São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Por SUZANNE DALEY
MADRI - Os excessos do mercado imobiliário e dos bancos na Espanha foram muito parecidos com aqueles dos EUA. O setor de construção se valorizou, os preços aumentaram para um patamar inconsistente, e os bancos emprestaram tão rapidamente quanto os americanos. Mas aqueles dias terminaram. A Espanha tem agora a maior taxa de desemprego da zona do euro -20%-, e os preços dos imóveis estão caindo. Para muitos espanhóis, que não têm mais condições de pagar suas hipotecas, o negócio que fizeram anos atrás passou a sufocá-los.
Não só os espanhóis são responsáveis pela quantia integral de empréstimo mas também penalizados com taxas de juros altas e multas de milhares de dólares, o que resulta em débito gigantesco. Falência não é resposta. Débito de hipoteca é exclusivo aqui. "Você nunca poderá se livrar dessa dívida", disse Ada Colau, advogado de direitos humanos. "Outros países na União Europeia também possuem débitos individuais de hipoteca, mas podem escolher o julgamento e obter um alívio, ao contrário da Espanha".
Diversos partidos de oposição estão pressionando para que as leis do país sejam amenizadas. Mas o governo se opõe a essas alterações. Funcionários do governo dizem que o sistema de garantias pessoais salvou os bancos espanhóis da tempestade vista nos Estados Unidos. "É verdade que estamos vivendo uma ressaca da bebedeira do setor imobiliário", disse Marcos Vaquer, ex-secretário ministerial. "E é verdade que os espanhóis possuem débitos excessivos. Mas não estamos vendo os problemas ocorridos nos EUA, porque as garantias aqui são muito maiores".
Os imigrantes que chegaram aos anos de boom foram os mais severamente atacados. Jaime Abelardo chegou a Barcelona vindo do Equador em 1999 com a promessa de um emprego. Após alguns anos, conseguiu comprar um apartamento pequeno. Dois anos depois, foi despejado. Agora, deve mais de 260 mil euros, quase US$ 360 mil, o que inclui cerca de 77 mil euros para cobrir os custos do julgamento, seu advogado disse. Ele comprou o apartamento por cerca de 220 mil euros. Sua mulher o deixou. O seguro-desemprego está perto de acabar. "Estou pensando em me matar", disse. Um número estimado de 1,4 milhão de espanhóis estão enfrentando situações parecidas, de acordo com a associação de proteção ao consumidor da Espanha, conhecida como Adicae. Em 2007, eram somente 26 mil.
Uma pesquisa recente da Standard&Poor's descobriu que cerca de 8% das casas da Espanha estão valendo menos do que o valor da hipoteca; especialistas acreditam que a desvalorização chegue a 20%. Os bancos têm o direito de mandar casas hipotecadas para o leilão. Se nenhum comprador aparecer, o banco pode virar dono de 50% do valor da casa, de acordo com a estimativa de valor no momento da compra ou do valor atual, opção presente no contrato. Os bancos, depois disso, têm até 15 anos para encontrar um dono para a casa. Se os bancos entrarem na Justiça em qualquer ponto, o relógio começa do zero, especialistas dizem. Enquanto isso, o banco pode cobrar juros sobre aquele débito.
Montse Andrés Sabaté, advogada da Ausbanc, associação de consumidores, disse que o banco costuma cobrar 5% ou 6%, mas, em algumas oportunidades, mais do que isso. "Nós já vimos 18% e 19%", ela disse.
E, depois, há o problema do fiador. Os bancos pressionam os donos de casa para que encontrem fiadores no ato de contratar uma hipoteca. Agora, esses fiadores têm de pagar o débito de outros. Até mesmo sua herança pode ser direcionada para os bancos.
Santos Gonzalez Sánchez, presidente da Associação das Hipotecas da Espanha, diz que os bancos são os responsáveis por tentar receber. "Isso ajuda a explicar o porquê de nossas entidades financeiras não terem decretado falência", disse. Mas promotores dizem que as leis espanholas são particularmente severas. No mês passado, o partido do premiê José Luis Rodriguez Zapatero se reuniu para exigir um posicionamento favorável dos congressistas para amenizar essas regulações.
Manolo Marbán, 59, sabia que estava com problemas alguns meses depois de comprar uma pequena loja de animais, já que o negócio não estava bem. Ele vendeu seu carro com um desconto gigante para fazer o pagamento e, depois, o bracelete de ouro de sua esposa. Mas, mesmo assim, ele foi pego. O banco tomou seu negócio e sua casa em abril. Com lágrimas nos olhos, Marbán disse: "Eu nunca mais terei nada. Trabalharei para o banco pelo resto da minha vida".
Contribuiu Rachel Chaundler
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