A qualidade do peixe que Mr. Market e seus serviçais vendem
CREPÚSCULO DOS PARTIDOS OU ESGOTAMENTO CONSERVADOR?
O PSDB contratou uma agência de publicidade, informa a Folha de hoje. O objetivo é reformatar a ‘marca' tucana diante da opinião pública. Sucessivamente derrotado três vezes na tentativa de voltar à Presidência da República, o PSDB entende que errou " na comunicação". A agência não trabalhou direito o produto. Ou, como quer Fernando Henrique Cardoso, não focou adequadamente o consumidor-alvo. "O partido precisa aprender a vender o peixe', diz o grão-tucano, sem piscar diante da palidez das guelras. A transfiguração da linguagem política em clichê empresarial tornou-se uma prática suprapartidária aqui e alhures, em consonância com a supremacia da lógica financeira sobre todas as dimensões da vida social. A finança comanda e pauta a democracia, em vez de ser contrastada e regulada por esta. Os partidos sancionam a transfiguração suicida. Dissolve-se o alicerce da participação social com descrédito consequente nas organizações políticas.
Em recente passagem pelo Brasil, o filósofo Stiván Mészáros comentou a derrocada do socialismo europeu, reduzido a um aplicativo da ortodoxia financeira, recorrendo à observação de Gore Vidal a propósito do sistema partidário norte-americano: "um sistema unipartidário com duas alas de direita". É nesse vazio de escolhas que avultam conclusões ligeiras, como a da recente pesquisa realizada pelo Datafolha/Box com 1.200 jovens brasileiros. Segunda a leitura feita pelo jornal, a enquete teria demonstrado que para 71% dos entrevistados, é possível fazer política usando a rede social da Internet sem os partidos. "Esse jovem pensa a política de forma menos hierárquica e mostra uma descrença em relações às instituições formais, como partidos ou governo", diz Gabriel Milanez, pesquisador da Box. "Ela(a juventude) salta instituições", reforçou Fernando Henrique Cardoso. Tudo muito coerente, sobretudo quando o raciocínio surfa na aparente evidencia dos fatos, como as mobilizações no Egito ou na Espanha.
A marcha batida do funeral partidário inscrita no raciocínio de profundidade equivalente a 140 toques tropeça porém em detalhes expressivos: a) na ditadura egípcia inexistiam organizações partidárias expressivas, razão pela qual a explosão popular desaguou na atual tutela militar; b) na Espanha, como disse Meszáros, campos indivisos unificam as agendas dos socialistas e dos mercados. No caso brasileiro, talvez fosse melhor inverter a pergunta: a sociedade se afastou dos partidos ou eles se afastaram das ruas? O PT, por exemplo. Agora sob a direção de Rui Falcão, tem a oportunidade de reverter o espectro da irrelevância com a qual a direita, na verdade, purga a saturação neoliberal. Um bom começo seria trazer os intelectuais de volta à vida da organização, rompendo a terceirização marqueteira para fazer das eleições municipais de 2012 uma virada nas formas de debater e construir um programa para a cidadania.
O PSDB contratou uma agência de publicidade, informa a Folha de hoje. O objetivo é reformatar a ‘marca' tucana diante da opinião pública. Sucessivamente derrotado três vezes na tentativa de voltar à Presidência da República, o PSDB entende que errou " na comunicação". A agência não trabalhou direito o produto. Ou, como quer Fernando Henrique Cardoso, não focou adequadamente o consumidor-alvo. "O partido precisa aprender a vender o peixe', diz o grão-tucano, sem piscar diante da palidez das guelras. A transfiguração da linguagem política em clichê empresarial tornou-se uma prática suprapartidária aqui e alhures, em consonância com a supremacia da lógica financeira sobre todas as dimensões da vida social. A finança comanda e pauta a democracia, em vez de ser contrastada e regulada por esta. Os partidos sancionam a transfiguração suicida. Dissolve-se o alicerce da participação social com descrédito consequente nas organizações políticas.
Em recente passagem pelo Brasil, o filósofo Stiván Mészáros comentou a derrocada do socialismo europeu, reduzido a um aplicativo da ortodoxia financeira, recorrendo à observação de Gore Vidal a propósito do sistema partidário norte-americano: "um sistema unipartidário com duas alas de direita". É nesse vazio de escolhas que avultam conclusões ligeiras, como a da recente pesquisa realizada pelo Datafolha/Box com 1.200 jovens brasileiros. Segunda a leitura feita pelo jornal, a enquete teria demonstrado que para 71% dos entrevistados, é possível fazer política usando a rede social da Internet sem os partidos. "Esse jovem pensa a política de forma menos hierárquica e mostra uma descrença em relações às instituições formais, como partidos ou governo", diz Gabriel Milanez, pesquisador da Box. "Ela(a juventude) salta instituições", reforçou Fernando Henrique Cardoso. Tudo muito coerente, sobretudo quando o raciocínio surfa na aparente evidencia dos fatos, como as mobilizações no Egito ou na Espanha.
A marcha batida do funeral partidário inscrita no raciocínio de profundidade equivalente a 140 toques tropeça porém em detalhes expressivos: a) na ditadura egípcia inexistiam organizações partidárias expressivas, razão pela qual a explosão popular desaguou na atual tutela militar; b) na Espanha, como disse Meszáros, campos indivisos unificam as agendas dos socialistas e dos mercados. No caso brasileiro, talvez fosse melhor inverter a pergunta: a sociedade se afastou dos partidos ou eles se afastaram das ruas? O PT, por exemplo. Agora sob a direção de Rui Falcão, tem a oportunidade de reverter o espectro da irrelevância com a qual a direita, na verdade, purga a saturação neoliberal. Um bom começo seria trazer os intelectuais de volta à vida da organização, rompendo a terceirização marqueteira para fazer das eleições municipais de 2012 uma virada nas formas de debater e construir um programa para a cidadania.
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São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011
PSDB monta núcleo de marketing para sanar comunicação "errática"
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
Depois de amargar três derrotas consecutivas em eleições presidenciais, a cúpula do PSDB decidiu criar um núcleo de marketing dentro do partido. A avaliação de dirigentes da sigla é que a comunicação foi feita de maneira "errática" nos últimos anos.
A iniciativa de institucionalizar a estratégia de propaganda vai aumentar a ingerência do comando do PSDB nas campanhas. Na última eleição presidencial, Luiz Gonzalez, marqueteiro do então candidato José Serra, foi criticado por caciques da sigla por não permitir que o núcleo político interferisse em sua estratégia de comunicação.
As diretrizes de trabalho e o formato da nova estrutura serão traçados com base em estudo encomendado à MCI, empresa de marketing estratégico comanda pelo cientista político Antonio Lavareda, um antigo colaborador do comando da legenda. A MCI deverá identificar mensagens associadas ao PSDB e os programas que são vinculados pelo eleitorado às gestões tucanas. Com o estudo de Lavareda em mãos -a expectativa é que a avaliação esteja pronta em 60 dias-, o PSDB iniciará a montagem da nova equipe de propaganda.
A intenção é, inicialmente, fazer com que esse núcleo de marketing promova um intercâmbio entre programas bem avaliados nos Estados governados pelo PSDB. Com isso, os tucanos pretendem unificar ações nos oito Estados que chefiam. O comando do partido acredita que essa seria uma das maneiras de uniformizar uma imagem para o eleitorado. Pesquisas de intenção de voto não estão previstas no estudo da MCI.
"Esse núcleo [de marketing] vai interagir com os governadores e com o comando do partido. Nós erramos na comunicação", admite o presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PE). A necessidade de definir uma estratégia de comunicação foi apontada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no artigo "O papel da oposição", que ficou famoso pelo trecho em que prega que os tucanos se voltem para as classes médias. No texto, o ex-presidente diz que a oposição errou ao permitir que o PT se apropriasse de conquistas da gestão tucana por não defender seu legado. Ele aponta a necessidade de unificar uma mensagem e diz que é preciso aprender a "vender o peixe".
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