Doença mental leva a abuso de plásticas

São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Doença mental leva a abuso de plásticas
Jason LaVeris - 09.set.2009/Getty Images

MULHER-GATO
Exótica ou doente, a socialite americana Jocelyn Wildenstein gastou cerca de US$ 4 milhões em operações plásticas para atingir a atual aparência felina

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

Fazer uma plástica atrás da outra e nunca estar feliz com a aparência pode ser sinal de transtorno mental.
A dismorfofobia - chamada pelos especialistas de transtorno dismórfico corporal- atinge 14% das pessoas que já fizeram ou pensam em fazer alguma intervenção estética, segundo pesquisa feita na Universidade de São Paulo com 350 pessoas.
Quem tem dismorfofobia se percebe mais feio do que é. O problema também é conhecido como síndrome de Quasímodo (uma referência ao personagem de Victor Hugo). O caso mais popular é o do cantor americano Michael Jackson (1958-2009).
"Essas pessoas têm uma preocupação exagerada com algum defeito que elas pensam ter ou que é imperceptível", diz a autora da pesquisa, a dermatologista Luciana Conrado.
Todo mundo tem momentos de baixa autoestima. Mas, para a "feiúra imaginária" se tornar um transtorno, o incômodo tem de ir muito além de reclamações sobre o formato do nariz.
"A pessoa se vê deformada no espelho. Se na anorexia ela se vê gorda, no transtorno dismórfico ela enxerga uma imagem errada. Isso a incomoda muito", afirma a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Há quem passe até oito horas se olhando no espelho ou faça tantas cirurgias que acaba deformado.
"Algumas pessoas tentam mudar sozinhas o formato de alguma parte do corpo e acabam se machucando", afirma Antonio Leandro Nascimento, psiquiatra da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Não há causas determinadas para o transtorno. O incômodo exagerado com a aparência pode acontecer aos poucos ou então de uma hora para a outra. O que se sabe é que muitas pessoas apresentam outros problemas psicológicos associados.
"Mais de 80% desses pacientes já tiveram casos de depressão", aponta Conrado. Há estudos que relacionam a incidência de dismorfofobia com anorexia ou então com TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).

DESCONHECIDA
Apesar de descrita há pelo menos cem anos, a dismorfofobia é pouco conhecida entre dermatologistas e cirurgiões plásticos. E, normalmente, é nessas especialidades que pessoas com o transtorno vão parar.
"A maioria dessas pessoas não procura um psiquiatra, porque não sabe que tem a doença. Ela chega com uma série de queixas e nunca fica satisfeita com o resultado", afirma Conrado.
Muitas vezes, o transtorno é confundido com vaidade excessiva, timidez ou fobia social. "O grande problema é a dificuldade de diagnóstico. É muito difícil saber que a pessoa tem a doença sem conhecer todo o histórico", diz Nascimento.
Para Hounie, são os dermatologistas ou os cirurgiões que precisam colocar limite nos procedimentos e encaminhar o cliente-doente a um psiquiatra. "Mas, quando eles se negam a fazer um tratamento, o paciente procura outro, que acaba fazendo."
O desconhecimento é tanto que ainda há poucos grupos de apoio para pessoas com dismorfofobia. Na Universidade Federal de São Paulo há um núcleo de atendimento para homens com transtornos alimentares que também dá atendimento a pacientes com o transtorno da imagem corporal. Atualmente, o grupo tem apenas oito participantes.

Mulher fez tantas cirurgias no nariz que acabou com prótese

Amanda*, dona de casa, tinha 29 anos quando buscou uma dermatologista para se livrar de uns pelos no rosto com depilação a laser.
Mas não era só isso que a incomodava. Na época, ela já tinha feito 12 cirurgias plásticas no nariz. A primeira foi porque, segundo ela, o formato do nariz não era bonito.
Como não gostou do resultado, partiu para a segunda plástica. Na terceira, precisou colocar um implante. Depois, quis aumentar o tamanho do buraco do nariz, que teria ficado pequeno demais.
Amanda se preparava para a décima-terceira cirurgia quando buscou o tratamento a laser. Segundo a dermatologista, três sessões de depilação seriam suficientes. Mas a moça queria mais. Na oitava, a médica quis parar o tratamento e sugeriu que ela buscasse um psiquiatra. Amanda nunca mais apareceu naquele consultório.