Folha.com,19/05/2011
Diretor dinamarquês Lars Von Trier é expulso de Cannes
MIKE COLLETT-WHITE
DA REUTERS, EM CANNES
O diretor dinamarquês Lars Von Trier foi expulso do Festival de Cannes nesta quinta-feira depois de comentários feitos durante uma coletiva de imprensa, aparentemente de brincadeira, em que declarava ser um nazista e um simpatizante de Hitler. DA REUTERS, EM CANNES
"O conselho dirigente do festival... lamenta profundamente que o evento tenha sido usado por Lars Von Trier para expressar comentários que são inaceitáveis, intoleráveis, e contrários aos ideais de humanidade e generosidade que presidem sobre a existência do festival", disse o festival em comunicado.
"O conselho dirigente condena esses comentários e declara Lars Von Trier como uma pessoa não bem-vinda no Festival de Cannes, com efeito imediato."
Eric Gaillard/Reuters | ||
O cineasta Lars Von Trier exibe tatuagem no Festival de Cannes |
Após declaração nazista, Cannes se desculpa por Von Trier
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O cineasta dinamarquês Lars von Trier causou um tremendo mal estar em Cannes ao declarar, durante entrevista coletiva sobre o filme "Melancholia", que descobriu, um dia, que era nazista. ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"Durante muito tempo, eu pensei que fosse judeu, e eu estava feliz com isso", afirmou. Mas então um dia eu encontrei [a cineasta judia] Susanne Bier e eu não fiquei muito feliz. E aí eu descobri que eu era, na verdade, nazista (...) Eu entendo Hitler, eu simpatizo um pouco com ele".
Poucas horas depois das declarações, o serviço de comunicação do Festival soltou um comunicado em que lamentava o ocorrido e dizia ter procurado Trier para explicar-se. O diretor teria então se desculpado e dito que se deixou levar por uma provocação.
A direção do festival afirmou, ainda, que esse tipo de manifestação não pode acontecer no teatro do Palais.
Lars von Trier deixa Kirsten Dunst constrangida durante coletiva
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"Melancholia", o novo filme do dinamarquês Lars von Trier, exibido hoje na competição do Festival de Cannes, pode ser resumido por seu título. ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O diretor de filmes como "O Anticristo" (2009), "Dogville" (2003) e "Os Idiotas" (1998) tentou, desta vez, capturar o sentido da melancolia, ou, tomando emprestada a expressão médica, da depressão.
O longa-metragem começa com a imagem de um planeta, chamado Melancholia, que está prestes a se encontrar com a Terra. Se houver um choque, o mundo acaba.
"Mas eu não acho que tenha feito um filme sobre o fim do mundo. Meu filme é sobre um estado mental", disse Trier, durante uma conferência de imprensa, nesta manhã. "Eu, no decorrer da minha vida, passei algumas vezes por estados de melancolia."
Yves Herman/Reuters | ||
Lars Von Trier e Kirsten Dunst durante coletiva de imprensa em Cannes nesta quarta-feira |
Ao lado do cineasta, durante a conversa com jornalistas do mundo todo, estavam as atrizes principais do filme: Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, que vivem duas irmãs.
Dunst, que tem olhos melancólicos mesmo quando sorri, foi a primeira a falar. E, a despeito de ter respondido a uma pergunta banal --"Como é trabalhar com Trier"--, corou ao olhar para a sala repleta.
Mais desconcertada ainda ela ficaria alguns minutos depois, quando o diretor, ao falar sobre os papeis femininos do filme, apontou para a atriz e disse: "Bem, e Kirsten sabe o que é ter depressão".
Ao se dar conta de que, talvez, tivesse cometido uma gafe, virou-se para ela e perguntou se podia falar disso.
Dunst apenas sorriu, e meneou a cabeça.
"A gente vê a tristeza no olhar dela", emendou o cineasta.
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