quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Epidemia de Aids entra em declínio

São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010



DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
 
Cerca de 33,3 milhões de pessoas no mundo têm o vírus da Aids. Mas a epidemia começa a ser revertida, segundo relatório da Organização das Nações Unidas divulgado ontem.
Ao menos 56 países conseguiram estabilizar ou reduzir o número de novas infecções pelo vírus. Por outro lado, ainda falta acesso ao tratamento para cerca de 10 milhões de pessoas infectadas.
Grupos marginalizados como usuários de drogas e profissionais do sexo têm menos chance de conseguir medicamentos, segundo o programa da ONU para HIV/ Aids (Unaids).
"Pela primeira vez, podemos dizer que estamos quebrando a trajetória da epidemia de Aids. Menos pessoas estão sendo infectadas com o HIV e menos pessoas estão morrendo de Aids", afirmou o diretor executivo da Unaids, Michel Sidibe.
Desde o início da epidemia, nos anos 80, mais de 60 milhões foram infectados e quase 30 milhões de pessoas morreram por doenças relacionadas à Aids.

SEXO MAIS SEGURO
O relatório da Unaids mostra que as novas infecções por HIV foram reduzidas em 20% nos últimos dez anos.
Entre os jovens dos 15 países mais afetados pelo vírus, as taxas de contágio caíram em mais de 25%, por causa da adoção do sexo seguro.
Ainda assim, há duas novas infecções por HIV a cada pessoa que passa a se tratar. "Há alguns anos, havia cinco novas infecções a cada duas pessoas que começavam o tratamento", diz Sidibe. "Reduzimos a distância entre prevenção e tratamento."
Esses resultados não significam que o mundo possa declarar "missão cumprida" no caso da Aids, advertiu ele.
O estudo também mostra que uma em cada quatro mortes por Aids é causada por tuberculose, uma doença evitável e curável.

AMÉRICA DO SUL
Os números da doença para a América do Sul e Central apresentaram poucas mudanças, segundo o relatório. O contágio de crianças também está em queda.
Para o infectologista Jean Gorinchteyn, do ambulatório de Aids em Idosos do Emílio Ribas, em São Paulo, a estabilização da epidemia no país (desde o ano 2000) se deve às campanhas de esclarecimento da população e à distribuição de medicamentos. "Diminuindo a carga viral [do paciente], você reduz o risco de contaminação", afirma Gorinchteyn.
O médico diz que o desafio agora é conscientizar os mais velhos sobre o risco do contágio e estimular o uso da camisinha entre as pessoas com mais de 50 anos. "Há uma dificuldade de falar de sexo com os mais velhos. Eles não usam preservativo, se contaminam e pensam que Aids é só para jovem."


Com agências de notícias

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UOL, 23/11/2010 - 12h40

Uso profilático de antirretroviral diminui infecção por HIV em até 94,9%

DENISE MENCHEN
DO RIO

Estudo realizado por 11 centros de pesquisa de Brasil, Peru, Equador, Estados Unidos, África do Sul e Tailândia mostrou que o uso profilático do antirretroviral Truvada (que reúne as substâncias emtricitabina e tenofovir) pode reduzir o risco de infecção pelo vírus HIV em até 94,9%. Atualmente, o medicamento é usado apenas para o tratamento de pessoas já infectadas pelo vírus, mas não está disponível no Brasil.

A pesquisa contou com a participação de 2.499 voluntários, todos homens, homossexuais e com alto risco de contrair o vírus (estimado de acordo com o número de parceiros e a frequência com que fizeram sexo sem preservativo nos seis meses anteriores ao estudo). Eles foram divididos em dois grupos, um que recebeu o medicamento, e outro que recebeu placebo.
Todos os voluntários foram orientados a tomar um comprimido por dia. Receberam, também, o que é considerado atualmente o melhor pacote preventivo à infecção por HIV, que inclui testes mensais para a detecção do vírus, aconselhamento pré- e pós-teste, camisinhas, tratamento de doenças sexualmente transmissíveis para si e para os parceiros e exames semestrais para a detecção de uretrite assintomática e úlceras genitais, além de sorologia para herpes e sífilis --a presença de outras doenças facilita a infecção e transmissão pelo HIV.
Eles foram então acompanhados por até três anos. Ao fim desse período, foi constatado que a incidência de infecção por HIV foi 43,8% menor no grupo que recebeu o antirretroviral. O resultado, porém, considerou todos os voluntários recrutados para o estudo, independentemente de eles terem ou não tomado os comprimidos como indicado.
A proteção foi subindo à medida em que os pesquisadores foram selecionando aqueles com maior grau de adesão. Comparando apenas os voluntários que relataram ter tomado os comprimidos em pelo menos metade dos dias, o risco de infecção já foi 50,2% inferior. Entre os que relataram ter tomado o medicamento em no mínimo 90% dos dias, chegou a 72,8%.
O melhor resultado, porém, foi verificado em uma amostra dos voluntários com perfil semelhante que tinham praticado sexo anal passivo desprotegido e foram submetidos a testes para detectar a presença de medicamento no sangue --procedimento que não é realizado em todos devido aos custos envolvidos.
Nesses casos, a incidência da infecção pelo HIV foi 94,9% menor entre os que tinham resquícios do medicamento no sangue do que entre os que não tinham. A presença do medicamento significa que a pessoa tomou pelo menos um comprimido nos 14 dias anteriores à coleta --após esse período, os resquícios não são mais detectados.
A pesquisa também testou a segurança do uso do Truvada em pessoas saudáveis. Nas primeiras quatro semanas, o grupo que recebeu o medicamento teve maior incidência de náuseas do que o grupo que recebeu placebo. Em nenhum caso, porém, as náuseas foram fortes a ponto de levar à interrupção do tratamento.
Cinco (0,4%) dos voluntários que receberam a droga também tiveram elevação dos níveis de creatinina, sinal de danos aos rins. Após a suspensão do uso do medicamento, porém, o quadro voltou ao normal.
Ainda de acordo com a pesquisa, a frequência de outros efeitos colaterais foi a mesma nos dois grupos.
Os pesquisadores ressaltaram, porém, que as pessoas não devem tomar o medicamento por conta própria e nem abrir mão do uso de presevativos, considerada a medida mais eficaz disponível hoje para a prevenção da Aids.
No Brasil, a pesquisa foi conduzida pela Fiocruz, pela USP e pela UFRJ.

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