Quanto mais apanha da imprensa elitista, mais cresce perante a população.
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26/09/2011
Lula ri, enquanto a imprensa (privada) não o esquece jamais
Por Davis Sena Filho
Eu sou um jornalista que lê história. Sempre a li, desde jovem. Por ser um profissional de imprensa da área de Política, sempre me pautei em conhecer os políticos, não somente pelo o que eles dizem, apregoam, acreditam e discursam. Antes de qualquer coisa, vou saber de sua biografia, ou seja, investigar seu passado, suas origens políticas, ideológicas e partidárias, bem como sua coerência e obra social realizada quando esteve no poder.
Sempre tive esse procedimento. Coisa básica, por exemplo, como ouvir os dois lados envolvidos em quaisquer questões, além de ter cuidado com informações declaratórias, sem, antes, certificar-me da veracidade de quem passa informações, principalmente quando é em off. Porque para o jornalista falar ou escrever para o público a informação tem de ter pelo menos algum indício de verdade, ainda mais quando, como jornalistas, podemos servir de “escadas”, mesmo sem querer, para atender interesses espúrios que podem, indubitavelmente, prejudicar alguém. Do contrário, é melhor não escrever ou falar. Se o fizer, é porque tal jornalista tem algum interesse, nem que seja simplesmente assegurar o seu emprego e assim agradar o seu chefe ou o seu patrão.
Essas atitudes e ações comezinhas, ordinárias, comuns, que qualquer aluno ou foca (jornalista em início de carreira) sabe por meio de qualquer professor de faculdade ou de um colega mais experiente não são realmente observadas e cumpridas por um grande número de jornalistas famosos e veteranos, mas que firmaram compromisso com o patronato, bem como querem garantir que as mudanças sociais e econômicas no ocorram, porque seus papéis, de fato, é favorecer a manutenção do status quo, do establishment, pois que são porta-vozes das elites econômicas e financeiras inquilinas do pico da pirâmide social.
E foi neste contexto perverso que o presidente trabalhista, Luiz Inácio Lula da Silva, ascendeu ao poder em 2003, quando, por oito anos, administrou a República Federativa do Brasil e amargou uma oposição promovida e levada a cabo pela imprensa burguesa, comercial e privada, que se transformou em um verdadeiro partido político — o Partido da Imprensa, que realizou no decorrer de seu mandato a mais ardilosa, veemente, traiçoeira, feroz e desrespeitosa campanha que eu já vi contra um político, de perfil trabalhista e ideologicamente socialista, saído das entranhas do povo brasileiro, dos movimentos sociais, dos sindicatos e da Igreja Católica progressista.
Lula foi o presidente brasileiro mais politicamente orgânico da história do nosso País, mais ainda que o estadista gaúcho Getúlio Vargas, o fundador, sem sombra de dúvida, do Brasil moderno —industrializado. Como se percebe, os trabalhistas fazem jus ao nome, porque foram eles, no decorrer da história da República, que realmente trabalharam em prol do desenvolvimento e do crescimento do Brasil para que se transformasse em uma Nação moderna e civilizada. Os presidentes conservadores sempre tomaram do povo, e, quando possível, retiraram ou tentaram retirar seus direitos, inclusive os garantidos pela Constituição Cidadã de 1988, como o fez o neoliberal e vendilhão da Pátria, Fernando Henrique Cardoso, e assessores de sua confiança, como o também neoliberal José Serra.
Contudo, a campanha insidiosa e sistemática contra o presidente Lula não foi o suficiente para derrubá-lo apesar da tentativa de golpe em 2005. Apesar das perfídias e das manipulações e até mesmo mentiras veiculadas e publicadas pela imprensa comercial e privada, o político pernambucano de origem pobre e operário de fábrica do ABCD paulista saiu da Presidência da República (apesar de oito anos no poder, o que não é fácil) com o espetacular índice de aprovação de 82%, a superar, nada mais e nada menos, que o mito Nelson Mandela, quando deixou a Presidência da África do Sul.
Lula é um fenômeno político, e, conseqüentemente, social. O operário, que saiu de Pernambuco e chegou a São Paulo em um pau-de-arara fundou a maior confederação de trabalhadores da América Latina e uma das maiores do mundo, a Central Única dos Trabalhadores, a CUT, além de também ser o fundador de um dos partidos mais poderosos e influentes do planeta, que é o Partido dos Trabalhadores, o PT. Somente essas duas criações bastariam para que esse político exímio e de uma visão social e política profundamente conhecedora das questões sociais e econômicas brasileiras ficasse para sempre na história. Mas não foram somente esses dois fatos importantíssimos que aconteceram.
Lula foi eleito presidente da República duas vezes e elegeu sua sucessora, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, que nunca teve cargo eletivo e mesmo assim conquistou a cadeira da Presidência da República para se tornar a primeira mulher brasileira assumir cargo de tamanha importância e envergadura. Lula foi às ruas e às praças e também à televisão. Falou muito e mostrou seu legado, que, durante oito anos, foi boicotado e não veiculado pela imprensa burguesa, que, entretanto, teve de engolir a divulgação das ações do Governo Lula, porque a propaganda eleitoral gratuita se encarregou de mostrar os fatos, as realidades e as conquistas do País e do povo brasileiro.
Se dependesse das mídias hegemônicas e monopolistas, o presidente Lula sequer existiria, a não ser para ser ofendido e taxado até de bêbado. Acontece que o presidente trabalhista entrou e saiu da Presidência sem um arranhão no que concerne à sua conduta e ao respeito devido ao povo brasileiro. A verdade é que quem foram surpreendidos alcoolizados pela PM do Rio e se recusaram a fazer o teste do bafômetro foram dois dos protegidos da imprensa: o ex-governador e hoje senador do PSDB por Minas Gerais, Aécio Neves, e o ex-candidato a vice-presidente e deputado federal do DEM, Índio da Costa. A imprensa, para variar, recolheu seu porrete de moer reputações. Imagine, leitor, se fosse o Lula no lugar desses playboys? Teríamos manchetes impiedosas e escandalosas durante seis meses. Seria um cataclismo.
O preconceito de classe está enraizado na alma dos nossos barões, e bem guardado, a sete chaves, nos sótãos e porões da Casa Grande. Equivocada é a parte da classe média, coitada, que acredita nos valores e princípios de uma classe dominante de passado escravocrata e que desvaloriza a forma de ser do povo brasileiro, além de ser entreguista e aliada dos interesses dos países ricos, ao ponto de combater, incessantemente, os programas desenvolvimentistas dos governos trabalhistas brasileiros, que sempre chegaram ao poder por intermédio de eleições. Processo este que aconteceu, inclusive, com o grande presidente Getúlio Vargas, que venceu as eleições de 1950, sendo que, em 1930, o estadista ascendeu ao poder por meio de uma revolução — a Revolução de 1930 —, que não foi um golpe de estado tradicional e ilegítimo, uma quartelada, como o foi o golpe militar de 1964.
A ser assim, o baronato civil empresarial tupiniquim quando criticado por tal conduta, finge, cinicamente, que não teve nada a ver com tal movimento sórdido, que se aliou a estrangeiros (EUA) para trair o povo brasileiro e derrubar o grande presidente nacionalista e constitucional, João Goulart, eleito nas urnas, em 1961, vice-presidente do Brasil. Jango teve mais votos que o presidente eleito, Jânio Quadros, que abdicou do poder em agosto do mesmo ano. Naquele tempo, o candidato a vice-presidente era eleito. Para quem não sabe, Goulart também foi o vice de Juscelino Kubistschek, em 1955, e também teve mais votos que o presidente JK. Por causa da Constituição de 1946, os vices eram eleitos, ou seja, tinham a força e a credibilidade do voto. Apenas Getúlio, Juscelino e Jânio tiveram vices constitucionalmente eleitos, processo esse extinto com o golpe militar. No Brasil atual, o vice apenas integra uma chapa eleitoral. Por isso, e por causa disso, o golpe de 1964 é imperdoável. Como brasileiro e jornalista, jamais vou esquecer tamanha traição de brasileiros que se aliaram a estrangeiros para derrubar um líder político, trabalhista, eleito pelo povo. Não é possível confiar em uma classe dominante que tem orgulho de ser colonizada, subserviente e com imenso complexo de vira-lata.
Como se vê, João Goulart não era um político qualquer, como alguns historialistas e não historiadores querem mostrar no decorrer desses anos todos, a fim de desqualificá-lo como líder político e histórico trabalhista eleito pelo PTB. João Goulart foi ministro do Trabalho de Getúlio, fato este muito importante, porque mostra suas origens e o compromisso com os trabalhadores do Brasil, bem como dão transparência ideológica aos seus inimigos, aboletados nas Forças Armadas, nos setores empresariais industrial, rural e financeiro (bancos), além, é claro, da cumplicidade de segmentos conservadores da Igreja Católica e da classe média, que acredita em Papai Noel e que algum dia será rica, mesmo a não controlar os setores de produção e financeiro. A direita teve de derrubar Jango nem que pagasse o preço de se aliar à CIA e ao Departamento de Estado dos EUA, com a finalidade de preservar seus interesses e privilégios. Essa gente é subserviente desde sempre, a começar pela imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?). Depois aconteceu a traição e o golpe, que atrasou o desenvolvimento do Brasil durante décadas.
Todavia, voltemos ao assunto: Lula. Apesar de tudo, o tempo passou e o cidadão Luís Inácio Lula da Silva não é mais o presidente deste grande País que é o Brasil. Pesquisa do Instituto Análise ouviu duas mil pessoas entre os dias 5 e 11 deste mês, em cem cidades de todas as regiões do País. A pesquisa foi publicada na edição do dia 21 de setembro do jornal “Valor Econômico” e indica que o ex-presidente Lula é hoje mais popular do que quando saiu da Presidência, e olha que ele tinha 82% de aprovação, sendo que 14% consideraram seu governo regular quando estava no poder. “Regular” é aprovação. Então o índice sobe para 96%. Somente ínfimos 4% consideraram o Governo Lula ruim ou péssimo. Esses 4% representam, indubitavelmente, a imprensa privada e alguns setores ligados aos exportadores e aos bancos, além de, evidentemente, parte da classe média despolitizada e leitora da “Veja”, da “Época” e de jornais conservadores de má qualidade editorial e jornalística, como a “Folha de S. Paulo”, o “Estadão”, o “O Globo”, o “Correio Braziliense” e a “Zero Hora”, somente para ficar nesses, que são os mais ricos e que, inegavelmente, fazem oposição aos governos trabalhistas desde a época de Getúlio Vargas.
Conforme salientei em outros artigos, os barões da imprensa formam a classe empresarial mais atrasada o País. Eles ocuparam os lugares dos antigos cafeicultores paulistas que reagiram contra o fim da escravidão e combateram a efetivação da República. Eles são, realmente, muito atrasados. Chegam a ser toscos e tacanhos. Todavia, o ex-presidente Lula ‘está bem na fita’ no que diz respeito — volto a afirmar — à pesquisa que li no “Valor”. A maioria dos brasileiros (57%) preferiria que a presidenta trabalhista Dilma Rousseff não concorresse à reeleição. Apenas 29% dos entrevistados querem que Dilma Rousseff se candidate em 2014. A ser assim, percebe-se o porquê de a imprensa privada continuar a bater em Lula, depois de quase noves meses deixar a Presidência. Eles têm pavor de que Lula volte a concorrer às eleições presidenciais e com isso ficar mais quatro anos, a partir de 2015, sem influenciar novamente no Poder Executivo. A luta pelo poder é incessante, duríssima e, invariavelmente, desonesta.
Colunistas como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, da Veja, Ricardo Noblat e Merval Pereira, de O Globo, somente para exemplificar esses, pois iguais a eles existem centenas, criticam diuturnamente e açodadamente e desrespeitosamente o político mais popular da história do Brasil e ainda reclamam que o Governo quer censurar, tolher a liberdade de expressão e de imprensa na maior cara-de-pau e desfaçatez. Acredito que até alguns leitores que visitam as colunas desses caras devem às vezes achar um exagero tanta falta de educação e de senso crítico, pois o que somente se lê é mau juízo de valor e arrogância e prepotência exacerbados.
A permanência da popularidade de Lula, como informa a pesquisa, incomoda muito os porta-vozes de nossas elites econômicas, que são os jornalões, tanto os das rádios como os das televisões e os impressos. Eles sabem disso, porque jornalistas compromissados politicamente e ideologicamente com seus patrões sabem que o ex-presidente Lula é praticamente imbatível em uma eleição, ao ponto de, no momento, superar nos índices de aprovação a presidenta Dilma Rousseff, que tem, na minha opinião, realizado um trabalho profícuo a serviço do povo brasileiro, ao dar continuidade ao programa do Governo Lula, que ela, inegavelmente, esteve à frente como ministra chefe da Casa Civil. Dilma é Lula e Lula é Dilma, apesar de a imprensa comercial e privada querer dar uma conotação de diferença entre ambos, ou seja, usar como estratégia a separação de um do outro, o que, venhamos e convenhamos, é um absurdo para não dizer infantil e ridículo. Como o é mesquinho a imprensa burguesa não atender ao pedido de Dilma Rousseff para ser chamada de presidenta e não presidente.
O problema todo é que Lula e Dilma são presidentes de governos desenvolvimentistas, o que leva a burguesia ficar irada, porque ela é monetarista até a medula, cujos “deuses” desse capital são os professores Eugênio Gudin e Roberto Campos, com espaço amplo para Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto, sendo que este último aparentemente mudou de lado e hoje é um dos maiores críticos do neoliberalismo e dos governos tucanos na esfera federal, bem como no âmbito estadual e municipal, no que tange aos tucanos que dominam o poder em São Paulo há 17 anos, com a cumplicidade total da grande imprensa paulista e também dos cariocas O Globo e TV Globo. Como fala sempre o jornalista Paulo Henrique Amorim, “os tucanos de São Paulo não passariam de Resende se não fosse o PIG”. E é isso mesmo.
A tendência é que o PSDB diminua e tenha sérias dificuldades para conquistar os executivos estaduais e principalmente a Presidência da República. É que eles não têm programa de governo. E o que tinha para vender, os tucanos venderam. Coitado do povo paulista que não sabe como vai estar o patrimônio público de São Paulo quando o PSDB, enfim, sair do poder. A privatização no estado mais poderoso da Federação foi ampla. E a imprensa, como sempre, nunca publica notícia que possa, ao menos, incomodar os políticos e o empresariado envolvidos com a alienação de bens públicos, no decorrer desses longos 17 anos. O tempo é o senhor da razão. O tempo vai mostrar o que aconteceu em terras paulistas.
Enquanto isso, a grande imprensa brasileira luta contra a volta de Lula. Ela prefere até a Dilma em vez do Lula, porque, neste caso, entra um componente enraizado em nossas elites: o preconceito de classe e a negação do trabalhismo. E Lula representa exatamente o que a imprensa comercial não quer: a continuidade das políticas desenvolvimentistas e trabalhistas colocadas em prática por Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek. É histórico e por isso o que eu afirmo é mais do que verdadeiro. Lula, mesmo fora do poder, de acordo com a pesquisa do Instituto Análise publicada no jornal “Valor Econômico”, tem ainda 82% de aprovação. Este fato significa que a população sente saudade do ex-presidente, porque sua relação com as pessoas é de afetividade e carisma, além do reconhecimento ao seu trabalho enquanto presidente da República. Somente Getúlio teve tanta empatia com o povo brasileiro. O que eu afirmo não é porque sinto simpatia por Lula. São realidades analisadas por mim, de forma sociológica e política.
A relação de Lula com o povo sobrepõe às questões importantes, mas meramente econômicas e financeiras. Milhões de cidadãos, trabalhadores brasileiros se enxergam em Lula, como se o ex-operário fosse a sua própria existência, bem como a virtude de ter vencido na vida e conquistado o respeito ou até mesmo o medo daqueles que também são seus patrões — a burguesia, as elites brasileiras. Lula se tornou o espelho que reflete o brasileiro comum e que almeja ter acesso a uma vida de melhor qualidade. Eu vi e percebi essa cumplicidade, que fez com que um retirante nordestino se tornasse presidente por duas vezes e ainda elegesse sua sucessora, mesmo a ter uma oposição muito rica e com apoio de um sistema midiático dos mais poderosos do mundo. Lula os derrotou e por isso se tornou ainda em vida um mito. É isso aí.
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