Por Dalva de Oliveira
Embora tenha apreciado alguns livros de Kipling, frente às novas informações dou as costas a ele, como dou a qualquer reacionário de qualquer época e grau.
"Em 1899, o poeta Rudyard Kipling, de volta à Inglaterra depois de uma demorada estada nos Estados Unidos, publicou um poema que teve enorme impacto naquela época e que até hoje ainda repercute. Intitulava-se 'The white man's burden', 'O Fardo do Homem Branco', que ficou na história como um chamamento à conquista imperialista do mundo pelos americanos e europeus em geral. Para Kipling, o domínio do planeta era uma missão que todos os homens brancos deviam assumir, como um fardo, uma obrigação dos civilizados do mundo para com a parte que consideravam selvagem ou bárbara.
"Em 1899, o poeta Rudyard Kipling, de volta à Inglaterra depois de uma demorada estada nos Estados Unidos, publicou um poema que teve enorme impacto naquela época e que até hoje ainda repercute. Intitulava-se 'The white man's burden', 'O Fardo do Homem Branco', que ficou na história como um chamamento à conquista imperialista do mundo pelos americanos e europeus em geral. Para Kipling, o domínio do planeta era uma missão que todos os homens brancos deviam assumir, como um fardo, uma obrigação dos civilizados do mundo para com a parte que consideravam selvagem ou bárbara.
O alvoroço começou em Manila, capital das Ilhas Filipinas, em 4 de fevereiro de 1899, quando o povo local insurgiu-se contra os norte-americanos.
Souberam que, pelo Tratado de Paris de 1898, eles simplesmente haviam trocado de dono. Ou, senão, comprados, pois os americanos indenizaram os antigos senhores com $ 20 milhões de dólares. Assinado pelo Reino da Espanha, derrotado pelos Estados Unidos na guerra daquele ano, o documento, retificado pelo congresso norte-americano em 6 de fevereiro de 1899, apenas confirmava a saída dos espanhóis vencidos das suas antigas possessões coloniais e a chegada dos ianques vitoriosos.
As tropas americanas, que recém-recompunham-se da guerra que haviam travado contra os espanhóis em Cuba, Porto Rico e nas Filipinas,não hesitaram em abrir fogo contra uma multidão de filipinos em fúria. Consta que, no final do motim urbano, três mil mortos e feridos amontoaram-se pelas ruas e sarjetas de Manila.
O Chicago Tribune, comentando o episódio, assegurou entretanto que "O massacre de Manila foi necessário, se bem que não glorioso. A população inteira dos Estados Unidos justificou a conduta do nosso exército em Manila porque somente com a repressão violenta dos filipinos a nossa posição poderia ser mantida. Nós somos os fiadores da civilização e da paz em todas as ilhas"...
Contra o tratado de Paris
A primeira demanda dos antiimperialistas foi encaminhar um documento com 50 mil assinaturas para que o Senado repudiasse o tratado (no final, aprovado com a maioria de 61 x 29). A polêmica dominou os jornais americanos. A recente política colonial assumida pelo governo norte-americano, o que implicava no domínio de um povo sobre outro, não comprometeria, questionavam os críticos, os ideais mais profundos dos Estados Unidos, identificados com o autogoverno numa sociedade de homens livres? Por acaso, o tratado, não configurou-se um evidente caso de usurpação da liberdade, visto que os cubanos e os filipinos haviam pego em armas bem antes da intervenção americana e, no final, viram-se esbulhados em suas legítimas intenções?
Canhão da marinha americana na guerra contra os espanhóis | ||
O imperialismo benigno
Tio Sam dando remédio colonial |
Os que advogavam a causa do imperialismo diziam que dificilmente cubanos ou filipinos poderiam manter a independência das suas pátrias por algum tempo. Habitantes de ilhas indefesas, tanto Cuba como as Filipinas cairiam fatalmente no controle de algum outro poder imperial qualquer. Por que então não permanecer nas mãos dos Estados Unidos, já que suas tropas já estavam lá acampadas? Devia-se ser realista. Além disso,ponderaram, as instituições democráticas eram atributos de povos evoluídos, civilizados. Como imaginar que nativos primitivos, "meio-crianças, meio-diabos", como os definiu Kipling, poderiam ambicionar um regime assim? As raças escuras ou mestiças que povoavam aquelas ilhas seriam favorecidas por uma boa e honesta administração do homem branco, que introduziria entre eles costumes de higiene e padrões mais elevados de cultura. Talvez, mais tarde, com a evolução natural das coisas, eles, os nativos, pudessem vir a alcançar um sistema representativo autônomo, mas não naquele momento. Um dos mais estridentes dos porta-vozes da política imperialista, o senador Albert Beveridge sintetizou esse sentimento irreprimível de conquista dizendo: "As Filipinas são nossas para sempre... Nós não vamos renunciar da nossa parte na missão da nossa raça... confiante em Deus, de civilizar o mundo."
O fardo do Homem Branco
Rudyard Kipling
Alcançado pela polêmica que, atravessando o Atlântico, o pegou em Londres, Rudyard Kipling, que vivera alguns anos em Vermon, nos Estados Unidos, resolveu compor um poema especialmente para a ocasião. Intitulou-o 'The white man's burden', ''O fardo do homem branco' - imediatamente reproduzido no McClure´s Magazine dos Estados Unidos em fevereiro de 1899 - onde, em sete estrofes, exortou os norte-americanos, tal como os ingleses, de quem eles descendiam, a assumirem o seu papel histórico de povo imperialista. "Enviem para lá", para as colônias, conclamou ele, "os melhores de vocês. Dêem seus filhos para o exílio para que eles sirvam às necessidades dos cativos, mantendo-os, tal povo confuso e selvagem, nos arreios". Que eles tivessem paciência emsuportar e travar "as selvagens guerras pela paz", pois este é o fardo do homem branco. E, como agradecimento por esses anos todos de sacrifício, frios, disse ele, apenas contem com a opinião judiciosa dos seus pares. Kipling, dessa forma, transformava as conquistas coloniais na grande missão da raça caucasiana, tarefa nobre da qual ela bem pouco poderia esperar algo em troca - visto que era um fardo que a Providência determinara que os brancos assumissem. Simbolicamente, ele metamorfoseava uma política de agressões e rapinas praticadas pelos europeus colonialistas, numa incumbência tão meritória como a de Atlas, o titã grego punido por Zeus para sustentar o mundo às costas."
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