Folha.com, 17/11/16
A substanciosa e seletiva contribuição
de Youssef para devastar o PT
Por Janio de Freitas
É um homem rico. Especialista em lidar com dinheiro alto, próprio e alheio, na obscuridade de canais secretos, é natural o seu silêncio sobre a dimensão da sua riqueza.
Os indícios são suficientes. E a verdade é que ninguém cuidou de identificá-la, em um pacto de interesses entre quem deveria fazê-lo e aquela espécie de Ali Babá que tem atuado, ao longo da vida, com muitas vezes mais do que os 40 da lenda de seus antepassados.
Esse homem rico teria muito o que contar, até para que o Brasil colaborasse com esforços de países mais sérios sobre a especialidade do nosso herói. Mais não disse nem lhe foi perguntado, no entanto, além da missão de um só alvo que seus inquiridores se deram. Ou receberam, de dentro ou de fora.
Por isso, dada por satisfeita a lenta curiosidade que se espichou por dois anos e oito meses, o homem rico volta hoje ao gozo da vida, que para isso lhe tem servido a riqueza.
Alberto Youssef, a rigor, não poderia voltar agora aos seus ambientes. Na grande bandalheira feita por meio do Banestado, do Paraná, cuja apuração e punição nunca chegou ao verdadeiro fim, Youssef recebeu o prêmio de uma delação privilegiada que, porém, significava o compromisso de não voltar ao crime. Ou perderia aquele e qualquer outro benefício futuro.
Delinquente desde a adolescência, Alberto Youssef logo voltaria ao tráfico, pelo menos de dinheiro. Preso outra vez, não poderia ver repetido o privilégio que já traíra. Mas recebeu-o do mesmo Sergio Moro.
Sua contribuição para devastar a Petrobras do pré-sal, o PT e Lula foi substanciosa, sem dúvida. À altura de um pacto. Todos os contribuintes para essa missão vão recebendo o seu prêmio de liberdade e reencontro da vida afortunada. Nenhum é de classe social/econômica desprivilegiada. O que torna ridícula a ideia propagada de que a operação que os incomodou traz ao Brasil a inovação de uma Justiça sem olhares diferenciados para as classes.
Ao contrário, são processos em que um artifício privilegia com a liberdade fácil os implicados da classe social/econômica imune ao que chama, para os de outras classes, de "rigores da lei". O crime não compensa para uns, mas continua compensando para outros.
Com Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS) o que se passa é a resposta à maior resistência de ambos às formas de coerção – nenhuma moralmente legítima – para entregarem o que faz jus ao prêmio. O mesmo que se passa com outros alheios a delações. O conceito de privilégio está arraigado também na concepção de moralidade judicial que conduz a "nova fase" do Brasil.
Procuradores dessa "operação" correram agora à Câmara, para pressionar o deputado gaúcho Onyx Lorenzoni a retirar, em um relatório seu, a extensão a juízes e procuradores da possibilidade de processo por crime de responsabilidade.
Contra a sua impunidade por abusos ("excessos de boa-fé", dizem) não aceitam nem as restrições que valem para os ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral da República.
Seria muito esperar que Lorenzoni se fizesse notado, não mais pela deseducação de chupar chimarrão em plenário, mas por não ceder à pressão para mais privilégios. E manter no projeto um equilíbrio de justiça. Como deputado do DEM, ele sabe quem faz as coisas compensarem ou não.
http://www.conversaafiada.com.
Conversa Afiada, 17/11/16
Por que o PT não vai pra cima do Moro?
Por Wanderley Guilherme dos Santos
Mas depois de se livrar de mais de 100 anos de cadeia, o reincidente Alberto Youssef vai cumprir o treino da tornozeleira por um tempo e depois voar como um passarinho, condição em que já se encontram Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Nestor Cerveró (se já não está livre é coisa pra breve), todos membros da verdadeira organização criminosa que vampirizou a Petrobrás, juntamente com dezenas de diretores de empreiteiras.
Estes continuam presos, mas o comando intelectual está solto (à exceção, ainda, de Renato Duque).
Quem soltou Youssef a primeira vez, quando houve a primeira delação premiada (com promessa de não reincidência), na investigação do Banestado, foi o mesmo Sergio Moro que o soltou agora, com outra delação premiada fundada em nova promessa de não reincidência. De lambuja, e pelo mesmo mecanismo, soltou a quadrilha praticamente toda.
Se a oposição soubesse agir, daria um pulo nos documentos da Lava Jato e comprovaria o ridículo número de políticos envolvidos no esquema, mantido pela oligarquia PP-PMDB em articulação com o bando coordenado pelo Youssef, comparado ao número de civis, empreiteiros, banqueiros, empresários em geral, com culpa provada e documentada, assim como estão documentados os processos contra a gangue da Petrobrás, e não é coisa de sítio e pedalinho de piscina, não.
Descobriria, ainda, que os citados Youssef e asseclas, mais os lugares-tenentes tipo Fernando Baiano e semelhantes, são os denunciados, culpados e sentenciados em mais de 60% de todos os processos de corrupção na Petrobrás, sempre juntos.
E juntos foram soltos pelo Juiz Sergio Moro, que acaba de repor em circulação o gangster Alberto Youssef.
Mas a oposição é como a direita brasileira: não valem o trabalho que dão.
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