terça-feira, 23 de novembro de 2010

O que o Pelé tem a ver com o xadrez?





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O que o Pelé tem a ver com o xadrez?



Por Alfredo Pereira dos Santos




Pois é. Pelé foi o Rei do Futebol, o maior jogador de futebol de todos os tempos. O Atleta do Século. Pelé não deve jogar xadrez. Se jogasse isso teria sido notícia. Então Pelé, em princípio, nada teria a ver com o xadrez.

Mas a Primeira Lei da Dialética nos diz que “TUDO SE RELACIONA”. Então a gente pode buscar essa relação num exemplo que pode ser muito eloqüente não só para enxadristas como para esportistas de todo o tipo.

Sendo o futebol o esporte nacional e sendo eu brasileiro, não poderia ignorar a biografia do nosso maior atleta e tenho na minha biblioteca o livro do José Castello, PELÉ, OS DEZ CORAÇÕES DO REI, do qual transcrevo para vocês o seguinte:

Quando menino, Pelé tinha um muro branco como espelho. Era contra ele, espelhando-se em seu vazio, que ficava, horas e horas, batendo bola, treinando chutes, pé direito, pé esquerdo, testando cabeçadas, passes, enfim, fazendo ali a sua formação de jogador. Olhando para o muro, Pelé formou a sua imagem de jogador. Um muro, uma parede, um tapume, são espaços em branco, molduras desabitadas à espera de uma forma que venha a preenchê-la. O menino Pelé teve, diante da parede, uma iniciação dura, gerada à base de muito empenho e disciplina. O pai, sempre o aconselhava: se você não conseguir jogar bem contra uma parede, se não souber dominá-la, vencê-la, você não jogará bem contra ninguém. E estipulava o número de cabeçadas, ou de chutes, que o menino devia dar contra o muro da casa. Antes de concluir a tarefa, estava proibido de descansar. Não foi fácil.

Aquilo o cansava, e as vezes lhe parecia sem sentido, ou mesmo um pouco insensato. Mas, hoje, Pelé admite: “Essa insistência na perfeição, essa luta para derrotar a mim mesmo, isso eu devo a meu pai”. Já consagrado como jogador, Pelé costumava ainda permanecer no campo após os treinos, para repetir dezenas de vezes as mesmas jogadas, sozinho, até não suportar mais.

A leitura das biografias dos vitoriosos, daqueles que, muitas vezes nasceram em meio a dificuldades, mas que venceram a adversidade, pode nos alertar para o quão simples pode ser a vida, quando fazemos as coisas certas.

O Pelé tinha o sonho de ser jogador de futebol. E, para isso, ele teve que fazer sacrifícios, embora a contragosto, pois não tinha a capacidade de perceber as coisas certas a serem feitas. Mas tinha o pai que o orientou.

Vejam que coisa interessante o pai do Pelé dizia: “se você não conseguir jogar bem contra uma parede, se não souber dominá-la, vencê-la, você não jogará bem contra ninguém”.

Um veterano professor de xadrez do Rio de Janeiro costumava dizer que quem não sabe jogar com duas peças não conseguirá jogar bem com dezesseis. Os contextos são completamente diferentes, mas tanto o pai do Pelé quanto o professor de
xadrez estavam dizendo a mesma coisa.

Uma parte indispensável para o aprendizado do xadrez e o seu progresso no jogo e o conhecimento da Notação Algébrica. Ela é notável pela sua simplicidade. As oito colunas do tabuleiro são representadas pelas oito letras iniciais do nosso alfabeto. As linhas são numeradas de 1 a 8. Cada casa do tabuleiro é identificada por uma combinação de letra e número. Cada casa é a interseção de uma coluna com uma linha.

Todos nós aprendemos Teoria dos Conjuntos e sabemos o que é interseção. Aprendemos o que é uma relação e o que é um gráfico cartesiano. Isso faz parte da Matriz de Competências e Habilidades em matemática.

O xadrez não é um jogo simples como o JOGO DA VELHA. Mas também não é inacessível. Crianças no mundo todo o aprendem. Mas adultos também, tendo encontrado nele uma boa fonte de prazer. Piaget dizia: “existe um perfeito isomorfismo entre as
estruturas orgânicas e as lógico-matemáticas”. E mais: “o pensamento plenamente desenvolvido é um pensamento matemático”. Piaget não estava querendo dizer com isso que só as pessoas que conhecem matemática podem ter um pensamento desenvolvido. Ele estava se referindo ao “pensamento lógico”.

Bertrand Russell, no seu livro “Introdução à Filosofia da Matemática”, nos explica que lógica e matemática hoje são a mesma coisa. Que a lógica foi a
infância da matemática e a matemática é a maturidade da lógica. Num ensaio intitulado “Behaviorismo e Valores”, Russell afirma o seguinte: “as pessoas deveriam estudar lógica para que não tivessem que raciocinar pois, se o fizerem, é fatal que raciocinarão errado”.

Então, quando levamos o xadrez às escolas, estamos no caminho certo, pois já chegou a se propor, numa universidade européia o ensino do xadrez, pois eleequivale a um tratado de lógica”. E lógica é coisa de que o Brasil anda precisando. De acordo com pesquisas da socióloga Bárbara Freitag, publicadas no livro “Sociedade & Consciência”, setenta por cento da população brasileira adulta está na faixa mental de crianças de 12, 13 anos. Ou seja, a maior parte da população CRONOLOGICAMENTE adulta, pensa como criança. Não atingiram a fase do raciocínio hipotético-dedutivo ou seja, raciocínio lógico.

O crítico literário Wilson Martins nos alertava: APRENDER É DIFÍCIL. Todos nós sabemos que isso é verdade. Mas é essa dificuldade que nos atrai, como pessoas inteligentes que somos, porque O QUE É FÁCIL QUALQUER UM FAZ. Varrer chão não constitui grande desafio para ninguém mas jogar bem xadrez sim.

Alberto Cunha Melo, que vive escondido no Recife, e é, na opinião do Bruno Tolentino, o nosso maior poeta desde João Cabral, disse o seguinte: “Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem”. Pensando bem, é isso mesmo. Eu durmo. A minha cadela faz isso tão bem quanto eu. Eu como e ela também. Eu bebo, satisfaço as minhas necessidades fisiológicas e ela pode até fazer isso melhor do que eu. No entanto, há uma diferença fundamental entre todos nós e um cachorro: nós não vivemos, simplesmente. É bem verdade que existem burros de carga que são mais úteis do que certas pessoas. Aqueles, pelo menos, poupam o seu dono de trabalho insano e estas vivem para comer e dormir. Não é, contudo, esse o caso de nós, professores, cuja missão é das mais nobres e quanto mais preparados estivermos para exercê-la melhor será a nossa contribuição para as nossas crianças e para o Brasil.

Exemplo é tudo.

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