sexta-feira, 19 de novembro de 2010

25 perguntas para Aracy de Almeida, a Dama do Encantado

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Por Gilberto Cruvinel

Aracy Teles de Almeida nasceu em 19 de agosto de 1914. Foi criada no subúrbio carioca, no bairro de Encantado, numa grande família evangélica; o pai, Baltazar Teles de Almeida, era chefe de trens da Central do Brasil e a mãe, dona Hermogênea, dona de casa. Tinha apenas irmãos homens.
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Estudou num colégio no bairro do Engenho de Dentro, onde foi colega do radialista Alziro Zarur, passando depois para o Colégio Nacional, no Méier. Aracy costumava cantar hinos religiosos na Igreja Batista e, escondida dos pais, cantava músicas de entidades em terreiros de macumba e no bloco carnavalesco "Somos de pouco falar". "Mas isso não rendia dinheirim", como Aracy dizia.
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Nesta entrevista, publicada originalmente na Revista da Música Popular, em outubro de 1954. Aracy (A) de Almeida entrevistada por Lúcio (L) Rangel mostra que tinha personalidade e não se intimidava com qualquer pergunta, nem em dar sua opinião sobre figurões da época. E, claro, tinha um humor delicioso e original. Ao ser questionada sobre música, Aracy afirmou colecionar discos de ópera e que adorava "aquele berreiro todo".
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L – Gosta de cantar?
A - Não.
L – E de homem?
A – Adoro.

L - Que acha de Noel Rosa?
A - Divino.
L - E Pixinguinha?
A - Idem.
L – Gosta de cachorro?
A – Muitíssimo.
L – E de comida?
A – Um pouco chato a gente ter de comer.
L - Que acha do uísque falsificado?
A – É a morte.
L – Trocaria um tango por uma palestra?
A – Troco sempre.
L – Qual o maior cantor de todas as épocas?
A – Meu bom Sílvio Caldas.
L – Seu mal é comentar o passado?
A – Vivo do presente, de acôrdo com minha religião.
L – Qual a sua religião?
A – Protestante.
L – Dos livros da Bíblia, qual o seu preferido?
A – O Eclesiastes, aquilo é puro existencialismo.
L – Podendo salvar apenas um, quem livraria de um naufrágio, Caími ou Paulinho Soledade?
A – Caími.
L – Que acha do Barão Stuckart?
A – Não tenho palavras (ou palavrões) para defini-lo.
L – Cite um novo que valha a pena?
A - Antônio Maria.
L – Já cantou músicas dele?
A – Fui eu quem mais gravei músicas de Maria.
L – Com sucesso?
A – Noel, na época, também não fazia sucesso.

P - Já teve vontade de ter um capote agneau rasé?
A - Não gosto de capotes.
L - E de granfinos?
A - Uma quadrilha de chatos, chatos com galochas.
L - E de Bidú Sayão?
A - Rabolina de Bayer.
L – Gosta da popularidade?
A – Detesto.
L – E de homens de bigodinho?
A – Gosto e você sabe, tenho dois deles.
L – Defina um louco?
A – Um sujeito que se viu livre.
L – Ary Barroso?
A – Gosta de cartaz e de pixar os amigos.
L – Quem não deveria ter morrido?
A – Na minha família não morre ninguém há cincoenta anos.
L – Para terminar, diga alguma coisa que ainda não foi perguntada?
A – Gostaria de falar com entusiasmo sôbre São Paulo, minha maior ternura.
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Algumas das muitas e maravilhosas interpretações de Aracy de Almeida, passando por Custódio Mesquita, Ary Barroso (cujo samba Caco Velho fala do Subúrbio do Encantado) e claro, Noel Rosa. Tratada por amigos pelo apelido de "Araca", Noel Rosa disse, em entrevista para A Pátria, em 4 de janeiro de 1936: "Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo".
Precisa elogio maior que esse?

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