São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010
Homofobia e a violência da intolerância
NAVI PILLAY
Seth Walsh tinha 13 anos quando foi até o jardim da casa onde morava com sua família, na Califórnia, e se enforcou. Seth é um dos seis adolescentes que sabemos que se suicidaram nos EUA, só em setembro, devido ao que sofreram nas mãos de perseguidores homofóbicos.
Nas últimas semanas, vimos acontecer uma série de ataques contra gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais no mundo. Em Belgrado, no dia 10 de outubro, um grupo de manifestantes atirou coquetéis molotov e granadas paralisantes contra uma parada do orgulho gay, ferindo 150 pessoas.
Em Nova York, em 3 de outubro, três jovens homossexuais foram sequestrados, levados para um apartamento desabitado e torturados.
Na África do Sul, realizou-se em Soweto uma manifestação para chamar a atenção para as violações contra as lésbicas nas "townships", atos que os seus autores tentam justificar como uma tentativa de "corrigir" a sexualidade das vítimas.
A homofobia, como o racismo e a xenofobia, existe em diversos graus, em todas as sociedades. Todos os dias, em todos os países, indivíduos são perseguidos, violentamente atacados ou mesmo mortos devido à sua orientação sexual.
Quer seja explícita, quer não, a violência homofóbica causa um enorme sofrimento, que é frequentemente dissimulado sob um véu de silêncio e vivido na solidão.
Chegou o momento de fazermos ouvir nossa voz. Embora a responsabilidade pelos crimes motivados pelo ódio recaia sobre os que os cometem, todos temos a obrigação de combater a intolerância e o preconceito e de exigir que os agressores respondam pelos seus atos.
A prioridade inicial é descriminalizar a homossexualidade. Em mais de 70 países as pessoas podem sofrer sanções penais devido à sua orientação sexual. Essas leis expõem os indivíduos à detenção, à prisão, até a tortura ou mesmo à execução e perpetuam o estigma, além de contribuir para um clima de intolerância e de violência.
Ainda que importante, a descriminalização é apenas o primeiro passo. A experiência mostra que são necessários maiores esforços para combater a discriminação e a homofobia.
Infelizmente, acontece com demasiada frequência que aqueles que deveriam usar de moderação ou exercer a sua influência para promover a tolerância fazem exatamente o contrário, reforçando os preconceitos.
Em Uganda, por exemplo, onde a violência contra as pessoas com base em sua orientação sexual é comum, um jornal, no dia 2/10, publicou uma matéria na primeira página identificando cem ugandenses como gays ou lésbicas, colocando ao lado de suas fotos a frase: "Enforquem-nos".
Temos que denunciar esse tipo de jornalismo como aquilo que é: incitamento ao ódio e à violência.
No país, os ativistas de direitos humanos que defendem os direitos de gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais correm o risco de serem perseguidos ou detidos.
No mês passado, em Genebra, falei sobre a descriminalização da homossexualidade em um painel promovido por um grupo de 14 países.
No evento, o arcebispo emérito Desmond Tutu manifestou seu apoio, falando apaixonadamente sobre as lições do apartheid e sobre o desafio de assegurar a igualdade de direitos para todos: "Sempre que um grupo de seres humanos é tratado como inferior por outro, o ódio e a intolerância triunfam".
Não deveriam ser necessárias mais centenas de mortes e espancamentos para nos convencer disso.
Compete a todos nós exigir a igualdade para nossos semelhantes, independentemente de orientação sexual e de identidade de gênero.
NAVI PILLAY é alta-comissária das Nações Unidas para os direitos humanos.
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Jovem atacado na Paulista escapou da morte, diz polícia
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DE SÃO PAULO
O depoimento de uma testemunha ontem à polícia de SP complicou ainda mais a situação dos cinco jovens acusados de participar de uma série de agressões na av. Paulista no último domingo.
Após ouvir a versão do vigia Rafael Fernandes, que trabalha em um dos prédios da avenida Paulista, a polícia passou a falar no crime de tentativa de homicídio e pode levar a novo pedido de prisão ou internação dos jovens.
Antes, a polícia falava em formação de quadrilha e lesão corporal gravíssima. Para o delegado-assistente Renato Felisoni, se o vigia não tivesse agido em defesa da vítima, ela poderia ter morrido.
Fernandes disse aos policiais que interveio na agressão contra o estudante Luís, 23, e ainda questionou por que faziam aquilo. "Porque ele é "veado", teria respondido um dos jovens.
O relato do vigia foi dado um dia depois de imagens das câmeras do prédio serem divulgadas pelo "SBT Brasil", anteontem.
Ele diz que, após os três golpes com lâmpada fluorescente (que aparecem no vídeo), Luís acaba encurralado. Leva socos e chutes no rosto de três dos cinco jovens, e continua apanhando mesmo após desfalecer.
A polícia não conseguiu definir quem é quem nas imagens do vídeo.
Na semana que vem, mais duas testemunhas serão ouvidas. A busca por novas imagens continua. O inquérito deve ser concluído em uma semana.
O Ministério Público informou ontem que requisitou as imagens do vídeo. Haverá pedido de apreensão dos menores? "Ainda é cedo para falar", disse o promotor Tales de Oliveira, da Infância.
"O Ministério Público já havia pedido a internação provisória desses meninos, mas a Justiça não concordou. A posição da Promotoria, desde o início do processo, é muito clara no sentindo da necessidade da internação desses adolescentes."
"Uma coisa ficou clara: não ocorreu legítima defesa. A vítima não tentou investir fisicamente. Ela foi tomada de surpresa pela agressão", disse Oliveira.
MANIFESTAÇÃO
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP) organizou ontem, na esquina da Paulista com a Brigadeiro Luis Antonio, perto do local da agressão, uma manifestação contra a homofobia.
Ele e ativistas do movimento gay coletaram assinaturas em prol da aprovação do projeto de lei 122/2006, que criminaliza a homofobia.
(CRISTINA MORENO DE CASTRO, ROGÉRIO PAGNAN e JAMES CIMINO)
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Reportagem veiculada pelo Jornal do SBT desmonta a versão do advogado dos adolescentes de classe média alta que atacaram pessoas de madrugada na Av. Paulista. Nesta versão alegava-se que eles teriam agredido as vítimas por terem sido “provocados” por elas.
Câmera de vigilância de um prédio na área em que ocorreram os fatos filmaram os jovens. Vê-se claramente que as agressões foram gratuitas; nenhuma provocação existiu por parte das vítimas.
Cana para esta molecada!
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