quinta-feira, 9 de junho de 2011

Preliminares do calote grego

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São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011


Preliminares do calote grego

VINICIUS TORRES FREIRE


O GOVERNO da Alemanha enfim disse oficialmente ao Banco Central Europeu, ao FMI e aos governos da eurolândia que os credores privados da Grécia devem dar uma mãozinha no novo pacote de empréstimos ao país, que, sem dinheiro novo, estará novamente quebrado em julho.
O governo alemão "sugere" que bancos e outros credores privados troquem seus títulos da dívida grega por outros de vencimento mais longo, sete anos (em quais condições?).
A dívida grega ficaria do mesmo tamanho, mas o problema seria empurrado com a barriga. A Grécia continuaria sangrando, arrochando salários e benefícios sociais, em recessão profunda (de 4% neste ano e estagnada em 2012, na visão otimista). A dívida seria ainda de mais ou menos 150% do PIB em 2013.
Em maio de 2010, foi aprovado um empréstimo de 110 bilhões para a Grécia, um terço da dívida. Não deu. Será necessário papagaio de outras dezenas de bilhões de euros. O país não cresce e os juros para empréstimos gregos continuam na estratosfera (quase o triplo dos brasileiros) - não tem como pagar.
O governo e os bancos gregos só não estão mesmo quebrados porque, além do pacote, o Banco Central Europeu (BCE) empresta-lhes dinheiro, direta ou indiretamente, em tese uma aberração.
O "sugere" entre aspas se deve ao fato de que, considerados apenas governos, a Alemanha banca a maior parte do "socorro" à Grécia. Não quer mais fazê-lo sem a mãozinha privada, pois o eleitor alemão está fulo de pagar a conta do superendividamento grego e, assim, dos empréstimos incompetentes da banca, que até agora não perdeu quase nada na história.
Mas mesmo essa tentativa terminal de evitar algum tipo de calote grego é problemática. Teme-se que a mudança de prazos seja considerada "calote" por agências de classificação de risco. Pode ser que as agências considerem a troca "voluntária" de títulos da dívida como uma "inadimplência restrita", algo menos dramático.
Funcionário do FMI em Atenas, Bob Traa disse, a respeito do "calote restrito", que não existe coisa tal como "um pouquinho grávido". Mas bancões europeus ontem começavam a achar razoável a solução "ligeiramente grávida" para os seus empréstimos. Vai-se um metatarso, ficam os anéis.
Um calote à vera, mesmo que "ordenado" (redução contratada do débito), transformaria em lixo puro os papéis da dívida grega.
Haveria pois prejuízos para o BCE e outros BCs da eurozona (que seriam cobertos por impostos). O calote detonaria cobranças de seguros financeiros (CDS) contra a inadimplência grega. Haveria prejuízos para bancos credores da Grécia, onde, ademais, os bancos quebrariam.
Haveria contágio (fuga de investidores e altas de juros) em Portugal, Irlanda, talvez Bélgica, Espanha e Itália. Para nem mencionar canais de contágio ora desconhecidos. Ou ruptura da zona do euro. Haveria no mínimo fuga de papéis de risco e grande confusão financeira no mundo -quão grande. Isso nos afeta.
Sem crescer e sem corte na dívida, a Grécia continuará vampirizada. Mas o novo pacote pode ganhar tempo. No mínimo para que outros países europeus quase quebrados aprofundem o arrocho a fim de tentar sair do buraco. Vampirizados.

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São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

ESPANHA

"Indignados" são presos durante um protesto por "democracia real"

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS - Cinco pessoas foram presas ontem em confronto entre manifestantes e a polícia, em Valencia (Espanha). Os detidos integravam grupo de "indignados" que protestavam nas portas do parlamento regional.
Eles fizeram "panelaço" e lançaram bombas de água e pedras nos policiais. Vários ficaram feridos, entre eles um deputado. A polícia interveio quando cerca de 300 ativistas cercaram congressistas, aos gritos de "corruptos". Foram acusados de desordem pública e atentado à autoridade. O movimento de protestos no país é chamado de 15M, em referência ao dia em que começou, 15 de maio, e pede "democracia real" e medidas anticrise econômica.

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