quinta-feira, 16 de junho de 2011

Navegar é preciso: Os indignados e a nova época

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Jornal do Brasil, 16/06/2011

Os indignados e a nova época

Por Mauro Santayana

À insistência dos indignados espanhóis e catalães,  e à continuidade das manifestações das massas nos países árabes, somam-se agora protestos, ainda discretos, de trabalhadores chineses. As contradições do capitalismo – mesmo subordinado ao Estado –  começam a surgir no grande país, o maior fenômeno da sociedade industrial dos últimos tempos. Estamos diante de inevitável mudança.

Plutarco atribui a Pompeu Magno uma frase que, repetida por Ulysses Guimarães, foi emblemática no processo de transição política nacional: navigare necesse est, vivere non est necesse. A máxima do grande general escapou da circunstância, para se tornar forte símbolo da política. Ela nos incita a resistir. A vida, qualquer vida, é um processo de resistência, e mais ainda na política.

Segundo a versão, Pompeu que se encarregava de duas missões cruciais para Roma – a de limpar o Mediterrâneo dos piratas e, assim,  assegurar o suprimento de cereais à grande cidade – incitou os marinheiros que, no porto de Siracusa, na Sicília,  se recusavam a levantar velas, a embarcar e seguir. O céu estava carregado de nuvens sobre o estreito de Messina, a mais arriscada passagem marítima da Antiguidade. Obrigou-os a partir com a admoestação de que navegar era mais importante do que viver. Em Roma esperavam o trigo. Por isso, tinham que vencer o medo e as tempestades. Não há registro histórico de que aquelas naves tenham naufragado entre os rochedos e as correntes circulares do estreito. Chegaram, assim, ao porto de Óstia.

É forte a metáfora da navegação para explicar a vida e, especialmente a vida política. Governar é pilotar, manobrar o timão da nave, evitar os escolhos e as ondas perigosas, manter a disciplina no barco – enfim, chegar ao destino. Dessa forma devem proceder os indivíduos e as nações, embora as sociedades políticas sejam muito mais complicadas do que um barco, menor ou maior. É preciso buscar o equilíbrio entre a liberdade e a ordem, entre o Estado e a sociedade, entre a autoridade e o indivíduo. Trata-se de equilíbrio precário, com os pratos da balança oscilando a cada dia, em cada momento. Os sistemas de poder, mundiais e nacionais, costumam durar pouco, na História, que não aceita situações permanentes, embora isso não pareça aos contemporâneos de cada tempo.

As épocas saem umas das outras, como as bonecas russas. Não há rupturas absolutas. O Renascimento veio da Idade Média, como a Idade Média viera do Império Romano. O Iluminismo, a mais recente revolução histórica, não existiria sem o Renascimento, que lhe abriu as portas da percepção burguesa, para ficar na melhor interpretação marxista. Mas o Iluminismo está pedindo, agora, que de seu ventre venha  nova época. Como época, em grego, significa intervalo, pausa,  o Iluminismo – não obstante os processos internos de sua evolução -  foi momento de relativa calma na longa história do homem. Mas iniciou sua decadência no alvorecer do século 20. Pouco a pouco, esgotou-se a capacidade intelectual que o fizera surgir. Salvo nas ciências exatas, que assombram o mundo com o seu poder inovador, a capacidade revolucionária do Iluminismo parece esgotada com Marx. Depois dele, só tivemos os que  analisam o filósofo de Trier, seja para aceitá-lo, seja para repudiá-lo, mas não há pensamento novo que retorne à criatividade filosófica dos enciclopedistas e seus sucessores imediatos.  

Esse é o desafio de nosso tempo. Os confrontos entre a prosperidade e a preservação da natureza; entre a babel libertária que significa a internet, e as ortodoxias, políticas ou teológicas; entre o mercado destruidor, e o necessário arbítrio regulador do Estado, além de outros, exige  esforço de inteligência, do qual parecemos incapazes. Esse é o novo impasse histórico.

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Os 'indignados' retomaram no país a tradição da ágora

Costas Douzinas - Guardian

Quando o herói da resistência francesa e diplomata aposentado Stéphane Hassel apelou, em 2010, para que a indignação quanto à injustiça se transformasse em "insurreição pacífica", talvez não esperasse que o movimento dos aganaktismenoi ("indignados"), na Grécia, aceitasse o apelo tão rápido.
Era de esperar que houvesse resistência a medidas econômicas catastróficas. Ao longo da história, os gregos resistiram à ocupação estrangeira e à ditadura interna com determinação e sacrifício.
Os "indignados" atacaram o injusto processo neoliberal de empobrecimento dos trabalhadores gregos, a perda de soberania que fez do país um feudo de banqueiros e a destruição da democracia. Sua demanda é que as elites corruptas que governam há 30 anos "e conduziram a Grécia à beira do colapso" saiam.
Na praça Syntagma, em Atenas, os paralelos com a ágora clássica, localizada a algumas centenas de metros, são notáveis. Os aspirantes a orador recebem uma senha e são convocados ao palanque caso ela seja sorteada (na Atenas clássica, muitos ocupantes de cargos públicos eram selecionados por sorteio).
Não há questão acima de discussão. Nos debates semanais, economistas, advogados e filósofos políticos convidados apresentam ideias sobre como enfrentar a crise. A assembleia aberta em geral é conduzida sem apupos, e os tópicos variam de novas modalidades de resistência e solidariedade internacional a alternativas para as medidas catastroficamente injustas.
É a democracia em ação. Opiniões de desempregados e de acadêmicos têm tempo igual, são discutidas com o mesmo vigor e terminam submetidas a votação. Os indignados retomaram a praça e a transformaram em um espaço de interação pública.
Se a democracia é o poder do "demos" "ou seja, daqueles que não dispõem de qualificações específicas para governar", o que vemos é o que há de mais próximo da prática democrática na Europa.

COSTAS DOUZINAS é professor de direito na Universidade de Londres.



Greve geral contra austeridade paralisa a Grécia


Esquerda.Net
 
Os maiores sindicatos gregos iniciaram uma greve geral de 24 horas contra a austeridade, a terceira deste ano, enquanto o Governo se prepara para uma batalha legislativa para avançar com um novo plano de cortes, no valor de 28 bilhões de euros, e privatizações exigidos pela troika, em troca de mais “ajuda” externa, um pacote de empréstimo de 110 bilhões de euros.

Além da circulação de comboios e barcos, a greve também paralisou a imprensa (na rádio e na televisão há programas que não foram para o ar), os bancos, escolas, creches e as empresas estatais em vias de privatização.

Os hospitais públicos apenas atendem casos urgentes e o comércio em Atenas estará fechado durante três horas, até ao meio-dia. As exceções são as companhias aéreas e os aeroportos, que vão funcionar normalmente, uma vez que o sindicato dos controladores de tráfego aéreo cancelaram a sua participação na greve.

"Eles continuam a pedir-nos para darmos mais", disse Ilias Iliopoulos, o secretário-geral da ADEDY, sindicato dos funcionários públicos. "Agora eles vão, novamente, cortar os nossos salários a partir do pouco que nos resta."

Milhares tomam as ruas de Atenas em protesto
Milhares de gregos invadiram as ruas de Atenas, numa manifestação gigante que tenta impedir a aprovação de um novo plano de austeridade pelo Parlamento e que já provocou alguns feridos em confrontos com a polícia.

Durante a manhã, 150 mil “indignados” gregos reuniram-se na praça Syntagma, em Atenas, à frente do Parlamento. Acampados na praça há três semanas, os manifestantes tentaram formar uma cadeia humana e cercar o parlamento. Mas a polícia colocou 1500 agentes na rua e uma barreira de dezenas de veículos estacionados à frente da entrada do parlamento, erguendo barricadas de 2 metros para permitir o acesso aos deputados e impedir a multidão de se aproximar. Várias ruas em torno do parlamento foram fechadas à circulação e aos pedestres.

Vários manifestantes tentaram romper a barreira policial que circunda o Parlamento mas foram repelidos com gás lacrimogêneo pelos agentes das forças de segurança. Nos confrontos desta manhã, pelo menos 40 pessoas foram detidas.

Um balanço das autoridades de saúde aponta para três feridos ao início da tarde, mas os serviços de ambulância contabilizaram pelo menos sete. Este é um balanço bastante deficitário uma vez que os confrontos com a polícia mantém-se e mais pessoas vão chegando à Praça Syntagma, em Atenas.

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