domingo, 5 de junho de 2011

Peru: Boca de urna diz que Ollanta Humala vence

E com a benção de nosso bom Deus!
 
              
                                   Martin Mejia/Associated Press
Ollanta Humala votou na manhã deste domingo em Lima; ex-militar obteve pequena vantagem nas últimas pesquisas


http://edition.cnn.com/video/#/video/spanish/2011/06/05/janiot.voto.2011.cnn


Da CNN en Español: "Patricia Janiot informa que encuestas a boca de urna indican que el candidato Ollanta Humala gana las elecciones (5 de junio)"

                                  

http://brodeschi.files.wordpress.com/2010/12/mapa_peru_051.jpg

Domingo, 05 de Junho de 2011

CINDIDO PELO NEOLIBERALISMO, PERU  BUSCA UM NOVO RUMO NAS URNAS

O Peru que foi às urnas neste domingo foi o país que registrou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do  seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%; em 2010, o Peru atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina. O presidente Alan García, no entanto, deixa o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26% - inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio  a uma hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque. A explicação para o paradoxo - que será julgado nas urnas hoje - é o modelo de crescimento adotado pelo país nos últimos anos: o Peru cresceu sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%).

Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das commodities nos últimos anos. Optou, porém, por um modelo de crescimento de recorte neoliberal extremado e tardio feito de  desregulação  máxima e direitos sociais mínimos. A riqueza gerada nessa engrenagem não circula na sociedade,  concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados. A ausência de carga fiscal sanciona e acentua  as polarizações daí decorrentes. A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latinoamericana e caribenha que já é desprezível e oscila em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia,  onde a rede de contrapesos sociais já está consolidada.
O governo Alan García poupou as mineradoras  peruanas de uma taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no atual ciclo de alta  das matérias-primas. O mercado naturalmente cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. A renda per capita depois do fastígio neoliberal é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como é o caso  do Uruguai (US$ 12.130), do Chile (US$ 11.587), Brasil (US$ 10.470) e México (US$ 9.243).
Mas a verdade é pior que isso. Não há estrutura de direitos trabalhistas: 2/3 da mão de obra peruana trabalha na informalidade; a população rural vegeta; uma professora ganha cerca de  R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que ao gerar riqueza amplifica a desigualdade - e racha a sociedade em termos econômicos e políticos -  que se expressa hoje nas urnas. O simbolismo do veredito  popular extrapola as fronteiras peruanas. 





O segundo turno no Peru: "de choripanes e chicharrones"


Martín Granovsky - Página/12

Ele diz é que há uma situação de empate técnico, ou seja, que as diferenças são menores que a margem de erro apontada nas pesquisas, de mais ou menos dois ou três por cento segundo o caso. Acrescentou que a maioria das pesquisas apontava a vitória deles. E, ao final, deu o alerta: “É preciso ser cuidadoso nesta hora, porque o eleitorado é muito volátil”. O autor das três frases, feitas na sexta-feira, não é um candidato às eleições portenhas de 10 de julho, mas sim o advogado Omar Chehade, o vice que acompanha Ollanta Humala na fórmula da frente “Gana Peru” que neste domingo disputa o segundo turno da eleição presidencial com Keiko Fujimori.

Do mesmo modo que na França, Brasil, Chile ou na cidade de Buenos Aires, o segundo turno peruano é clássico: vence quem obtiver 50% dos votos mais um. No primeiro turno, Humala conseguiu 31,6%, contra 20,6% de Fujimori. Outros oito candidatos ficaram fora da disputa, ainda que não seus eleitores, naturalmente. Diferentemente das últimas eleições importantes na região, as do Brasil, no Peru não houve uma terceira força nítida como o Partido Verde, de Marina Silva. Tampouco Humala com sua coalizão nacionalista e de centro-esquerda obteve os 46% que Dilma Rousseff conseguiu no primeiro turno. Por isso, Chehade se mostrou cuidadoso e mencionou a volatilidade.

O Peru não é a Argentina, nem a fumaça do torresmo (chicharrones) é idêntica a do choripan, mas na campanha se respirou um clima de época. O da região.

Os argentinos que, no último domingo à noite, quiseram ver o que ocorria mais além do Alto Peru e sintonizaram o debate entre Humala e Fujimori (a CNN em espanhol transmitiu-o na íntegra) devem ter prestado atenção numa promessa de Humala. O candidato da frente Grana Peru disse que aplicaria um imposto sobre lucros no setor mineiro. Ou seja, retenções.

Segundo a ONG Proposta Cidadã, os lucros das mineradoras em 2010 foi de 43% da produção total, mas o Estado ficou apenas com 13%. Proposta Cidadã diz que o Estado peruano fica com uma renda inferior àquela recolhida pelo Chile e Canadá. O Peru é rico em ouro, cobre e zinco. Atuam no país, entre outras empresas, a Southern e a Barrick, a mesma que opera em San Juan, na Argentina.

A Proposta Cidadã calculou que os lucros líquidos das principais companhias mineradoras em 2010 superaram os 9 bilhões de dólares. Em 2006, foram de 8,235 bilhões e, em 2007, 8,443 bilhões de dólares. Segundo Chehade, a criação de um fundo com um imposto sobre os lucros que surgem de oportunidades extraordinárias do mercado internacional, como vem ocorrendo nos últimos anos, poderia representar dois bilhões de dólares por ano que seriam destinados a programas sociais, educação ou infraestrutura.

Segundo Jorge Manco Zaconetti, da Universidade de San Marcos, a mineradora Yanacoha teve um lucro líquido de 390 milhões de dólares em 2004, com uma produção de 2,908 milhões de onças e um preço para a onça fixa de 409 dólares. Em 2010, com uma produção de 1,462 milhões de onças e uma cotação de 1225 a onça, a Yanacoha conseguiu um lucro líquido de 591 milhões de dólares. Ou seja, a metade da produção e um lucro maior.

O debate é se o melhor caminho é criar um imposto com características técnicas específicas ou simplesmente aumentar o imposto sobre os lucros das mineradoras para 40 ou 50%. Se Humala triunfar neste domingo e colocar seu plano em marcha, os argentinos poderiam explicar-lhe as diferenças entre retenções e impostos, por um lado, e retenções móveis por outro. Na política, os amigos estão aí para que o outro cometa erros novos e não erros velhos. Em parte, a boa intenção de voto atual de Cristina Fernández de Kirchner reside em uma relação com os setores agrários que manteve as retenções, mas deixou de lado o projeto de retenções móveis de 2008. E, por sua vez, um governo de Humala com uma nova política para o setor minerador será uma experiência útil para mudar o debate argentino sobre o setor. Já não seria mineração sim ou mineração não. A discussão passaria a ser “mineração como”: com que lucros por parte do Estado, com que normas de transparência social, com que níveis de controle e com que decisões sobre o cuidado com o meio ambiente.

Outro ponto do clima de época e região é que os grandes meios de comunicação atacaram Humala. O nível ultrapassou o limite tolerável inclusive para o Nobel Mario Vargas Llosa que acaba de renunciar a sua coluna no diário El Comercio, de Lima. O grupo é dominante no Peru, com veículos gráficos e televisivos. Para Vargas Llosa, El Comercio ficou como “os piores pasquins que vivem de sensacionalismo e escândalo” porque “silencia e manipula a informação, deforma os fatos, abre suas páginas às mentiras e calúnias que podem prejudicar o adversário, ao mesmo tempo em que, em todo o grupo de comunicação, jornalistas independentes são demitidos e intimidados”. Em abril, foram demitidos do Canal N os jornalistas Patricia Montero e José Jara, produtora geral e produtor de notícias, respectivamente.

A polarização chegou a tal ponto que, nos últimos meses, o economista Hernando de Soto chamou seu antigo amigo Vargas Llosa de “filho da puta” e este chamou De Soto de “partidário da ditadura fujimontesinista”. “Fuji” é por causa de Alberto Fujimori, que dissolveu o Congresso por meio de um auto-golpe em 1992. Hoje está preso pela prática de peculato e assassinatos. “Montesinista” é por conta de Vladimiro Montesinos, chefe da Inteligência e dos negócios sujos de Fujimori.

De Soto foi autor de um livro muito famoso, “El outro sendero”, de 1986, muito elogiado então por neoconservadores como Milton Friedman e pela primeira ministra britânica Margaret Thatcher. Tanto Friedman como o austríaco Friedrich von Hayek participaram dos primeiros simpósios do Instituto Liberdade e Democracia, criado em 1981, por De Soto. Hoje, Hernando de Soto, de 70 anos, é o principal assessor econômico de Keiko Fujimori. A candidata e ex-primeira dama (ela ocupou esse cargo por causa do divórcio de seus pais) acaba de se solidarizar com o jornal El Comercio na disputa com Vargas Llosa.

Tradução: Katarina Peixoto

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