domingo, 4 de setembro de 2011

Bancos promotores da crise lucram US$ 42 bi

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O Globo.com, 03/09/2011


2008, o ano que não terminou

Nos três anos de crise internacional, instituições financeiras lucram US$ 42 bi e países se afundam em dívidas

 
Bruno Villas Bôas (bruno.villas@oglobo.com.br)


RIO - Quase três anos após a quebra do megabanco de investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, a crise financeira internacional que teve origem no mercado imobiliário americano com as hipotecas de alto risco, as chamadas subprime, segue abalando mercados e assombrando governos. Os cofres públicos e bancos centrais de todo o mundo já arcaram com US$ 12,4 trilhões até agora para incentivar suas economias e limpar os estragos provocados por grandes bancos globais. Essa conta se transformou numa dívida explosiva de países e cobra sua conta social. As instituições financeiras socorridas na crise, no entanto, estão muito bem, obrigado. Seis dos principais bancos ajudados na crise - Bank of America Merrill Lynch, BNY Mellon, Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan Chase e Morgan Stanley - lucraram, somados, US$ 42,4 bilhões no ano passado, aumento de 40% na comparação a 2009. E os bônus dos grandes executivos de Wall Street voltaram, com pagamentos que em um dos casos chegou a US$ 23,3 milhões.


Domingo, 04 de Setembro de 2011

A TRANSPARÊNCIA DA CRISE
 

A semana começa iluminada pela  vertiginosa transparência que as crises irradiam quando atingem seu domínio sobre a economia e a sociedade. Em entrevista neste domingo à revista alemã Der Spiegel, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,voltou  a advertir:  um novo ciclo de recessão está a caminho. Sinal dos tempos, convocou Estados a redobrarem esforços de investimento e capitalização bancária para evitar o pior. As advertências de Lagarde  legitimam a decisão tomada  pelo BC brasileiro que na semana passada desgostou os mercados. Consultores da banca e seus ventríloquos na mídia demotucana receberam mal a redução de meio ponto na taxa de juro mais alta do mundo.  

Menos de 24 horas depois vinha dos EUA uma ratificação do diagnóstico embutido no corte da Selic brasileira
: a crise mundial  se aprofunda. Em agosto, a maior economia capitalista não gerou nenhuma vaga de emprego.  Na próxima 5ª feira será a vez de Obama desagradar a lógica do extremismo ortodoxo que na sua versão nativa ou forânea prescreve o arrocho fiscal como maravilha curativa para a maior crise do capitalismo desde 29. Obama abre a sua campanha pela reeleição anunciando um programa de geração de empregos  a contrapelo do suicídio fiscal imposto pela Tea Party contra sua administração. Num certo sentido, a eleição de 2012  nos EUA  confrontará duas grandes vertentes que se enfrentam  nas respostas à crise mundial. De um lado, um neoliberalismo cego que resolveu dobrar a aposta na desregulação financeira, responsável pelo colapso em curso no planeta. De outro, a ainda tíbia mas correta tentativa esboçada em diferentes países - inclusive no Brasil, para suprir R$ 30 bilhões que faltam à saúde pública - de taxar os ricos para financiar o investimento público travado pela crise.

Durante décadas a hegemonia neoliberal aprisionou o debate econômico numa espécie de escolha de Sofia: as opções de desenvolvimento  estariam restritas ao endividamento insustentável dos Estados, capturados pelo rentismo como usinas de juros, ou o arrocho salazarista, vendido pela mídia como a dolorosa purgação rumo ao paraíso. Protegida por esse falso dilema engordou a riqueza despudoramente isenta ou sub-taxada  por sistemas tributários amigáveis à plutocracia. A crise implodiu essa fraude ao exaurir os Tesouros no socorro à desordem  financeira. O déficit  fiscal das sete maiores economias do mundo  ultrapassa atualmente U$ 41 trilhões: 70% do PIB mundial.

O Estado brasileiro gasta mais com juros do que com a saúde pública ou a educação
. O Chile com um a carga fiscal de apenas 17% do PIB  - a média européia é de 48% - não tem respostas a dar aos estudantes que exigem escola pública de qualidade para todos. Obama não conseguirá ressuscitar o emprego sem políticas públicas para as quais falta-lhe  o mesmo do que se ressente Dilma para acudir a saúde e Piñera para democratizar a educação, Zapatero para atender aos indignados: receita fiscal líquida, originária da taxação da riqueza e não mais do endividamento imobilizante. A ver.

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