Link para as trasmissões ao vivo da Al Jazeera - http://english.aljazeera.net/ watch_now/
São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011
Mentirinhas da revolução
VINICIUS TORRES FREIRE
HÁ TANTO riso, ó, tanta alegria com a revolução no Egito, mas também pouco siso e, ó, tanta hipocrisia. É repulsiva de farisaica a atitude ocidental em relação ao caso egípcio, tanto na política como na interpretação do tumulto. Senão, vejamos.
1) Houve tanta falação deslumbrada a respeito de mais uma revolução "twittada" ou "facebookeada", agora essa do Egito. Todo mundo tão animado com essa modinha, esse clichê autocentrado, etnocêntrico e ignorante sobre revoluções digitais, tão animado com as "possibilidades das novas mídias", blablablá, mas as grandes operadoras de TV nos EUA e no Brasil, ao menos, não oferecem o serviço da Al Jazeera, aliás empastelada no Cairo.
Essa TV é feita por gente que entende mais de árabes do que quase nós todos, que vai a lugares que não são frequentados por ocidentais, que fala a língua de quem faz a revolução, quando não são seus parentes ou amigos. Tanta conversa mauricinha sobre "novas mídias" e, no fim das contas, há censura velada da velha mídia da TV, a censura das transmissões da Al Jazeera, cassação político-comercial de um ponto de vista diferente, o árabe;
2) Qual foi a atitude do governo do progressista Barack Obama no início do tumulto no Egito? Apoiar o regime do ditador e patrocinador de torturas, repressões e corrupções Hosni Mubarak. Obama e cia. baixaram um pano rápido diante dessa vergonheira quando perceberam que Mubarak não se aguentaria nas pernas. Mas já dera o vexame. Enfim, eles se torcem de medo que aquele povo que vive ali perto demais da Europa e em torno dos poços do petróleo balancem o coreto para valer. É o óbvio. Mas é bom ressaltar o vexame, aliás mais um do progressista de fancaria Obama;
3) Por falar em imposturas, Nikolas Sarkozy, disse que o "risco" de partidos islâmicos ganharem a eleição não é desculpa para proibir eleições no Egito. Uhm. Em 1990 e 1991, a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou as primeiras eleições livres na Argélia. Em 1991, levou 82% do parlamento. E então vieram o golpe militar e massacres do pessoal da FIS, golpe com o apoio quase indisfarçável da França, que depois viria a ser vítima de ataques terroristas de garotos árabes orientados por islamistas fulos com os franceses;
4) A elite e os burocratas corruptos da autocracia egípcia e o establishment euroamericano estão doidos para se livrar de Mubarak e tocar tudo como dantes no quartel;
5) Aparentemente, o estopim da revolta egípcia foi a falta de pão, paz e liberdade num país desigual e cheio de jovens irados e sem futuro. Semanas antes das revoltas no norte da África, a elite político-midiática ocidental voltara a falar da "inflação das commodities", sobre as "reformas de mercado" que melhorariam a oferta de comida no mundo pobre etc. Como em 2008, no outro pico da inflação da comida, quando o neocon bushista Robert Zoellick se candidatou ao Oscar de demagogia ao aparecer num palco segurando de braços abertos um pão e um pacote de arroz em um encontro do Banco Mundial, que preside. O pão é caro ou inexiste no mundo pobre entre outros motivos devido aos subsídios vergonhosos que Europa e EUA dão a seus agricultores. Alguém aí tem ouvido alguma coisa sobre a falta de pão no Egito? Falam de petróleo, Suez, Israel, islamistas loucos etc
HÁ TANTO riso, ó, tanta alegria com a revolução no Egito, mas também pouco siso e, ó, tanta hipocrisia. É repulsiva de farisaica a atitude ocidental em relação ao caso egípcio, tanto na política como na interpretação do tumulto. Senão, vejamos.
1) Houve tanta falação deslumbrada a respeito de mais uma revolução "twittada" ou "facebookeada", agora essa do Egito. Todo mundo tão animado com essa modinha, esse clichê autocentrado, etnocêntrico e ignorante sobre revoluções digitais, tão animado com as "possibilidades das novas mídias", blablablá, mas as grandes operadoras de TV nos EUA e no Brasil, ao menos, não oferecem o serviço da Al Jazeera, aliás empastelada no Cairo.
Essa TV é feita por gente que entende mais de árabes do que quase nós todos, que vai a lugares que não são frequentados por ocidentais, que fala a língua de quem faz a revolução, quando não são seus parentes ou amigos. Tanta conversa mauricinha sobre "novas mídias" e, no fim das contas, há censura velada da velha mídia da TV, a censura das transmissões da Al Jazeera, cassação político-comercial de um ponto de vista diferente, o árabe;
2) Qual foi a atitude do governo do progressista Barack Obama no início do tumulto no Egito? Apoiar o regime do ditador e patrocinador de torturas, repressões e corrupções Hosni Mubarak. Obama e cia. baixaram um pano rápido diante dessa vergonheira quando perceberam que Mubarak não se aguentaria nas pernas. Mas já dera o vexame. Enfim, eles se torcem de medo que aquele povo que vive ali perto demais da Europa e em torno dos poços do petróleo balancem o coreto para valer. É o óbvio. Mas é bom ressaltar o vexame, aliás mais um do progressista de fancaria Obama;
3) Por falar em imposturas, Nikolas Sarkozy, disse que o "risco" de partidos islâmicos ganharem a eleição não é desculpa para proibir eleições no Egito. Uhm. Em 1990 e 1991, a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou as primeiras eleições livres na Argélia. Em 1991, levou 82% do parlamento. E então vieram o golpe militar e massacres do pessoal da FIS, golpe com o apoio quase indisfarçável da França, que depois viria a ser vítima de ataques terroristas de garotos árabes orientados por islamistas fulos com os franceses;
4) A elite e os burocratas corruptos da autocracia egípcia e o establishment euroamericano estão doidos para se livrar de Mubarak e tocar tudo como dantes no quartel;
5) Aparentemente, o estopim da revolta egípcia foi a falta de pão, paz e liberdade num país desigual e cheio de jovens irados e sem futuro. Semanas antes das revoltas no norte da África, a elite político-midiática ocidental voltara a falar da "inflação das commodities", sobre as "reformas de mercado" que melhorariam a oferta de comida no mundo pobre etc. Como em 2008, no outro pico da inflação da comida, quando o neocon bushista Robert Zoellick se candidatou ao Oscar de demagogia ao aparecer num palco segurando de braços abertos um pão e um pacote de arroz em um encontro do Banco Mundial, que preside. O pão é caro ou inexiste no mundo pobre entre outros motivos devido aos subsídios vergonhosos que Europa e EUA dão a seus agricultores. Alguém aí tem ouvido alguma coisa sobre a falta de pão no Egito? Falam de petróleo, Suez, Israel, islamistas loucos etc
São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011 |
Diretor da rede árabe Al Jazeera no Cairo é preso
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O diretor da sucursal no Cairo da rede de televisão Al Jazeera, Abdel Fattah Fayed, e um dos jornalistas de suas equipe, o repórter Ahmad Yussef, foram detidos pelas forças de segurança egípcias.
A prisão ocorre um dia depois de o escritório do canal ter sido incendiado por forças pró-Mubarak, que quebraram os aparelhos usados para realizar as transmissões.Na segunda-feira passada, outros seis jornalistas da emissora haviam sido detidos e liberados pouco depois.
"Esse ataque [ao escritório] parece ser uma nova tentativa do regime e dos seus partidários de impedir que a Al Jazeera cubra os acontecimentos", afirmou o canal.
Desde o aumento dos protestos contra o ditador Hosni Mubarak, as autoridades do país estão perseguindo os veículos de imprensa.
Um dos alvos principais é a Al Jazeera, emissora sediada no Qatar que conta com a maior audiência no mundo árabe.No dia 29 de janeiro, seus jornalistas entrevistaram um dos opositores ao regime de Mubarak, o influente clérigo muçulmano Yusuf al Qaradawi.
No dia seguinte, o governo ordenou que a Al Jazeera interrompesse a transmissão. Ao mesmo tempo, o sinal em algumas regiões do Oriente Médio foi simplesmente cortado.
O diretor da sucursal no Cairo da rede de televisão Al Jazeera, Abdel Fattah Fayed, e um dos jornalistas de suas equipe, o repórter Ahmad Yussef, foram detidos pelas forças de segurança egípcias.
A prisão ocorre um dia depois de o escritório do canal ter sido incendiado por forças pró-Mubarak, que quebraram os aparelhos usados para realizar as transmissões.Na segunda-feira passada, outros seis jornalistas da emissora haviam sido detidos e liberados pouco depois.
"Esse ataque [ao escritório] parece ser uma nova tentativa do regime e dos seus partidários de impedir que a Al Jazeera cubra os acontecimentos", afirmou o canal.
Desde o aumento dos protestos contra o ditador Hosni Mubarak, as autoridades do país estão perseguindo os veículos de imprensa.
Um dos alvos principais é a Al Jazeera, emissora sediada no Qatar que conta com a maior audiência no mundo árabe.No dia 29 de janeiro, seus jornalistas entrevistaram um dos opositores ao regime de Mubarak, o influente clérigo muçulmano Yusuf al Qaradawi.
No dia seguinte, o governo ordenou que a Al Jazeera interrompesse a transmissão. Ao mesmo tempo, o sinal em algumas regiões do Oriente Médio foi simplesmente cortado.
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A AL JAZEERA FEZ FALTA NA TV A CABO
ELIO GASPARI
ELIO GASPARI
Em 1990, quando os Estados Unidos bombardearam Bagdá, a emissora CNN estabeleceu-se como uma poderosa rede de notícias internacionais. Foi nela que o presidente Bush (pai) acompanhou o ataque noturno à cidade.
Na revolução egípcia, o companheiro Obama acompanhou parte dos acontecimentos pela Al Jazeera, emissora baseada no Qatar e financiada pelo emirato local.Enquanto a CNN e a BBC cobriam a revolução do Cairo com punhos de renda e preferência por análises de europeus e americanos, a Al Jazeera expunha a história da rua, com longas transmissões, ao vivo, das multidões do Cairo.A relevância do trabalho da emissora levantou uma questão nos Estados Unidos e nos demais países, inclusive o Brasil, onde nenhuma grande operadora de TV a cabo oferece o serviço da Al Jazeera: quem manda é o mercado, mas será que a voz de uma emissora com um ponto de vista árabe é desprezível?Nos Estados Unidos, esse apagão vem sendo chamado de "censura corporativa".É dura a vida da emissora. Suas transmissões e seus jornalistas são aporrinhados pelo mundo afora. Ela foi censurada por Mubarak e já teve sua sede em Cabul e Bagdá atingida por mísseis americanos.
A cineasta brasileira Julia Bacha é coautora de um premiado documentário sobre a Al Jazeera.Chama-se "Sala de Controle" ("Control Room") e trata da invasão do Iraque.
Na revolução egípcia, o companheiro Obama acompanhou parte dos acontecimentos pela Al Jazeera, emissora baseada no Qatar e financiada pelo emirato local.Enquanto a CNN e a BBC cobriam a revolução do Cairo com punhos de renda e preferência por análises de europeus e americanos, a Al Jazeera expunha a história da rua, com longas transmissões, ao vivo, das multidões do Cairo.A relevância do trabalho da emissora levantou uma questão nos Estados Unidos e nos demais países, inclusive o Brasil, onde nenhuma grande operadora de TV a cabo oferece o serviço da Al Jazeera: quem manda é o mercado, mas será que a voz de uma emissora com um ponto de vista árabe é desprezível?Nos Estados Unidos, esse apagão vem sendo chamado de "censura corporativa".É dura a vida da emissora. Suas transmissões e seus jornalistas são aporrinhados pelo mundo afora. Ela foi censurada por Mubarak e já teve sua sede em Cabul e Bagdá atingida por mísseis americanos.
A cineasta brasileira Julia Bacha é coautora de um premiado documentário sobre a Al Jazeera.Chama-se "Sala de Controle" ("Control Room") e trata da invasão do Iraque.
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