir desse universo. O estudo é feito não só a partir do fenótipo (conjunto de características da pessoa). Tenho de achar mulheres de fenótipo bonito".

Como resposta à pergunta por que os óvulos das mulheres feias não são escolhidos, explicou: "Não é assim. Tenho que olhar as características de quem vai receber. Não sou nenhum juiz de beleza, mas há mulheres extraordinariamente feias que têm direito a viver e reproduzir. Mas não vou pedir para serem doadoras. A receptora sempre pergunta como são os óvulos. Não vou exigir nenhum padrão de beleza internacional. As doadoras são mulheres normais e com características semelhantes às de quem vai receber o óvulo, para evitar que as crianças tenham características diferentes das dos pais"". Chega, não?

* Fátima Oliveira é médica e escritora. Feminista. Integra o Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR) e o Conselho Consultivo da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe (RSMLAC). Escreve uma coluna semanal no jornal O Tempo (BH, MG), desde 3 de abril de 2002. Uma das 52 brasileiras indicadas ao Nobel da Paz 2005, pelo projeto 1000 Mulheres para o Nobel da Paz 2005.

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