domingo, 19 de abril de 2015

Gramsci avisa: PT está perdendo a guerra de posições









Sul 21, 19/04/2015




Gramsci avisa: PT está perdendo a guerra de posições



Por Mauri Cruz




A formação do PT como experiência da classe trabalhadora brasileira teve várias vertentes. A mais importante delas, sem dúvida, foi aquela que resultou da luta do movimento sindical urbano e rural por melhores salários e contra o desemprego. Houve também a contribuição das lutas urbanas e dos grupos populares contra a fome e a carestia apoiados pela teologia da libertação. É inegável, também, as contribuições teóricas e as reflexões históricas da esquerda mundial que foram incorporadas a cultura petista deste o seu início. Todas estas contribuições tiveram papel fundamental na construção da estratégia política desenvolvida pelo Partido dos Trabalhadores desde o seu nascedouro, há 35 anos.

E qual era esta estratégia?

A primeira orientação estratégica do PT, sempre foi, a de organizar a classe trabalhadora através de um partido político que representasse seus interesses no tabuleiro da luta de classes, dinâmica natural do sistema capitalista. Os trabalhadores precisam ter seu próprio partido, dizia Lula no inicio do PT, e não ficar votando em patrão. O sentido e a mensagem era clara. O PT tem lado.

Sendo a classe trabalhadora a esmagadora maioria do povo brasileiro, o projeto petista não era uma sociedade de bem estar apenas para alguns trabalhadores e trabalhadoras e sim, para toda a sociedade brasileira, entendida e atendido aqui, também os interesses dos pequenas e pequenas empresas, dos servidores públicos, dos profissionais liberais e dos estudantes. A concepção generosa de sociedade onde cabem todos e todas. Menos, aqueles que querem acumula riqueza às custas do trabalho alheio.

Desde sua fundação, por quase 20 anos, o PT governou centenas de cidades e alguns estados brasileiros com um programa e um método diferente de fazer política. Tendo o Orçamento Participativo como carro-chefe e uma visão de gestão pública eficiente, melhorou as condições de vida da população das cidades e estados por onde passou. Mas estava sempre claro. A mudança de verdade só ocorreria quando o PT assumisse o governo federal, onde se concentram as principais funções da gestão politica do país.

E isto ocorreu em 2002. Passados 13 anos dos Governo Lula e Dilma, é inegável que houve mudanças e melhorias significativas para a classe trabalhadora. Aumento real dos salários, acesso à educação, saúde, moradia, e ampliação do acesso à vários direitos. Então porque o PT está sendo hostilizado não só pelas empresas donas da mídia mas por parte da própria classe trabalhadora?

A causa desta hostilização certamente está na falta de politização da própria base social beneficiada pelo projeto petista. E, esta politização, não houve porque faltou intenção e estratégia política do PT para cumprir sua principal missão, qual seja, a organização da classe trabalhadora. Daí a frase do título deste artigo.

Grasmci foi o principal teórico de esquerda a refletir sobre a necessidade da construção da hegemonia na sociedade. Teceu o conceito de que o estado capitalista está para além do aparelho do estado, strictu sensu. Seu pensamento, apesar do tempo, continua muito atual. Destaca-se o conceito de sociedade civil que diz respeito ao aparato de instituições privadas, tais como, as rádios, jornais, blogs, editoras, organizações de cultura, escolas, igrejas e até partidos políticos, que cumprem papel fundamental na manutenção da hegemonia de dominação de classe

Como enfatizava, as atuais sociedades capitalistas, onde ocorreu a socialização da política, o poder que antes era limitado aos “palácios” foi ampliado para a chamada sociedade civil, portanto, não bastam palavras de ordem radicais contra o capitalismo. Precisa-se antes, disputar a hegemonia na sociedade, travando uma espécie de guerra de posições permanente em defesa da concepção da sociedade socialista.

Se é verdade que a esquerda compreendeu que a luta pelo socialismo não passa pela simples tomada de assalto ou, diria eu, por meio de eleições, do poder central do estado, parece que o PT abandonou a ideia que é preciso organizar a sociedade civil para defender sua concepção de sociedade. Aliás, nos dias de hoje, quem está conseguindo cooptar a sociedade civil e construir sua hegemonia são justamente as forças conservadoras.

Se o PT abandonar sua principal missão que era a de organização da classe trabalhadora para o enfrentamento, estará comprometendo o seu futuro e o de todos e todas nós.


Mauri Cruz é advogado socioambiental, especialista em direitos humanos, professor de pós graduação em direito à cidade e mobilidade urbana, diretor regional da Abong.

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