Blog do Santayana, 14/11/16
Aos gringos, o filé. Para a Petrobrás, o osso
Por Mauro Santayana
Entre os
aspectos mais perversos da atual retirada nacional, baseada filosófica e
administrativamente na diminuição do papel do Estado e das empresas estatais e
paraestatais como instrumentos de aumento da competitividade e do
desenvolvimento do Brasil em sua natural disputa com outros países do
mesmo porte territorial e demográfico, um
dos mais abjetos, pelo cinismo com que tem sido levado a cabo, é o que envolve
o acelerado e proposital
enfraquecimento, para não dizer descarado desmonte, da Petróleo Brasileiro
Sociedade Anônima.
A
desculpa é sempre a mesma.
Estariam,
a Petrobras e o país, quebrados, devido à atuação dos governos anteriores, embora a estatal estivesse, até há poucas
semanas, a caminho de zerar o déficit cambial acumulado nos últimos anos; suas
ações tenham se valorizado em mais de 170% neste ano, em processo iniciado
quando Dilma ainda se encontrava à frente da Presidência da República; esteja batendo sucessivos recordes de
produção, especialmente no pré-sal; e o Brasil quebrado de Lula seja o mesmo país em que o BNDES tem tão pouco
dinheiro que se prepara para "devolver" 100 bilhões de reais ao
Tesouro e a mesmíssima nação que pagou as dívidas com o FMI e que acumulou 370
bilhões de dólares em reservas internacionais, diminuindo, ao mesmo
tempo, a Dívida Pública Bruta e a Líquida nos últimos 13 anos.
O cinismo é tanto, que a turma
que alega que faltava transparência à direção anterior da empresa é a mesma
que, agora, pretende concentrar mais poder nas mãos de pequenos grupos para
decidir questões estratégicas, como o que vender, ou melhor, "doar"
dos ativos da empresa e a quem fazê-lo; a participação ou não da Petrobras como
operadora neste ou naquele poço do pré-sal; o uso ou não de peças e
equipamentos comprados ou encomendados no Brasil neste ou naquele projeto; e
até mesmo a fixação do preço da gasolina, a cada mês, "seguindo a
média dos preços internacionais" que levarão, se não houver transparência
e discussões públicas, abertas, à possibilidade da eventual ocorrência de
corrupção em altíssima escala, já que envolvem, qualquer um destes temas,
direta ou indiretamente, interesses que vão de multinacionais a fornecedores
estrangeiros de equipamentos a donos de postos de gasolina, em uma escala
que vai de bilhões de reais a dezenas de bilhões de dólares.
Nesse
processo, abandona-se a lógica, evitando que a Petrobras, que, durante anos,
subsidiou os consumidores brasileiros, quando a gasolina estava mais cara lá
fora, seja ressarcida por isso, agora, quando ela está mais barata.
Adiando a recuperação da maior
empresa nacional, o que é uma excelente desculpa para entregar, a toque de
caixa, e a preço de banana, seus mais importantes ativos, sem consulta à
sociedade brasileira, que é, em última instância, a dona do negócio.
Áreas de maior valor agregado e
de maior potencial de avanço da pesquisa tecnológica e científica, como a
petroquímica, o transporte e a distribuição gás e de combustíveis, estão sendo
entregues a concorrentes, deixando apenas o osso, ou a produção, para a
Petrobras,
dependendo do poço, quando isso for de interesse do "mercado",
representado pela associação que reúne, no Brasil, as petroleiras estrangeiras.
O que dá mais
dinheiro?
Um barril de petróleo bruto, em
um momento em que os preços se encontram historicamente deprimidos, ou um
barril de gasolina ou diesel, vendido diretamente ao consumidor, na bomba de
combustível?
A ganância, e a possibilidade de
lucro é tanta, que o anúncio demagógico da inútil
queda do preço da gasolina nas refinarias saiu como um tiro pela culatra,
aumentando os preços para o consumidor, em muitos estados, no lugar de
diminuí-los.
Ou alguém achou que os donos dos
postos iriam repassar o desconto para os clientes?
A contradição dos recém-chegados
é tanta que o seu discurso privatista e entreguista defende a superioridade e
proeminência da iniciativa privada sobre o Estado, mas os ativos da Petrobras estão sendo entregues a
estatais, leia-se, a estados estrangeiros, como a Noruega e a China,
porque no mundo real, e não no da
midiotização brasileira, são as empresas estatais, como as sauditas e as
chinesas, que dominam o mercado mundial do petróleo, e
são nações altamente estatizadas, como a China, que dominam a economia mundial e são os
maiores credores da Europa e dos Estados Unidos.
Enquanto
nossa maior empresa vai sendo desmontada, esquartejada, descaracterizada
estrategicamente, as mentiras sobre ela vão se acumulando, como um infinito
zigurate babilônico.
Cabe aos petroleiros processar a
Price Waterhouse & Coopers para que ela prove os alegados desvios de 6
bilhões de reais na companhia, que já deveriam ter sido reincorporados aos
novos balanços.
Ao
contrário do senso comum baseado em um discurso apressado e rasteiro, a gasolina no Brasil não está entre as mais
caras do mundo.
Há mais de 50 países em que ela
custa mais do que aqui, incluídos grandes produtores, como a própria Noruega, a quem estamos
entregando mega poços do pré-sal, quando poderíamos simplesmente estabelecer
alianças entre a Petrobras e estatais estrangeiras, mantendo o controle dos
poços e das reservas em nossas mãos, como deveria ter sido feito agora com a
Total francesa.
A verdade é que a Petrobras não está, nem esteve, nunca, quebrada da forma
que foi divulgada.
O seu endividamento decorreu não
de algumas dezenas de milhões de dólares efetivamente pagos por empreiteiras a
bandidos como Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró para que não atrapalhassem seus
negócios, mas da brutal queda do preço do petróleo que
a afetou e também outras companhias.
E de uma estratégia
deliberada de sabotagem da credibilidade da empresa, para derrubar o governo
anterior e levar as suas ações ao chão, para que grandes investidores
privilegiados, como George Soros, por exemplo, e acionistas estrangeiros que nunca acreditaram
em sua quebra e no catastrofismo fascista fizessem extraordinárias
fortunas, em poucos meses, como aconteceu este ano, enquanto otários tupiniquins pseudo conservadores e
midiotizados se desfaziam de suas ações, metendo o pau na empresa, nas redes
sociais, a cinco reais quando elas estão valendo hoje quase 20,00.
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