sábado, 27 de novembro de 2010

Tortura, nunca mais

















Jornal do Brasil, 27/11/2010

Por Villas-Bôas Corrêa

A biografia de Dilma explica o seu temperamento de lutadora desde mocinha. O processo arquivado no Superior Tribunal Militar (STM) revela que como militante do VAR-Palmares denunciou pela primeira vez as torturas sofridas em maio de 1970, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 22 dias consecutivos, entre janeiro e fevereiro, na rotina da repressão militar.
Dilma citou nomes de colegas, dos pontos de encontro e aparelhos, as casas de colegas da luta armada. Condenada a quatro anos de prisão.
Em 1970, com 22 anos de idade, Dilma era uma das líderes da VAL-Palmares e foi presa em 16 de janeiro de 1970. Foi torturada e seviciada durante os 22 dias do seu confinamento.
No interrogatório, confirmou sua participação no VAR-Palmares, mas negou ser terrorista.

A denúncia

Na denúncia do Ministério Público Militar contra Dilma Vana Rousseff Linhares, a Joana D’Arc da subversão é qualificada como “figura feminina de expressão tristemente notável, que ingressou na subversão em 1967, levada por Galeno de Magalhães Linhares, então seu noivo”. Como membro da Colina, ao lado de Maria de Brito, “chefiou greves, assessorou assaltos e bancos”.

Agora é a minha vez. Nesses tempos de ditadura militar e tortura, era diretor da sucursal de O Estado de S. Paulo, no Rio. E, durante anos, recebi centenas de pedidos de parentes e amigos de presos, para o simples registro da prisão, com dia e hora. Esse simples registro, que passava pela censura, não evitava o desaparecimento, mas reduzia o risco. Vários jornalistas de O Estado de S. Paulo e alguns da sucursal foram presos e torturados. Prudente de Morais, neto, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), foi visitar o atual presidente, Maurício Azedo, barbaramente torturado na prisão.
A tortura que sempre foi negada pelo governo e pelos militares atravessou décadas. Sem falar na tortura de presos comuns, praticada em delegacias e penitenciárias.
Como explica o Elio Gaspari em seu quarto volume da história da ditadura, “o preso apanha e fala”.
Ora, chega de hipocrisia. O depoimento da presidente eleita Dilma Rousseff, documentado pelos dezesseis volumes liberados pelo Superior Tribunal da Justiça Militar (STM), e os depoimentos da então vítima são irrefutáveis.
Chega de mentira.

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