sábado, 4 de junho de 2011

Da natureza do escorpião

Depois desta entrevista, na qual não esclareceu porcaria nenhuma, há que dar-lhe um belo pontapé no traseiro!

Fora, Palocci!

Íntegra da transmitida pela Globo em 03 de maio

http://www.youtube.com/watch?v=Y5m_wyahXjY
 
 
 
The Scorpion and The Frog


MONTBLÄAT - 395

4 de junho de 2011

DA NATUREZA DO ESCORPIÃO

Você e eu assistimos ontem no Jornal Nacional à “explicação” do Sr. Antonio Palocci sobre o desempenho espantoso de sua empresa de consultoria. O ministro chefe da Casa Civil pediu, a mim e a você, que tenhamos “boa fé” e acreditemos nele. Você tem boa fé? Você ficou convencido? Você acreditou? Você acredita em duendes e em Papai Noel? Não dá vontade de falar muito sobre o espetáculo lamentável em que – com a cara limpa – o poderoso de plantão esconde o crime e nega aos que o sustentam o direito de saber de suas traficâncias. E razões para suspeitas há inúmeras e vêm de longe, desde o tempo em que AP era prefeito de Ribeirão Preto, passando pelo Ministério da Fazenda, Câmara dos Deputados e agora a Casa Civil. Inútil voltar a citar os episódios, mas a trajetória do homem que pede “boa fé” é notória, Francenildo que o diga.

E aí entra o título. O que tem o escorpião a ver com isso? Simples. Reza a fábula que o escorpião, ao precisar atravessar um rio, dirigiu-se a um sapo e pediu-lhe que o transportasse até a outra margem.
- Eu não – respondeu o batráquio – você é venenoso e vai me matar com uma ferroada.
- Absurdo – respondeu o escorpião – se eu fizer isso você afunda e ambos morremos, qual seria o meu interesse em morrer?
Convencido pelo argumento o sapo deixou o escorpião subir em suas costas e começou a atravessar o rio e quando estavam no meio...
- Ai! Você me ferroou, seu peçonhento, agora vamos ambos morrer. Por que você fez isso ? – perguntou o anuro já agonizando.
- Sinto muito, não pude evitar, é a minha natureza – foram as últimas palavras do artrópode.

A fábula só tem uma falha, a meu ver grave, é certo que o escorpião não pode mesmo escapar de sua má natureza, mas na vida real, aqui no Brasil, o sapo morre, mas o inseto venenoso continua bem vivo pronto para novas ferroadas. Se o sapo fosse mais esperto e atento perceberia o colete salva vidas que seu intolerável passageiro vestia. Boa fé os brasileiros têm para dar e vender, mas mesmo admitindo – por mais absurdo que seja – que duendes e papai Noel existam, o que tornaria as palavras de AP verdadeiras e sinceras, mesmo assim resta outra consideração. Diz um velho ditado romano que à mulher de Cesar não basta ser honesta, há que parecer honesta. Agora arme-se do máximo de boa fé de que é capaz e responda: Parece-lhe honesto?

Um leitor de O Globo, Josimar Domingues Teixeira, de Teresópolis, faz hoje outra colocação que considero fundamental. Vejam o que escreveu:

“Parabenizo o ministro Palocci pela nobre atitude de abrir mão do milionário faturamento de sua empresa para servir ao seu país recebendo o mísero salário de ministro de Estado. Pois se não foi a mais nobre e pura intenção de servir bem a seu país como ministro, por que o Sr. Palocci trocaria tão alto faturamento de empresário por um salário fixo e até baixo?”.

Taí Josimar, bingo! Vamos condecorar o Palocci que está se sacrificando em nome desses brasileiros ingratos, sem boa fé, como nós que ainda temos a petulância de querer saber como se faz a mágica.

Mais curioso ainda é o fato dele sustentar que faturou 10 milhões em um mês porque estava fechando a sua empresa. Curiosa e invulgar ocorrência. Palocci tinha contratos de consultoria que foram encerrados subitamente (não imagino que ele tenha, profeticamente, marcado com antecipação a data limite de seus serviços e contratos). No mundo real – onde não há duendes nem Papai Noel – contratos interrompidos geralmente são acompanhados de multas rescisórias e não por cornucópias de dinheiro. Palocci disse na TV: “Promovi um encerramento das atividades todas da consultoria da empresa, todos os contratos que eu tinha há dois, há três, cinco anos, foram encerrados, e eles foram quitados...” Surpresa! O Palocci é igualzinho a mim. O sistema de cobrança do Montbläat, praticamente inexistente, é idêntico ao da multimilionária Consultoria Projeto. Os seus clientes podiam ficar dois, três, cinco anos sem se lembrar de pagar ao devotado deputado/consultor. Bom, considerando que o Mont deixará de existir em 9 de julho, os leitores bem que podiam depositar em minha conta um montão de dinheiro, digamos entre R$ 10 e 10 milhões... Não façam cerimônia e tenham um bom final de semana...

Mas a coisa não acaba assim não, afinal é preciso justificar o nosso título entomológico. Na Veja que está nas bancas há mais uma amostragem do modus operandi de nosso homem que merece “boa fé”. O elegante e bem
tratado cidadão da capa deste Mont chama-se Felipe Garcia dos Santos, mora num barraco em Mauá, na periferia pobre de São Paulo, ganha 700 reais por mês e no mês que passou não conseguiu sequer pagar a conta de seu celular, que foi bloqueado. Mas – como duendes e Papai Noel existem – o nosso Felipe é nada menos que um dos donos do mega apartamento que o Sr. Antonio Palocci aluga em São Paula há quatro anos. Veja como é o mundo, o senhorio ganhou no ano passado inteiro o equivalente bruto a fabulosos 9 mil reais e o inquilino faturou, no mesmo período, míseros R$ 10 milhões. Eu despejava e você? O apartamentaço é coisa de peixe gordo. Tem 640 metros quadrados, quatro suítes, três salas, duas lareiras, é todo ladeado por varandas e avaliado em R$ 4 milhões. Não se aluga por menos de R$ 15 mil; o condomínio é de R$ 4.600, e a parcela mensal de IPTU é de R$ 2.300. O imóvel está em nome da Lion Franquia e Participações Ltda, de propriedade de Dayvini Costa Nunes (com 99,5%), e Felipe Garcia dos Santos, com (0,5%). É a dupla “Laranjão e Laranjinha” (dupla caipira que faria sucesso em Ribeirão Preto). O problema é que “Laranjinha” entrou de gaiato na história (não é a primeira nem segunda vez que isso acontece com nossos homens públicos), de nada sabia e disse não estar disposto a brigar com o seu inquilino. Tem juízo o rapaz, se insistir vai acabar pagando a conta. E não é só isso; A empresa Lion – segundo revela a reportagem da Veja – declarou endereços falsos nos últimos três anos. É fácil de explicar e eu explico: “Laranjão e Laranjinha” vivem em tournée por esse Brasil afora e o coitado do Palocci, homem de boa fé, não sabia de nada...








São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011


Nem em Alfa Centauro

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA -
Quem já assinou um contrato na vida sabe. É possível romper o acordo a qualquer tempo e época. Paga-se uma multa.
Em raras ocasiões, negocia-se uma redução da pena. O que não existe na natureza é um prêmio para quem rescinde um contrato provocando prejuízo ao contratante. Por exemplo, um inquilino informa ao locador que sairá do imóvel e em troca ouve o seguinte: "Que bom, vou te dar R$ 1 milhão de prêmio como taxa de sucesso".
Antonio Palocci foi deputado federal e coordenador da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Tinha contratos de consultoria com várias empresas. Nomeado ministro, encerrou seus serviços. Causou um problema. Os clientes estavam felizes e tendo lucro com os bons conselhos recebidos do petista.
Aí operou-se algo inusitado. Em vez de multa, recompensa. Até outubro de 2010, Palocci tinha faturado R$ 10 milhões. Com Dilma eleita para o Planalto e ele nomeado, embolsou mais R$ 10 milhões.
A Folha quis saber se os contratos rompidos tinham multa rescisória. "Os termos de seu encerramento foram ajustados com os clientes", respondeu Palocci.
Muito bem. Que termos foram esses? O ministro não responde. É um direito dele. Assim como os 190 milhões de cidadãos brasileiros têm também o direito de inferir que Antonio Palocci não pagou multa por encerrar antes da hora os serviços prestados a um punhado de empresas. Ao contrário, parece ter recebido uma gorda bolada.
Faz sentido. Qual empresário no planeta Terra ou em Alfa Centauro ousaria cobrar uma multa do futuro ministro-chefe da Casa Civil? Se tal benemerência não configurar uma relação imprópria, o governo de Dilma Rousseff estará estabelecendo um novo padrão ético e moral na política em Brasília.
Mais detalhes não se sabe. Afinal, como diz Palocci, "a confidencialidade é uma praxe em contratos dessa natureza".



Folha.com, 01/06/2011 - 11h47

Oposição dribla governo e consegue convocar Palocci


MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA

A oposição conseguiu driblar o governo e aprovou, após duas semanas de tentativas, um requerimento convocando o ministro Antonio Palocci Filho (Casa Civil) para depor sobre seu enriquecimento como consultor.
A aprovação ocorreu na manhã desta quarta-feira na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, quando os governistas estavam concentrados em outras comissões da Casa. O governo agora corre para tentar convencer o presidente da comissão, Lira Maia (DEM-PA), a reverter a decisão ou transformá-la em convite - para o qual não é obrigatória a presença.

A reunião da comissão foi suspensa até as 13 horas e, neste momento, líderes da base e da oposição estão trancados tentando chegar a um acordo. " O entendimento do DEM é que a matéria está vencida, agora respeitamos a autonomia do presidente da comissão", disse o líder do DEM, ACM Neto (BA).
A convocação ocorre na véspera de a Procuradoria Geral da República se pronunciar sobre as explicações enviadas por Palocci.
A base já informou que apresentará uma questão de ordem ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT- RS), questionando o método de votação feito por Lira Maia. Eles querem que a votação seja refeita. Apesar de o presidente ser do DEM, a maioria dos deputados na Comissão de Agricultura é da base.
No dia 15 passado, a Folha revelou que o ministro tinha comprado um apartamento de R$ 6,6 milhões, numa evolução patrimonial declarada de 20 vezes desde 2006. O governo entrou em crise política e paralisia, já que Palocci é o seu ministro mais forte.
Ele justificou a evolução por seu trabalho de consultoria. A Folha então revelou que, só no ano passado, ele ganhou R$ 20 milhões com os trabalhos para clientes que não revelou. Metade disso foi ganha quando Palocci coordenava o grupo de transição do governo e tinha acesso a dados sigilosos.
 

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