São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011
EUA: o buraco é mais embaixo
VINICIUS TORRES FREIRE
A GRANDE RECESSÃO de 2008-10 foi a que mais dizimou empregos nos EUA desde a Segunda Guerra. O ritmo de criação de empregos na expansão econômica de 2003-2008 foi também o menor desde então.
Nessa perspectiva, os horríveis números do desemprego em maio ora parecem problema menor, ainda que ruins o bastante para reavivar a conversa sobre uma recaída na recessão. Talvez o mercado de trabalho nos EUA esteja avariado por crise de longo prazo, apenas disfarçada nos anos da Grande Bolha.
Na média do opinionismo econômico, diz-se que o número ruim de maio confirma apenas que está em curso uma recuperação econômica via "caminho suave". Arrumam-se argumentos para explicar porque a retomada murchou, decerto, mas só até o fim do ano: petróleo e comida caros, caos no Japão e calamidades norte-americanas como enchentes, tornados e inverno frio demais.
Sabe-se lá. No curto prazo, estaremos confusos, lidando com dados voláteis, como sempre. No longo prazo, o buraco é mais embaixo.
Em nove crises desde 1945, a recessão comeu em média 23,5% dos empregos criados no ciclo anterior de expansão econômica. A Grande Recessão (2008-10) ceifou todos os empregos e mais um pouco dos criados no ciclo de bonança (2003-08): 107%. Nos nove períodos de expansão econômica desde 1945, a taxa anual de criação de empregos foi em média de 3,5%. No ciclo de 2003-08, de 1,4%: a menor. Os dados são baseados em estudo publicado na "Monthly Labour Review" de abril, do Departamento do Trabalho.
Nos anos 1980, a duração média do desemprego era de 12 semanas; foi a 18 em meados dos 2000. Agora, está em quase 40 semanas. A desigualdade salarial aumenta faz quase 30 anos. O salário médio real de quem tem o segundo grau ou menos é agora menor do que em 1980.
A maior parte dos empregos do ciclo de 2003-08 apareceu nos setores de saúde, educação e, claro, habitação, o núcleo da bolha. Mas as fábricas empregam menos; os setores de ponta não compensam as perdas. O emprego "básico" migra para onde há "exércitos industriais de reserva" ou em estoque rural, para dar um nome antigo às sobras de mão de obra no mundo asiático.
Segundo dados divulgados em abril pelo Departamento do Comércio, nos anos 2000 as grandes multinacionais americanas criaram 2,4 milhões de empregos no exterior, mas cortaram outros 2,9 milhões nos EUA. Nos anos 1990, criaram 4,4 milhões de empregos nos EUA e 2,7 milhões alhures. Essas múltis empregam um quinto da força de trabalho norte-americana.
Nos anos da bolha, parte grande do aumento de consumo das famílias (uns 25%) veio do dinheiro de empréstimos em que a garantia eram casas de valor cada vez maior. Esse esquema quebrou. O preço das casas está em depressão profunda; as famílias, superendividadas, assim como o governo federal e os locais, que demitem aos montes.
O salário médio real estagnou desde 2008; menos gente trabalha. O estímulo fiscal (gasto público extra) acabou. O estímulo monetário ("impressão de dinheiro") acaba em junho. O resto do mundo crescerá menos neste ano, China inclusive. Parece haver um problema "estrutural" de emprego nos EUA. E a situação "conjuntural" não parece apontar saída para o atoleiro.
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EUA adicionam apenas 54 mil vagas em maio, e desemprego sobe para 9,1%
Valor Online e O GLOBO
"Os ganhos de emprego continuaram em serviços de negócios e profissional, cuidados com saúde e mineração. Os níveis de emprego em outras importantes indústrias do setor privado tiveram pequena alteração e o emprego no governo local seguiu em queda", observou o organismo em nota em sua página eletrônica.
Conforme o levantamento, serviços de negócios e profissional abriram 44 mil postos de trabalho em maio. No setor manufatureiro, houve corte de 5 mil vagas.
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