quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump cresce onde se quer o 'sonho americano' de volta

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Folha.com, 09/11/16



Apoio a Trump cresce onde se quer o 'sonho americano' de volta


ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE NOVA YORK



Há uma forma de detectar lugares mais propícios a apoiar o republicano Donald Trump: cheque o necrotério

A simpatia pelo presidenciável tende a crescer em regiões onde homens e mulheres brancos, de meia-idade e com níveis de educação mais baixos adoecem e morrem mais – caso do Kentucky, 90% branco, onde, em abril, só restavam 6.900 trabalhadores em minas de carvão, "o nível mais baixo desde 1898", segundo relatório estadual. 

A estatística mórbida vem de num estudo publicado em 2015 por Angus Deaton, vencedor do Nobel de Economia, e sua mulher, a também economista Anne Case

Segundo levantamento do casal, entre 1978 e 1998, a taxa de mortalidade para americanos brancos entre 45 e 54 anos caiu em média 2% por ano –dado compatível com o de outros seis países industrializados analisados (Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, Suíça e Austrália). 

A partir de 1998, algo mudou. A tendência se manteve nas outras nações, mas os EUA já não eram os mesmos: ali, a mortalidade entre brancos passou a crescer 0,5% ao ano. "Nenhum outro país rico viu reviravolta similar." 

É uma legião sem grandes perspectivas, que falha em acumular reservas para uma aposentadoria confortável. Suicídio e doenças ligadas a alcoolismo (caso da cirrose) e drogas (sobretudo adição a opiáceos como Vicodin) são populares nos atestados de óbito dessa fatia demográfica. 

Com seu discurso populista calcado na promessa de "fazer a América grandiosa de novo", Trump virou a boia de salvação desses americanos contra um sistema incapaz de lhes devolver o "american dream" (sonho americano). 

"Depois da desaceleração da produtividade no começo dos anos 1970, e com a expansão da desigualdade de renda, muitos 'baby-boomers' [nascidos logo após a Segunda Guerra] são os primeiros a perceber, na meia-idade, que sua vida não será melhor do que a de seus pais", escrevem os autores do estudo. 

Esse desalento virou terra fértil para o discurso extremista de Trump, visto como alguém disposto a proteger os "americanos reais" (como seu primogênito, Donald Jr., disse na véspera da eleição) das "invasões bárbaras" (imigrantes, terroristas) e de acordos comerciais que deslocam empregos para outros países. 

Essa frustração dá gás para a ascensão de discursos violentos, como o de um partidário de Trump que, na convenção republicana, em julho, defendeu que Hillary Clinton fosse "enforcada por traição", por usar um e-mail privado quando secretária de Estado. 

"Sempre fomos otimistas de que deixaríamos um futuro melhor para nossas crianças", diz John McLaughin, analista de pesquisas de opinião para republicanos. "Agora estamos preocupados que isso não seja mais possível."

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