Um clássico póstumo sobre a Cabanagem
Enviado por luisnassif, sex, 10/06/2011
O livro "A Miserável Revolução das Classes Infames", do historiador gaúcho Décio Freitas é um clássico da historiografia brasileira.
O livro foi lançado em 2005; Décio faleceu um ano antes. Figura simbólica da esquerda gaúcha, esteve exilado com Jango, foi procurador federal, articulista da Zero Hora e militou no Partido Comunista.
O livro é sobre a Cabanagem, a revolução das "classes infames" no Pará, provavelmente o mais sangrento episódio da America Latina no século 19. Foi uma revolta desorganizada, de inicio estimulada por clericos e por empresarios brasileiros, querendo derrubar o predomínio econômico português. Sem um modelo político como exemplo, como foi a Inconfidência Mineira e outras rebeliões que se espelhavam nos Estados Unidos, a partir de certo momento a Cabanagem tornou-se um caos, liderada por rapazes mal saídos da puberdade.
O extraordinário, no livro de Décio Freitas, foi o fato de ter se baseado na correspondência de um personagem fantástico, Jean-Jacques Berthier, um sujeito de tamanho descomunal que aos 14 anos fugiu da França, depois do esgotamento da revolução francesa, veio para Caiena, depois mudou-se para Belém do Pará de onde acompanhou, por décadas, uma parte quase desconhecida de um país que, após a Independência, debatia-se entre um federalismo dominado pelo sudeste e uma divisão similar à da America espanhola. Berthier representava os interesses comerciais de seu irmão, comerciante sediado em Nantes, França.
Além das novidades históricas, dos personagens que habitam o loca, de índios, mamelucos e negros a nobres europeus atras da utopia da civilização igualitária, pode-se saborear um texto de primeiríssimo nível.
Décio ganhou as cartas de Pablo Ferrer, revolucionário espanhol que conheceu em Montevideo e depois tornou-se ministro adjunto no governo Felipe Gonzales.
A única menção sobre Berthier na historiografia brasileira Décio encontrou nos escritos sobre as cabana do Maranhão: a menção à sua morte, em luta.
O livro foi lançado pela Editora Record.
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