São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011
"Os EUA abusaram do poder do monopólio da moeda"
JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO
Os EUA abusaram do poder de ser os emissores do dólar, que teve por muitas décadas o monopólio como moeda internacional de referência. Essa é a opinião do professor de política econômica da Universidade da Califórnia Benjamin Cohen.
Em entrevista à Folha, ele diz que, com excessivo deficit no balanço de pagamentos e ao passar de credor a maior devedor internacional, os EUA criaram instabilidade na economia mundial.
Benjamin Cohen - O yuan já começou a ter um papel internacional. Hoje, 8% do comércio chinês é feito na moeda. Há dois anos, era praticamente zero.
Já existe um mercado de títulos na moeda, como parte de estratégia do governo chinês de encorajar um papel internacional para o yuan.
A grande vantagem da China é o tamanho do seu comércio exterior, o que torna o uso da moeda no comércio tão natural. Mas o país tem um mercado financeiro subdesenvolvido e controle de capitais muito restritivos, o que torna difícil usar a moeda chinesa para investimentos ou como reserva.
Como uma moeda mantida sob controle pode se tornar referência mundial?
Isso nunca ocorreu. Todas as moedas internacionais até hoje são de mercados abertos. A China tenta ser a exceção.
O governo faz teste em Hong Kong, desenvolvendo lá um mercado de títulos em yuan, de uma forma que não ameace o controle de capitais. Uma questão é quão longe eles irão antes de serem forçados a abrir o mercado.
Quanto mais eles promoverem a moeda, mais difícil será preservar esse controle.
O governo terá que permitir a desvalorização do yuan?
Não. Se você vir o histórico de outras moedas, como a da Holanda no século 17, a libra no século 19 e o dólar no século 20, os valores dessas moedas subiram por décadas depois que começaram a ter um papel internacional, porque a demanda pela moeda cresce. Portanto, a China não será obrigada a desvalorizar.
A competição entre moedas é saudável para os países envolvidos?
Por quatro ou cinco décadas depois da Segunda Guerra, os EUA tiveram um monopólio no mercado monetário internacional.
O problema com monopólio é que leva a abusos. Os EUA abusaram claramente desse poder, ao crescer demais internacionalmente, ter excessivo deficit no balanço de pagamentos, passar de maior credor a maior devedor internacional. Isso tem sido uma fonte de instabilidade na economia mundial. Se o dólar tiver um ou dois concorrentes, vai impor uma certa disciplina aos EUA.
O real tem chances de ser uma moeda internacional?
Se a economia brasileira continuar a crescer dessa forma, não há por que o real não se tornar na América Latina o equivalente ao euro na Europa ou o yuan na Ásia.
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