quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Camilla Vallejo ‘lamenta’ não ter apanhado no Brasil

http://www.viomundo.com.br/humor/camilla-valliejo-lamenta-nao-ter-apanhado-no-brasil.html


1 de setembro de 2011 às 21:02

 

Camilla Vallejo ‘lamenta’ não ter apanhado no Brasil


Por Luiz Carlos Azenha



Roberto Stuckert, no blog do Planalto


Segundo a Carta Maior, a líder estudantil chilena Camilla Vallejo — comunista, diga-se — ‘lamentou’ não ter apanhado no Brasil, durante as manifestações em que a União Nacional dos Estudantes pediu a queda dos juros e a aplicação de 10% do PIB na educação. Em vez disso, a UNE e outras entidades estudantis foram recebidas no Palácio do Planalto.
Seria interessante que a UNE se unisse aos professores da rede pública de todo o país que pugnam pelo pagamento do piso nacional dos professores, confirmado pelo Supremo Tribunal Federal.
Quanto a Camila, infelizmente ela não pode vir a São Paulo, onde com certeza experimentaria o assim chamado “cassetete democrático.
A líder chilena tinha um encontro marcado com o presidente do Chile, Sebastian Piñera.
Se viesse a São Paulo, lembraríamos a ela que se trata do estado que importou imigrantes japoneses e italianos para ‘evitar’ os negros da Bahia. Rapidinho, ela ia entender.

Para ver uma entrevista de Camilla à Record News, clique aqui.




Quinta-Feira, 01 de Setembro de 2011

Uma das principais líderes do movimento estudantil chileno,Camila Vallejo, participa da Marcha dos Estudantes, organizada pela 
União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília (Foto: Wilson Dias - ABr)

'Brasil é exemplo e tem governo progressista bem visto'

 
André Barrocal e Najla Passos

BRASÍLIA – A estudante de geografia Camilla Vallejo desembarcou no Brasil, vinda do Chile, na madrugada de terça (30/08) para quarta-feira (31/08), deixando para trás, mesmo que só por poucas horas, ameaças de morte que nem seus olhos verdes e o ar angelical foram capazes de desestimular. Principal líder de manifestações que, nos últimos dias, levaram centenas de milhares de estudantes às ruas de Santiago, a presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh) anda tranquila pela Esplanada dos Ministérios. Exceto pelo calor e o sol inclemente, dos quais tenta se proteger com um boné vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Na manhã de quarta, ela participa de – e ajuda a atrair atenção para - uma mobilização de jovens brasileiros que exige mais verba à educação. “Me sinto muito mais segura aqui do que no Chile, não há repressão policial”, diz Camila à Carta Maior, em frente ao Congresso Nacional, onde um carro de som anima, com palavras de ordem e músicas, milhares de estudantes brasileiros. “Há uma união das lutas de todo povo latino-americano. Há uma causa comum e demandas muitas vezes parecidas, principalmente no tema econômico”, afirma Camila, ao explicar a presença no ato, uma espécie de retribuição à ida a Santiago, dias atrás, de seu equivalente brasileiro, Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

“O que você acha do Brasil e do governo brasileiro?”, pergunta a reportagem, em espanhol precário.

O Brasil é um bom exemplo para o Chile, tem um governo progressista muito bem visto”.

“E da presidenta Dilma?”

Sou militante comunista e conheço o passado militante dela, vejo ela com simpatia.”

“Qual o saldo das manifestações no Chile até agora?”

“Logramos despertar a consciência política, o assunto passou a ser discutido dentro das casas, como não se fazia há décadas.”

Horas depois, com mais calma, e após participar de reunião da direção da UNE com Dilma, Camila dará um depoimento mais completo, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Presidida por uma ex-líder estudantil, Manuela Dávila (PCdoB-RS), a comissão realiza a audência em solidariedade aos chilenos.

A legislação chilena regulamenta o direito de manifestação pacífica nas ruas, sem necessidade de autorização prévia, e mesmo assim a polícia, completamente militarizada, tem combatido os estudantes e trabalhadores com violência, usando gás lacrimogêneo, que, no nosso país, é considerado arma de guerra”, conta Camila.

Já são quatro vítimas fatais desde o início dos protestos e pelo menos 500 pessoas presas de forma ilegal. Temos relatos também que indicam a prática de tortura, inclusive com choque elétrico e abuso sexual de menores.”

A criminalização dos movimentos sociais, tratados como os causadores da violência que assola o país, também incomoda a militante. “Todo o movimento organizado chileno sofre com a violência psicológica provocada pelo discurso político do governo, que nos acusa de sermos culpados pelas mortes e ferimentos dos nossos próprios companheiros”, relata.

Para Camila, a rápida adesão do Chile ao neoliberalismo, na ditadura Pinochet (1973-1990), liquidou com o sistema de proteção social do país e colocou em risco o acesso dos cidadãos a direitos considerados fundamentais nas sociedades democráticas. “Hoje, no Chile, a educação é tratada como um bem de consumo qualquer, e não como um direito social”, diz.

A situação dos estudantes brasileiros é melhor do que a dos chilenos porque eles conseguiram uma interlocução real com a sociedade e com o governo. E, com isso, obtiveram conquistas, mesmo que pequenas. No Chile, só agora conseguimos construir uma pauta conjunta com a sociedade. Nosso modelo educacional está falido, obsoleto e isso incomoda a maioria das famílias chilenas. Só uma parcela muito pequena da população tem acesso à educação gratuita”, afirma a estudante de geografia.

Segundo ela, das cerca de 3,5 milhões de matrículas na educação básica, metade está atrelada ao sistema de subvenção estatal, por meio de créditos educacionais. “Só as famílias muito pobres têm direito à educação pública. A classe média, que é a maioria, recebe bolsas do governo.  Com isso, o governo investe o pouco dinheiro que destina à área no setor privado. E há, aí, um claro conflito de interesses, porque muitos políticos são também os proprietários do sistema privado de educação”, esclarece.

A estudante afirma que a situação é ainda pior nos demais níveis. No ensino médio, as instituições privadas abarcam metade dos alunos. No superior, o índice chega a 80%. “Apenas 20% dos estudantes universitários estão nas instituições públicas, mas mesmo assim têm que pagar pelo ensino. Não existe mais educação superior gratuita no Chile. E os custos são altíssimos. Um curso em uma instituição pública chega a custar US$ 5 mil por mês”, afirma Camila.

Para garantir que uma pequena parte das famílias de classe média e baixa tenha acesso à educação, o governo oferece subvenção, por meio de um complicado sistema de crédito, que os alunos têm que pagar posteriormente. Os juros são altos e inviabilizam a quitação para recém-formados que disputam a tapas uma vaga no mercado de trabalho do país: estudantes das universidades públicas pagam 2% de juros ao ano e, das particulares, 5,8%. Com esse sistema, os alunos pagam de três a quatro vezes o preço do curso

Para ela, o problema principal, entretanto, é a concepção de educação que prevalece no atual governo. “As instituições públicas têm que se autofinanciar e, para isso, não apenas cobram mensalidades, como entram no jogo de oferecer o ensino que o mercado quer. Não há uma formação humanística, crítica, que estimule a prática democrática, mas apenas uma formação tecnicista, mercadológica. Por isso, necessitamos de reformas profundas, e não apenas de mais recursos para a área”.

Na noite de quarta (31/08), Camila encerra a visita ao Brasil. Tem de voltar logo ao Chile, para um encontro com o presidente Sebastian Piñera. Que a receberá depois de o presidente de um outro país tê-lo feito.


Friedman e Pinochet, o Velho e o Novo Testamento Neolibera

http://marcelosouzarn.com.br/blog/modelo-novo-vladimir-safatle-via-fsp/

Modelo novo
   
 
VLADIMIR SAFATLE

Para o bem e para o mal, o Chile sempre foi visto como modelo para a América Latina. No início dos anos 60, o país procurou implementar o mais ousado projeto de socialismo democrático que o continente conheceu.
Todos estavam atentos à situação chilena na esperança de que se abrisse lá outra via de mudanças sociais que preservasse conquistas da democracia parlamentar. Nos anos 80, o Chile foi o laboratório para as políticas neoliberais que, nos anos 90, assolaram Argentina, Brasil, Venezuela, Equador e outros países.
Graças aos “Chicago boys”, economistas formados pelo receituário neoliberal de Milton Friedman, a ditadura de Pinochet pôs em marcha um processo de retomada econômica com desigualdade e fratura social. Depois dos primeiros anos de recessão profunda, o regime militar procurava recompor a economia chilena às custas, entre outros fatores, da privatização da educação, da saúde e da previdência.
Nada disso foi questionado nos 20 anos de outro modelo que o Chile procurou exportar para o continente, a “estabilidade política” através da Concertação, aliança centrista capitaneada pelo Partido Socialista e pela Democracia Cristã.
Não foram poucos os que sonharam com algo parecido no Brasil por meio da deposição de armas entre PT e PSDB.
Mas, nesse período, enquanto o país crescia, a população continuava a endividar-se para pagar a educação de seus filhos, já que mesmo as universidades “públicas” cobravam pesadas taxas. Famílias pobres precisam, muitas vezes, escolher só um de seus filhos para ir à escola, já que não podem pagar por todos.
O Chile volta a fornecer outro modelo para a América Latina: o de uma nova dinâmica de lutas políticas. Milhares de estudantes exigem “educação pública e de qualidade”.
Para além de diatribes genéricas contra o capitalismo, temos uma questão concreta que só é pontual em aparência. Exigir do Estado que cumpra sua obrigação educacional implica, entre outras questões, mudar o perfil da política tributária, obrigar ricos a pagarem mais impostos, forçar o igualitarismo social. Ou seja, temos uma questão específica com força para abrir as portas a reformas sociais profundas.
Todos falam que a educação é a chave para o desenvolvimento, mas ninguém tem coragem de pagar o preço. Os estudantes chilenos resolveram expor a hipocrisia, recebendo apoio maciço da população. A maioria dos chilenos (77%) entendem que as demandas estudantis são justas.
Não por outra razão, o presidente Piñera tem a menor taxa de aprovação da história recente do Chile (26%).
Quando o modelo do levante estudantil chileno chegar ao Brasil, saberemos que entramos em uma nova fase de recuperação da política.



Um balaço que feriu todo o Chile

Christian Palma – Correspondente da Carta Maior em Santiago

Na noite de 24 de agosto, último dia da greve nacional convocada pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT), Manolito saiu de sua casa para acompanhar seu irmão Gerson, em uma cadeira de rodas, a fim de observar os “panelaços” da população contra o atual governo de direita, presidido por Sebastian Piñera. Mas Manuel nunca voltou para casa. Uma bala perdida o atingiu no tórax. Manuel Gutiérrez Reinoso tinha 16 anos e era um fiel integrante da Igreja Metodista Pentecostal, da vila Jaime Eyzaguirre, um dos setores populares da comunidade de Macul, localizada na zona sudeste de Santiago.

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