domingo, 6 de novembro de 2016

A maior perda que o golpe impôs aos brasileiros


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DCM, 06/11/16


A maior perda que o golpe impôs aos brasileiros


 
Por Paulo Nogueira



A maior perda sofrida pelo Brasil com o golpe não está no campo econômico, social ou político — embora em todos estes campos os prejuízos sejam imensos.

Nenhuma perda no entanto se iguala a uma que não pode ser medida em números, ou algoritmos, ou qualquer coisa do gênero.

Trata-se da perda de pudor.

A plutocracia impôs ao Brasil uma carga devastadora de descaro, cinismo, hipocrisia. É como batessem sua carteira e ainda dissessem que estão fazendo um bem para você.

Vistas em retrospectiva, algumas cenas são particularmente memoráveis no pudor perdido.

Uma delas fica para a posteridade estudar: o comportamento de Teori Zavascki diante de Eduardo Cunha. Fazia tempo que Teori tinha todas as informações necessárias para afastar Cunha do comando de um processo de extrema importância para o país.

Mas ele se movimentou apenas depois que Cunha fez todo o trabalho sujo, com seus conhecidos métodos.

Por que a espera? A resposta é dolorida demais para que a aceitemos: porque Cunha já não tinha serventia.

Teori jamais foi questionado sobre os motivos, como se o caso fosse banal. Nenhum jornal fez sequer um mero editorial nem que fosse apenas para guardar as aparências.

É como um juiz que só se mexe depois que a cadeira elétrica foi acionada, mesmo tendo na gavetas provas incontestáveis da inocência do réu.

Outro episódio chocante no processo de perda de pudor se deu agora com as propinas milionárias de Serra. A mídia plutocrática barra o noticiário e todos fingem que nada há de errado com um chanceler em cuja conta — no exterior — foi depositado o equivalente a 34 milhões de reais em dinheiro de hoje.

O jornalista americano Glenn Greenwald anotou o seguinte no Twitter, ao retransmitir um texto em que O Globo trazia a lista de compras de supermercado de Dilma. “Agora entendemos por que os jornalistas do Globo não têm tempo para cobrir o caso Serra.(Cito de cabeça: podem ter sido outras as palavras, mas o sentido é exatamente aquele.)

Rir ou chorar da miséria humana, perguntaram-se grandes filósofos da Antiguidade. O consenso foi que era melhor rir.

Rir ou chorar da miséria humana e jornalística, podemos agora nos perguntar. Rir — mas como é difícil.
Em nada, no entanto, é tão clara a perda de pudor do que no caso Lula-Moro. Os papeis estão definidos como num roteiro de Hollywood.

Moro é o juiz e Lula o criminoso. Os fatos não apoiam esse script? Ora, danem-se os fatos, como escreveu Nelson Rodrigues.

Um país sem pudor não tem nada a que se agarrar no campo das virtudes. Nele vigora a lei do mais forte, e a plutocracia pode muito com suas moedas.

É o nosso caso, lamentavelmente. O golpe nos fez uma desprezível república de bananas.
Riamos — pelo menos quanto isso for permitido.


http://www.tijolaco.com.br/blog/quem-foi-foi-quem-nao-foi-nao-vai-mais/




Tijolaço, 06/11/16



Quem foi, foi; quem não foi não vai mais



​Por Fernando Brito



É curiosa a notícia da Folha de que  "importantes setores da economia iniciaram uma série de conversas com parlamentares para pressionar o Congresso a aprovar medidas capazes de limitar possíveis danos provocados pelo avanço da Lava Jato".

É de  supor que, para alguém do governo – incluídos aí os que estavam por lá e se bandearam ao golpe, como fez o próprio Presidente da República – receber “vantagens indevidas”, alguém, para dá-las, mais vantagens indevidas deu ainda.

Agora, depois da terra arrasada, estão preocupados que isso afete a economia nacional?
Desculpem, a economia nacional já foi para lugares impronunciáveis.

A economia nacional, bem-entendido, não as suas polpudas fortunas, aqui e lá fora.

Diz o jornal que os “pesos-pesados” temem que uma delação de Eduardo Cunha possa arrastar “com facilidade mais uns cinco setores da economia para dentro da Lava Jato”, até  agora focada nas empreiteiras.

Estranho, se vale o furor “moral” contra empreiteiras porque não valeria para bancos, corretoras de valores, grupos financeiros que, em matéria dano ao emprego, são muito menos importantes, mas em matéria de movimento financeiro são dezenas de vezes maiores?

Então essa nova “moralidade” vai fazer os acordos de leniência – proposição de Dilma e por ela transformada em lei – vão sair do seu leito de preservar as empresas, exclusivamente, para agora livrar de responsabilidades penais seus empresários?

Podem até livrá-los de responsabilidade indenizatórias por aquilo que não tenham pessoalmente embolsado, mas não das sanções penais, porque seria criar dois tipos de cidadãos: o que vai em cana se corromper e o que não vai em cana se corromper mas a empresa pagar uma multa.

O caixa dois sempre foi, para quase todos os partidos, uma realidade nas campanhas eleitorais. Mas o que se faz é pior, é criminalizar também as doações declaradas, porque seriam, na visão curitibana, apenas cobertura de recursos de propina.

Então vai se punir dinheiro declarado oficialmente e anistiar dinheiro não declarado, na suposição que, mesmo escondido assim, era lícito?

Está claro que o que se quer é mudar a regra do jogo: quem foi, foi; quem não foi, não vai mais.
A Câmara, não tenham dúvida, abrirá um flanco onde irão se enterrar as garras do Judiciário faminto de poder.

E o empresariado, que lucrou muito e sempre não entendeu que uma estrutura parasitária, que não produz, mas vive do que se produz, não hesita em matar o hospedeiro.

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