domingo, 12 de junho de 2011

Escândalo macula ONG das Mães da Praça de Maio

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São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011


Escândalo macula ONG na Argentina

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

As Mães da Praça de Maio, reconhecidas internacionalmente na defesa dos direitos humanos, estão no centro de uma investigação judicial que apura suspeitas de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos que seriam utilizados para a construção de casas populares.
O principal personagem é Sérgio Schoklender, ex-administrador da associação que era também, até o mês passado, um tipo de filho adotivo da presidente da organização, Hebe de Bonafini.
Dono de uma patrimônio milionário agora revelado, que incluiu carros de luxo, iates, avião e vários terrenos em Buenos Aires e região metropolitana, Schoklender é acusado de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos e associação ilícita.
Ele e o irmão Pablo, também acusado de participar das fraudes, deixaram o grupo após o escândalo. Os dois já eram conhecidos na Argentina por assassinar os pais (leia texto nesta página).
Sérgio era responsável por administrar um fundo de US$ 300 milhões (R$ 474 milhões) repassados pelo governo Cristina Kirchner para a construção de casas populares, um dos programas desenvolvidos pelas Mães. Parte desses recursos foi desviada para uma empresa registrada em seu nome.
O escândalo atinge diretamente o governo, a poucos meses da eleição presidencial. As suspeitas de irregularidades surgiram há um ano.

DESCONTROLE
Integrantes do governo admitiram na semana passada que os recursos repassados às Mães não eram controlados.
Aos 82 anos, a líder da ONG, organização que cobra informações sobre desaparecidos na ditadura militar, é uma das principais aliadas de Cristina Kirchner.
"Uma coisa são os Schoklender, outra somos nós, as Mães, que há 34 anos estamos reivindicando a luta de nossos filhos", disse Bonafini, na semana passada, na única vez em que comentou o caso. Ela chamou os irmãos de traidores e disse que não sabia das fraudes.
Mas até aliados desconfiam de Hebe de Bonafini
. "Ela é quem dirige a instituição e não pode estar alheia ao que se passava", declarou Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, grupo dissidente das Mães e que também é aliado do governo Kirchner.
Além de universidade, rádio e uma gráfica, as Mães da Praça de Maio têm, desde 2006, a fundação Sonhos Compartilhados, uma espécie de construtora que emprega quase 5.000 pessoas e funciona graças ao dinheiro repassado pelo governo.
A Folha conheceu na favela de Los Piletones, na periferia sul de Buenos Aires, um dos conjuntos de prédios construídos pela fundação das Mães. A obra está em andamento há cinco anos, embora a previsão fosse concluí-la em seis meses.
O material de construção está se deteriorando.
Procurada pela reportagem, a associação não quis se manifestar.
Segundo a denúncia, apenas 35% das casas construídas pelas Mães foram concluídas. O governo diz que a parceria continuará.
Na última quinta, o juiz responsável pela investigação, Norberto Oyarbide, foi ameaçado de morte e solicitou proteção policial. Ele continuará no caso.

Líder da entidade "adotou" pivô da crise, acusado de parricídio

DE BUENOS AIRES

A aliança entre Hebe de Bonafini e Sérgio Schoklender foi uma das mais improváveis da Argentina.
Quando se conheceram, Bonafini já era líder das Mães da Praça de Maio e um dos principais nomes na defesa dos direitos humanos. Sérgio estava preso desde 1981, condenado à prisão perpétua por matar os pais a pauladas (com ajuda do irmão Pablo).
A relação começou num presídio de Buenos Aires, no início dos anos 80, quando Bonafini frequentava o local para visitar presos políticos.
No julgamento, os irmãos negaram o crime. Na década de 90, Sérgio obteve revisão da pena, deixou a prisão e foi "adotado" por Bonafini - que perdera dois filhos assassinados na ditadura.
Desde então, Sérgio e o irmão se juntaram à administração da entidade. Mas os argentinos nunca entenderam como uma líder que defende direitos humanos pôde se aliar a irmãos condenados por assassinar os pais.
(LF)

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