segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Documentário argentino sobre Lula

http://www.conversaafiada.com.br/video/2011/02/28/lula-em-video-argentino-mae-protege-o-mais-fraco-eu-tambem/

Lula em vídeo argentino: mãe protege o mais fraco. Ele também

    Publicado em 28/02/2011

O Conversa Afiada recomenda assistir a um documentário – muito bem feito – sobre Lula.

O documentário da TV Pública argentina sobre Lula está em http://www.youtube.com/watch?v=SnpIuZ5ISlo : “El ciclo ‘Presidentes de Latinoamérica debutó en la Televisión Pública de Argentina (http://www.tvpublica.com.ar/tvpublica/) de la mano de Luiz Inacio “Lula” Da Silva, primer mandatario de la República Federativa del Brasil.”

É um longo depoimento do Nunca Dantes sobre ele mesmo e seu Governo.

Diz ele: o melhor exemplo de governança você não aprende em livro nenhum. Aprende com a mãe. Ela gosta de todos os filhos, mas protege o mais debilitado. Se precisa dar um pedaço a mais de carne para o mais debilitado, ela dá.

E ainda querem elogiar a Dilma para falar mal dele.

Engraçado !

Paulo Henrique Amorim

EUA a um passo da absoluta ditadura do capital

Os EUA a um pequeníssimo passo de se tornar uma absoluta ditadura do capital. Que momento histórico aterrador!

Que os trabalhadores e as forças democráticas de Wisconsin não sejam derrotados.



http://media.cleveland.com/darcy/photo/27ggdarcy-2jpg-052233fdac01f915.jpg


http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/doutrina-do-choque-estados-unidos.html



28 de fevereiro de 2011

Doutrina do Choque, Estados Unidos

Shock Doctrine, U.S.A.
By PAUL KRUGMAN, no New York Times
Published: February 24, 2011

Aqui vai uma reflexão: talvez Madison, Wisconsin, não seja mesmo o Cairo. Talvez seja Bagdá — especificamente, Bagdá em 2003, quando o governo Bush colocou o Iraque sob o controle de autoridades escolhidas mais pela lealdade e confiabilidade políticas do que pela experiência ou competência.
Como muitos leitores vão lembrar, os resultados foram espetaculares — no mau sentido. Em vez de focar nos problemas urgentes de uma economia e sociedade destroçadas, que em breve mergulhariam em uma guerra civil assassina, os nomeados por Bush estavam obcecados com a imposição de sua visão ideológica conservadora. De fato, com saqueadores ainda soltos pelas ruas de Bagdá, L. Paul Bremer, o vice-rei americano, disse a um repórter do Washington Post que uma de suas maiores prioridades era “corporificar e privatizar as entidades estatais [iraquianas]– palavras do sr. Bremer, não do repórter — e “afastar das pessoas a ideia de que o estado está presente em tudo”.
A história da obsessão privatista da Autoridade Provisória de Coalizão é central no best seller de Naomi Klein, “A Doutrina do Choque”, que argumentou que o Iraque fazia  parte de uma tendência mais ampla. Desde o Chile nos anos 70, ela sugeriu, ideólogos da direita exploram crises para empurrar sua agenda, que não tem nada a ver com a resolução das crises, mas tudo a ver com a imposição de uma sociedade mais dura, mais desigual, menos democrática.
O que nos leva a Wisconsin 2011, onde a doutrina do choque está sendo demonstrada em seu conjunto.
Em semanas recentes, Madison é o cenário de grandes demonstrações contra o orçamento do governador, que negaria o direito de barganha coletiva aos trabalhadores do setor público. O governador Scott Walker alega que precisa aprovar a lei para lidar com os problemas fiscais do estado. Mas seu ataque aos sindicatos não tem nada a ver com o orçamento. Na verdade, os sindicatos já deixaram clara sua posição de fazer substanciais concessões financeiras uma oferta que o governador rejeitou.
O que está acontecendo em Wisconsin é, na verdade, uma jogada de poder — uma tentativa de explorar a crise fiscal para destruir o último contrapeso ao poder político das corporações e dos ricos. E a jogada de poder vai além de destruir os sindicatos. A lei em questão tem 144 páginas e há algumas coisas extraordinárias encondidas nela.
Por exemplo, a lei inclui linguagem que permitiria a autoridades nomeadas pelo governador fazer grandes cortes no seguro de saúde de famílias de baixa renda sem passar pelo processo legislativo normal.
E então há isso: “Sem considerar ss. 13.48 (14)(am) e 16.705 (1), o departamento pode vender qualquer usina de aquecimento, esfriamento ou hidrelétrica ou pode contratar entidade privada para a operação de tal usina, com ou sem concorrência pública, por qualquer valor que o departamento determinar ser o melhor para os interesses do estado. Apesar da ss. 196.49 e 196.80, nenhuma aprovação ou certificação de uma comissão de serviço público é necessária para que uma empresa pública compre ou contrate para a operação de tal usina, e qualquer compra é considerada de interesse público desde que considere os critérios de certificação do projeto sob s. 196.49 (3)(b)”.
O que significa isso? O estado de Wisconsin é dono de um certo número de usinas que fornecem aquecimento, refrigeração e eletricidade a entidades estatais (como a Universidade de Wisconsin). A linguagem na lei do orçamento permite, na verdade, que o governador privatize qualquer uma delas. Não apenas isso, ele poderia vendê-las, sem concorrência, a quem ele escolher. E note que qualquer venda destas, por definição, seria “considerada de interesse público”.
Se parece a você a perfeita armação para compadrio e lucro — lembram-se daqueles bilhões sumidos no Iraque? — você não está só. Na verdade, existem tantas cabeças suspeitando da Koch Industries, de propriedade dos irmãos bilionários que jogam um papel decisivo na ofensiva do sr. Walker contra os sindicatos, que a empresa se sentiu forçada a emitir uma nota dizendo que não está interessada na compra das usinas. Você se sente seguro disso?
A boa nova de Wisconsin é que o ultraje público — ajudado pelas manobras dos democratas no Senado estadual, que se ausentaram para negar quorum aos republicanos — reduziu a marcha dos lerdos. Se o plano do sr. Walker era aprovar a lei antes que as pessoas tivessem noção de seus reais objetivos, aquele plano fracassou. E os eventos em Wisconsin podem ter impactado outros governadores republicanos, que pareciam a caminho de apoiar jogadas parecidas.
Mas não esperem que o sr. Walker ou o resto de seu partido mudem seus objetivos. Destruir os sindicatos e privatizar continuam sendo prioridades e os republicanos vão continuar a esconder estas prioridades sob o discurso de “equilibrar o orçamento”.
PS do Viomundo: Acreditamos que a matriz do pensamento ultraliberal continua lá, firme e forteE que de lá essa ideologia — de criminalizar os movimentos sociais em geral e o sindicalismo em particular — continuará a ser exportada. Poderemos influenciar no grau de adesão a ela, não mais que isso, já que parcelas consideráveis da própria esquerda já aderiram ao discurso da “estabilidade” a qualquer custo (lógico, estabilidade hierarquizada, com os interesses da banca acima dos demais).

Protestos nos EUA: Por que Madison importa



Protestos nos Estados Unidos: Por que Madison importa


Andrew Levine - SinPermiso

Os progressistas vêem o Wisconsin – e os problemas trabalhistas vindouros em Indiana, Ohio, Nova Jersey e outros lugares – e corretamente enxergam um ataque republicano. A terrível decisão “Citizens United” da Suprema Corte deu carta branca às corporações e aos sindicatos para comprar eleições; sem os sindicatos, só restariam as corporações. Com os sindicatos de companhias privadas passando por problemas, em especial depois do TLC, os sindicatos dos servidores públicos são os únicos que restam entre as companhias e um domínio total do sistema político, onde o dinheiro sempre prevalece. Dado que as corporações geralmente preferem os republicanos sobre os democratas, os republicanos tem tudo para ganhar e os democratas, para perder, se o governador Tea Party do Wisconsin, Scott Walker, sai com as suas.

É difícil entender como alguém que teve seus cinco sentidos funcionando nesses últimos anos poderia lamentar o infortúnio dos democratas, mas muitos liberais ainda o fazem. No entanto, o fato é que os democratas são o menor dos males entre nossos dois partidos semioficiais. Esta é a razão pela qual, sem importar o quanto Obama tenha traído os seus aliados-chave, inclusive os trabalhadores, o que quer que se postule contra ele será pior em várias ordens de magnitude. Os democratas e os republicanos ambos servem aos mesmos empregadores e mantêm seus interesses com fervor sem igual. E graças a Bill Clinton, até a flácida ala social democrata do partido foi destruída. Merecem que lhes aconteça o que for. Mas a alternativa é pior. Por fim, importa que a ofensiva seja derrotada, sim.

Conforme a batalha no Wisconsin se intensifica, fica cada vez mais claro, em especial nos círculos dos trabalhadores, que o aspecto republicanos contra democratas é só algo secundário ao ataque do capital contra os trabalhadores. Isto importa mais do que como os democratas e os republicanos dividam entre si os resultados nas próximas eleições.

O que está em jogo é o final da chamada “Revolução Reagan. Num mundo onde aos liberais já não importa a grande fissura da desigualdade, ou um prêmio Nobel da Paz que está em múltiplas guerras sem fim por sua própria vontade ou um professor de direito constitucional que continua os ataques da era Bush contra a lei (ao mesmo tempo em que protege os criminosos de guerra da era Bush) ou um ambientalista que nada faz de importante para evitar que a América corporativa destrua o planeta ou um organizador comunitário que detenha esforços para reduzir a pobreza (de maneira ingênua, ao reduzir o déficit orçamentário), a realização do programa máximo de Reagan não está longe. Um ataque vitorioso contra os trabalhadores organizados resolveria o problema de uma vez por todas.

Afortunadamente, para todos nós, este é um resultado que os trabalhadores – ou, como agora dizem os liberais, “a classe média” – não podem tolerar. Tampouco alguém deveria fazê-lo. Esta é uma batalha que os trabalhadores devem ganhar.

Mas essa não é a razão principal por que Madison importa. Não são só os sindicatos associados com os democratas o que Walter e seus colegas de Tea Party desejam destruir; são os sindicatos dos servidores públicos. Isto importa por razões que são muito mais obscuras que as demais, mas que estão claramente relacionadas com nossos problemas contemporâneos: a fiscalização do capitalismo contemporâneo, a globalização da indústria e do comércio e, de maneira mais geral, o ataque mundial aos avanços econômicos e sociais conquistados no último século e meio. O problema, em resumo, é que, para sobreviver o capitalismo precisa se expandir e, com tão poucas áreas com espaço disponível, a esfera pública se torna tentadora demais para resistir.

É por isso que as elites económicas miraram as instituições que até agora tinham evitado a mercantilização total. Ninguém mais as protege hoje em dia que aqueles que nelas trabalham. Certamente, a administração Obama não o faz. Não é um acidente que os professores estejam na frente de batalha para salvar as negociações coletivas no Wisconsin. Claro, os seus direitos e bem estar lhes importam, mas também a opinião pública importa. Podemos dizer o mesmo de Arne Duncan e Barack Obama?

Ninguém sabe como acabarão os eventos em Madison. Mas isto está claro: puseram a privatização da esfera pública em debate como ninguém o fez nas últimas décadas.
Quando os empregados públicos lutam para manter a esfera pública viva, estão lutando a batalha doméstica mais importante dos nossos tempos. Deveríamos apoiá-los sem restrições, buscando não só restaurar os níveis de solidariedade social pré-Reagan, mas nos mover para além de seus horizontes. As forças por trás de Scott Walker entendem isso; cada vez mais os trabalhadores e os seus aliados, também. Começam a se dar conta de que seus esforços para salvar negociações coletivas frente a um ataque selvagem da direita converteu Madison no “Grau Zero” de uma batalha com implicações tão grandes quanto possível.

(*) Andrew Levine é Acadêmico Sênior no Institute for Policy Studies. É autor de The American Ideology (Routledge) e Political Key Words (Blackwell), bem como de muitos outros livros de filosofia política. Foi professor na universidade do Wisconsin-Madison

Tradução: Katarina Peixoto

Israel semeia tempestade

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São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


INTELIGÊNCIA/ROGER COHEN

Saindo da postura defensiva
 
LONDRES

Houve uma palavra que não ouvi durante as duas semanas passadas na praça Tahrir, no Cairo, e nas redondezas: Israel.
Temas diversos, desde os direitos das mulheres até o Estado de direito, surgiam regularmente, mas o Estado judaico não fazia parte da pauta de ninguém.
É boa notícia para o Oriente Médio o fato de árabes estarem focando o mau governo de árabes por parte de árabes. A primavera árabe é o acontecimento global mais importante e mais auspicioso em duas décadas. A maneira mais estúpida de desviá-la de seu rumo seria iniciar outra guerra radicalizadora na região, quer fosse entre Israel e um país vizinho ou entre o Ocidente e o Irã.
A melhor maneira de reforçar a campanha por sociedades árabes democráticas que acabem com a humilhação rotineira de seus cidadãos - e os ímpetos extremistas que essa humilhação gera - seria um avanço entre Israel e a Palestina que está para ser.
Salam Fayyad, primeiro-ministro da Autoridade Palestina, me disse: "Honre a transformação, resolvendo este conflito! O que de mais importante poderíamos fazer para validar esse renascimento e despertar do que trazer a estabilidade da paz?"
Lamentavelmente, não detecto muito pensamento ou motivação novos por parte do lado israelense. O premiê Binyamin Netanyahu está mais ocupado em lançar avisos sobre novos Irãs que vão surgir das revoluções árabes do que em saudar a ampliação do clube democrático no Oriente Médio, que até agora tem sido minúsculo. Isso revela miopia e é um equívoco.
As outras palavras que eu não estava ouvindo no Egito ou em Túnis eram islamismo ou jihad. Os levantes que vêm acontecendo desde a Líbia até o Bahrein reivindicam liberdade e representação. São dirigidos contra déspotas envelhecidos com seus tigres de estimação, gente que, como Nero, tocava lira, enquanto suas populações jovens ardiam em chamas. Essas revoluções nada devem ao fanatismo religioso que acompanhou o nascimento da República Islâmica iraniana em 1979.
A mensagem radical do Irã tem se alimentado de três coisas: os dois pesos e duas medidas ocidentais que estão por trás do apoio dado pelos EUA a gente como Hosni Mubarak, o ex-presidente do Egito; a frustração presente entre as populações árabes subjugadas e o conflito israelo-palestino, uma ferida que nunca cicatriza. Uma resolução dos dois primeiros fatores agora tornou-se possível. O terceiro precisa ser encarado de frente.
É imperativo que Israel saia da posição defensiva que enxerga um radical islâmico em potencial em cada árabe que reivindica democracia. Israel precisa reconhecer as transformações que estão colocando a conquista de direitos, a não violência e a ascensão por mérito no topo de uma nova agenda árabe. Em nenhum lugar, isso é mais evidente que na rapidamente crescente Cisjordânia, onde instituições estão ganhando forma, investimentos vêm chegando, e os fundamentos de um Estado estão sendo construídos.
No entanto, Israel vem reagindo com desconfiança às ações de construção de um Estado realizadas por Fayyad, e a agressão é evidente na ampliação dos assentamentos e nas incursões militares em áreas controladas pelos palestinos.
Tudo isso transmite uma mensagem clara de Israel: preferimos humilhar vocês a coexistir pacificamente com vocês.

Ao mesmo tempo, a administração Obama tomou a medida curiosa de vetar uma resolução das Nações Unidas que empregava o discurso do próprio presidente Obama sobre a necessidade de parar com as construções nos assentamentos israelenses na Cisjordânia. Assessores de Obama disseram que a resolução não ajudava; os aliados dos EUA, entre os quais o Reino Unido e a França, votaram, corretamente, em favor dela. A única justificativa possível deste rumo americano seria uma promessa feita por Israel a Obama, nos bastidores, de um gesto equivalente em troca, sob a forma de uma concessão significativa aos palestinos.
Vou aguardar essa concessão com curiosidade e impaciência. Se os árabes tivessem esperado que todos os astros estivessem alinhados antes de agirem, eles jamais teriam se livrado de seus ditadores. Se Israel esperar até que todos os astros se alinhem - sim, as divisões entre Hamas e palestinos são problemas -, vai semear a tempestade, em lugar de aproveitar as oportunidades que a primavera árabe proporcionou.

EUA tem 11 milhões de imigrantes ilegais

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São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


EUA tem 11 milhões de imigrantes ilegais, aponta documento

DE SÃO PAULO

Um relatório do Departamento de Segurança Interna do governo dos EUA apontou que, em janeiro de 2010, o país tinha 11 milhões de imigrantes sem permissão.
O documento revela que 80% dos estrangeiros ilegais (8,6 milhões) são de Canadá, México e América Central. Da Ásia provém 1 milhão de imigrantes ilegais para os EUA e, da América do Sul, 800 mil.
O México continua a ser o principal país de origem dos imigrantes que entram sem permissão nos EUA. Aproximadamente 6,6 milhões de mexicanos vivem ilegalmente no país, o que corresponde a 62% do número total.
Além do México, os principais países de origem dos imigrantes ilegais nos EUA são El Salvador, Guatemala, Honduras, Filipinas, Índia, Equador, Brasil, Coreia do Sul e China, nessa ordem.
O relatório ainda revela que, entre 2000 e 2010, a quantidade de imigrantes ilegais em território norte-americano cresceu 27%. De 2000 a 2007, houve um aumento de 8,5 milhões para 11,8 milhões no número de pessoas ilegais nos EUA.
Mas houve queda de 2008, ano em que estourou a crise global, para 2009: de 11,6 milhões para 10,8 milhões.

Abu Dhabi: Feira de armas bate recorde de público

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São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Enquanto região ferve, feira de armas bate recorde de público

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

A passagem de uma fragata iraniana pelo canal de Suez, o primeiro navio de guerra do país a fazer esse trajeto desde a tomada do poder no Irã em 1979 por teocratas islâmicos, foi bem mais simbólica que intimidante.
Mais significativo das tendências regionais foi o saldo de uma feira de armamentos na semana passada: a décima edição da Idex (International Defence Exhibition and Conference, exibição e conferência internacional de defesa), em Abu Dhabi.
Maior feira bienal de material bélico do Oriente Médio e Norte da África, a Idex 2011 contou com a presença de 1.060 empresas exibidoras de 53 países -18% mais do que na mostra de 2009.
Como comparação, a maior feira bienal de defesa da América Latina, a ser realizada em abril no Rio, deverá ter 350 expositores.
O espectro militar do Irã, simbolizado pela viagem da fragata para visita à Síria, também serviu de estímulo à Idex. A paranoia em relação ao Irã serve de pano de fundo para países como Arábia Saudita e Emirados Árabes irem às compras. Um terço das armas que os EUA exportam vai para o Oriente Médio.
O aumento do preço do petróleo tende a permitir aos países da região tanto investir em programas sociais - uma maneira de reduzir o descontentamento por trás das atuais revoltas - como continuar comprando armas. Algumas para defesa externa, algumas para uso em contenção de distúrbios.
O "timing" da feira fez alguns países deixarem de enviar representantes ou enviá-los em quantidade bem menor -caso de Egito, Tunísia, Bahrein e Líbia.
A fragata iraniana Alvand é um navio obsoleto, projetado no Reino Unido na década de 1960. Ela foi, no entanto, reequipada com mísseis antinavio chineses C-802, que são mais modernos e letais que os originais.
O negócio mostra como é difícil consenso em bloqueios de vendas de armas. Sempre haverá um país disposto a vendê-las - China e Rússia são dois exemplos.
Justamente por não terem acesso à importação de armas durante o longo conflito com o Iraque (1980-1988), os iranianos desenvolveram uma sofisticada indústria de defesa, com destaque para mísseis, mas incluindo cerca de 2.000 diferentes itens, exportados nos últimos anos para cerca de 30 países.
De 1988 a 2007, África e Oriente Médio gastaram 79,1% mais com armas. No mesmo período, todo o planeta gastou só 1,6% mais.

Democracia, soberania e altivez

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São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


Democracia, soberania e altivez

LUÍS ROBERTO BARROSO

Não vou gastar o pouco espaço que tenho na demonstração de que Cesare Battisti é inocente das acusações de homicídio que lhe foram feitas e, sobretudo, que não teve devido processo legal.
Não são essas as questões em discussão. Mas é próprio lembrar que os fatos pelos quais é acusado aconteceram há mais de 30 anos. O maior prazo de prescrição do Direito brasileiro é de 20 anos.
Ademais, seria enorme contradição o Brasil ter dado anistia para os dois lados, por fatos idênticos ocorridos no mesmo período, e "entregar" Cesare Battisti para uma vingança histórica tardia e infundada do governo da Itália.
A afirmação de que a Itália era uma democracia durante os anos de chumbo é um sofisma sem qualquer relevância jurídica ou política.
Estados Unidos e Brasil também são e, rotineiramente, suas cortes supremas invalidam julgamentos por violação do devido processo legal. No caso de Cesare Battisti, seu segundo julgamento na Itália, no primeiro não foi sequer acusado de homicídio , baseado apenas em delações premiadas de pessoas já condenadas, tem passagens dignas de figurar em qualquer futura antologia de barbaridades jurídicas.
Detalhe: todos os acusadores premiados foram soltos após penas breves. Só Battisti, cujo papel na organização era totalmente secundário, foi condenado à prisão perpétua. O julgamento no STF ficou empatado em quatro a quatro.
Portanto, quatro ministros entenderam que a extradição não deveria ser concedida! Se fosse um habeas corpus, ele teria sido solto imediatamente.

Como era extradição, entendeu-se que o presidente da corte deveria votar. E, em hipótese incomum, deu o voto de Minerva em favor da acusação. Mais incomum ainda: a extradição foi autorizada contra a manifestação de dois procuradores-gerais, que consideravam válido o refúgio e se pronunciaram contra a entrega de Battisti!!!
No mesmo julgamento, decidiu-se, também por cinco a quatro, que a competência final na matéria era do presidente da República.
Dos cinco ministros que votaram nesse sentido, quatro afirmaram tratar-se de
competência política livre. O quinto, o ministro Eros Grau, entendeu que a decisão, embora política e do presidente da República, deveria se basear no tratado de extradição entre Brasil e Itália.
E foi adiante: disse o fundamento e o dispositivo que o presidente poderia utilizar. Da forma mais clara e didática possível, acrescentou: se assim fizer, sua decisão não será passível de reexame pelo STF. Pois o presidente Lula seguiu à risca o parâmetro estabelecido.
Não concordo, mas entendo e tenho consideração pelo ponto de vista de quem era favorável à extradição. Mas isso, agora, já não está em questão. O presidente da República exerceu validamente sua competência constitucional, nos termos em que expressamente reconhecida pelo STF.
A divergência política em relação a ela será sempre legítima, mas dar-lhe cumprimento é uma questão de respeito ao Estado democrático de Direito e à soberania nacional.
Depois das manifestações impróprias e ofensivas da Itália, citando nominalmente o presidente brasileiro, talvez já seja mesmo uma questão de patriotismo.
Quando a França negou a extradição, nas mesmas circunstâncias, a Itália acatou respeitosamente. No nosso caso, veio de dedo em riste, acintosamente.
Não fará bem ao Brasil vulnerar suas instituições e impor uma humilhação internacional ao ex-presidente Lula, que deixou o cargo com mais de 80% de aprovação, para subservientemente atender a quem nos falta com o respeito.

LUÍS ROBERTO BARROSO, professor titular de direito constitucional da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é advogado de Cesare Battisti no STF e, atualmente, "visiting scholar" na Universidade Harvard (EUA).

Uma fantasia bem apropriada

Sorvete de leite humano vira sucesso

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UOL, 28/02/2011 

Reino Unido retira sorvete de leite materno de loja

DA ASSOCIATED PRESS, EM LONDRES

Autoridades retiraram o estoque de sorvete feito com leite materno de uma loja na capital britânica, Londres, em meio a preocupação de que a polêmica sobremesa não é segura.
Uma porta-voz do Conselho Municipal de Westminster disse que a medida atende a duas reclamações do público sobre a venda de um alimento feito com fluidos corporais de outras pessoas. Ela disse que o produto foi retirado e que as autoridades aguardam orientações da Agência de Padrões Alimentares do Reino Unido.
A preocupação é que vírus, incluindo hepatite, podem ser transmitidos por leite materno.
Ela disse que o sorvete, vendido como "Baby Gaga" e lançado na semana passada, está sendo testado com a total cooperação da fabricante, a sorveteria Icecreamists.
Antes de ser retirado, o sorvete fez sucesso. A sorveteria afirmou na sexta-feira passada (25) que o novo sabor esgotou no primeiro dia de vendas.
Para conseguir a matéria-prima, a loja colocou anúncios em um fórum de mães na internet, procurando mulheres dispostas a vender leite materno. No total, 15 responderam.
Para o preparo, o leite é pasteurizado e misturado com favas de baunilha e raspas de limão. O doce vem numa taça de martíni e custa 14 libras (R$ 30).
Matt O'Connor, dono da Icecreamists, caracteriza o sorvete como "orgânico e totalmente natural", mas reconhece que algumas pessoas podem sentir nojo.

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São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011


Em Londres, sorvete de leite humano vira sucesso instantâneo de vendas

Ben Stansall/France Presse

Cartaz em loja no centro de Londres avisa os clientes que o sorvete Baby Gaga, feito de leite humano, baunilha e raspas de limão, está esgotado

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Uma loja londrina está vendendo uma sobremesa incomum: sorvete feito de leite materno.
A sorveteria moderninha Icecreamists afirma que o novo sabor, batizado de Baby Gaga, esgotou no primeiro dia de vendas, ontem.
Para conseguir a matéria-prima, a loja colocou anúncios em um fórum de mães na internet, procurando mulheres dispostas a vender leite materno. Victoria Hiley, 35, foi uma das 15 que responderam. Todas elas foram submetidas a exames de saúde antes da "ordenha".
Hiley trabalha com mulheres que têm dificuldades para amamentar. Ela acredita que se os adultos percebessem como o leite materno é gostoso, mães de primeira viagem estariam mais dispostas a amamentar seus bebês.
"O que pode ser mais natural e fresco do que leite materno? E qual é o mal em usar meu patrimônio para ganhar um dinheiro extra?"
Ela afirma que o sorvete "derrete na boca". Para o preparo, o leite é pasteurizado e misturado com favas de baunilha e raspas de limão. O doce vem numa taça de martíni e custa 14 libras (R$ 30).
Matt O'Connor, dono da Icecreamists, caracteriza o sorvete como "orgânico e totalmente natural". O empresário diz que algumas pessoas podem até sentir nojo. Ele, é claro, não. "Eu tomei um Baby Gaga hoje de manhã e estou ótimo."
A agência que regula alimentos na Inglaterra afirma que não há leis proibindo a venda de derivados de leite humano, mas que os produtos devem cumprir regras sanitárias básicas.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A rua árabe é hoje a vanguarda






A REBELIÃO EM ISRAEL

Intelectuais, academicos, personalidades políticas e lideranças  sociais  trabalham ativamente para criação de um novo partido em Israel, cujo ato de lançamento pode ocorrer em  Tel Aviv em duas semanas. A nova organização teria recorte  social-democrata e seria pautada pelos princípios da paz, da justiça social, da igualdade e contra a corrupção.
A iniciativa que pode erguer uma ponte de paz com os palestinos e arrastar setores do trabalhismo, ocorre em meio à irrupção de rebeliões na ordem árabe que enfraquecem a extrema direita atualmente no poder. A mobilização  é liderada por Naftali Raz, fundador do movimento 'Paz Agora' e tem entre os seus apoiadores nomes importantes, como o escritor Amos Oz.(com informação Haaretz; 27-02)

.....

“A rua árabe é hoje a vanguarda de todo o mundo” 


Pepe Escobar - Ásia Times Online


Um fantasma percorre o Golfo Pérsico: a democracia.

Na última terça-feira, pelo menos 20% da população de Bahrein se reuniu na rótula Lulu, em Manama, na maior manifestação contra a monarquia feudal intimamente relacionada com a grande revolta árabe de 2011. Toda uma mostra representativa da sociedade bareiní – professores, advogados, engenheiros, suas esposas e filhos – saiu às ruas em uma ampla e contínua coluna de vermelho e branco, as cores da bandeira nacional.

Na quarta-feira, houve motivos para crer que a revolta chegava finalmente ao Santo Gral, ou seja, a Casa de Saud, quando 100 jovens apareceram nas ruas de Hafar al-Batin, no noroeste da Arábia Saudita, pedindo o fim da monarquia feudal empapada em petróleo. O extraordinário é que tenha ocorrido enquanto o “guardião das mesquitas sagradas”, o rei saudita Abdullah, de 85 anos, voltava para casa três meses depois de sua operação nos EUA e de sua convalescência no Marrocos – em meio à massiva propaganda do regime, completada com toques orientalistas enquanto homens com túnicas brancas realizavam tradicionais danças beduínas da espada sobre tapetes especiais.

Para a Casa de Saud, a revolta é o pesadelo máximo: como todo o mundo já sabe, o ínfimo Bahrein de maioria xiita faz fronteira com as regiões produtoras de petróleo da Arábia Saudita, de grande maioria xiita. Portanto, não surpreende que o rei Abdullah, mal colocou os pés sobre os tapetes e já realizou uma ação preventiva para sufocar toda possível atividade ansiosa de democracia mediante um programa de 35 bilhões de dólares que inclui um ano de seguro desemprego para jovens desempregados, e um fundo de desenvolvimento nacional para ajudar as pessoas a comprarem casas, estabelecerem negócios e casarem-se.

Em tese, a Arábia Saudita prometeu pelo menos 400 bilhões de dólares até o fim de 2014 para melhorar a educação, a saúde e a infraestrutura. O economista chefe do Banco Sadi Fransi, John Sfakianakis, descreveu a iniciativa com um eufemismo: “o rei trata de criar um melhor efeito de filtração da riqueza na forma de prestações sociais”.

Invariavelmente os eufemismos terminam quando se trata da política. Não há nenhum sinal de que o rei vá investir nas aspirações políticas de seus súditos – como liberdade para partidos políticos e sindicatos – e os protestos ainda são totalmente proibidos. Não há evidência, tampouco, de que se mostre inclinado a encarar os imensos problemas sociais – desde a repressão governamental á intolerância religiosa – que o obrigaram a anunciar estra multimilionária estratégia do “filtrado”.

E quem esteve presente para saudar o rei Abdullah e discutir o código da “crise” para a Grande Revolta Árabe de 2011? Correto – seu vizinho, o monarca feudal sunita, rei Hamad al-Khalifa, de Bahrein.

Matando-os suavemente com nossa canção

A narrativa urdida na Disneylândia ocidental de que o rei Hamad “favorece a reforma”, que se interessa pelo “progresso da democracia” e pela “preservação da estabilidade”, foi totalmente desbaratada quando seu exército mercenário disparou munição de guerra por meio de canhões antiaéreos instalados em transportes blindados contra manifestantes que levavam flores, ou utilizou helicópteros Bell estadunidenses que perseguiam a população e disparavam contra ela.
(Comparemos a divulgação dada pela mídia aos conflitos na Líbia em contraste ao seu silêncio sobre este massacre ocorrido no Bahrein. Khadaffi não é aliado dos EUA, portanto... (Ivan)

Uma mensagem no twitter da jornalista bareiní Amira al-Hussein resumiu tudo: “Amo Bahrein. Sou bareiní. Meu sangue é bareiní e hoje vi como meu país morria nos olhos de seus filhos”.


A rebelião xiita contra a dinastia al-Khalifa de mais de 200 anos, invasores procedentes do continente, por certo vem se desenvolvendo durante décadas e inclui centenas de prisioneiros políticos torturados em quatro prisões dentro e ao redor de Manama por “conselheiros” jordanianos e um regime cujo exército é composto em sua maioria por soldados punjabis e balúchis paquistaneses.

Demorou bastante, mas por fim um telefonema estratégico desde Washington garantiu que os al-Khalifa ao menos fizessem com que a matança fosse realizada com um pouco mais de sentido comum.

A história de como a política externa dos EUA se adaptou agilmente à grande revolta árabe de 2011 deixa algumas lições. O presidente deposto do Egito, Hosni Mubarak, e o rei Hamad, do Bahrein, são “moderados” e certamente não “malévolos”; além de qualquer coisa foram e são, respectivamente, pilares da “estabilidade” no Oriente Médio e Norte da África (MENA).

Por outro lado, Muamar Kadafi, da Líbia, e Bashar al-Assad, da Síria, são verdadeiramente maus, porque não se submetem aos ditames de Washington.
A escala moral que condiciona a reação dos EUA está diretamente determinada pelo grau no qual o ditador/monarca feudal em questão é um sátrapa estadunidense.

Isso explica a imediata reação estadunidense (do Departamento de Estado, e ainda na quarta-feira do próprio presidente Barack Obama) ante o bombardeio ordenado por Kadafi contra seu próprio povo, enquanto os meios de comunicação corporativos e números analistas dos think tanks se apressaram para ver quem encontraria os adjetivos mais estudados para crucificar este último. Não há nada melhor do que denunciar um ditador que não se ajusta ao modelo de lacaio de Washington.

Enquanto isso, do outro lado de MENA, houve apenas um olhar quando o aparato repressivo de Hamad – importado em parte da Arábia Saudita – matou seus próprios cidadãos na rótula Perla. Bom, o terrorista reabilitado Kadafi sempre foi um lunático, enquanto a Bahrein outro mantra se aplica: Bahrein é um “estreito aliado” dos EUA, “uma nação pequena, mas valiosa do ponto de vista estratégico”, base da Quinta Frota, essencial para assegurar o fluxo de petróleo pelo Estreito de Ormuz, um bastião contra o Irã, etc.

Em todo caso, mesmo depois do massacre, Jeque Ali Salman, líder do maior partido opositor xiita, al Wefaq, assim como Ebrahim Sharif, líder do partido secular Wa’ad, e Mohammed Mahfood, da Sociedade de Ação Islâmica, concordaram em se reunir com o príncipe herdeiro Salman bin Hamad al-Khalifa para um diálogo proposto pela monarquia.

Husain Abdullah, diretor do grupo Estadunidenses pela Democracia e os Direitos Humanos no Bahrein, não está convencido: “Não estou seguro de que a própria família governante seja séria com respeito a algum diálogo sério porque, quando se olha a televisão de Bahrein, não se vê outra coisa que ataques sectários contra os que permanecem na praça Lulu”. Segundo Abdullah, o que ocorre na verdade é que “cada vez mais gente pede abertamente a derrubada do regime, mediante meios pacíficos, e que o Bahrein seja governado pelo povo. Além disso, há um chamado sério à desobediência civil total (não parcial, como é atualmente) no país para obrigar a família governante a abandonar o país tal como ocorreu na Tunísia e no Egito”. Não é surpreendente, portanto, que a Casa Saudita esteja assustada.

O levante dos 70% xiitas no Bahrein, além de muitos sunitas – o mantra do protesto é “nem xiitas, nem sunitas, só bareinís” – começou como um movimento por direitos civis. É melhor que o príncipe herdeiro cumpra as reivindicações rapidamente, ou esse movimento se converterá em uma revolução concreta. No momento, há muita retórica sobre “estabilidade”, “segurança”, “coesão nacional” e nada sobre uma reforma eleitoral e constitucional séria.

Há motivos para acreditar que Salman – seguindo os conselhos sauditas – possa estar agindo como Mubarak, fazendo promessas vagas para um futuro distante. Todos sabemos como terminou na Praça Tahrir.

Os manifestantes começaram a pedir um primeiro ministro eleito, uma monarquia constitucional e um fim à discriminação contra os xiitas. Agora, Matar Ibrahim, um dos 18 membros xiitas no Parlamento, disse que a brecha entre os manifestantes na praça Perla e a oposição política oficial que fala com o príncipe herdeiro se converteu em um abismo. O grito máximo unificador na rua é: “Abaixo, abaixo Khalifa!”.

Milhares de trabalhadores na imensa fábrica de alumínio Alba já garantiram um movimento industrial e sindical muito poderoso em apoio aos manifestantes de maioria xiita. O líder do sindicato da Alba, Ali Bin Ali – sunita – já advertiu que os trabalhadores podem entrar em greve há qualquer momento.

"Queremos nossos direitos sociais'
Caso ocorra uma mudança pacífica e democrática de regime no Bahrein, os mega-perdedores serão a Arábia Saudita e os Estados Unidos. O Bahrein é um caso clássico do império de bases dos EUA, em aliança com uma repugnante monarquia/ditadura feudal. Naturalmente, o Estado Maior conjunto dos EUA preferem a “ordem e estabilidade” estabelecidos por uma ditadura, assim como a antiga potência colonial Grã Bretanha: os massacres de civis no Bahrein e na Líbia foram perpetrados pela academia militar Sandhurst e sistemas da British Aerospace.

O rei Hamad graduou-se na Escola de Comando e Pessoal Geral do Exército dos EUA, em Fort Leavenworth, Kansas, e “tem um papel dirigente na direção da política de segurança do Bahrein”, segundo um telegrama vazado por Wikileaks. Ele foi ministro da Defesa de 1971 a 1988 e é um grande entusiasta do armamento pesado estadunidense.

Por sua parte, o príncipe herdeiro, “muito ocidental em sua atitude”, é graduado em uma escola do Departamento de Defesa do Bahrein e na Universidade de Washington (EUA). Tradução: dois vassalos com mentalidade do Pentágono estão encarregados de fazer as reformas democráticas no Bahrein.

O centro bancário internacional de Bahrein – com um Produto Interno Bruto per capita um pouco inferior a 20 mil dólares – também está muito acima, juntamente com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, na escala de oligarquias enriquecidas na base do trabalho escravo, o proverbial grande “pool” de trabalhadores migrantes que fornece mão de obra barata. Foi gasta uma fortuna promovendo-se o “Bahrein, amigo dos negócios”. Na semana passada, soou mais como “Bahrein, amigo das balas”.

A grande revolta árabe de 2011, com razões específicas em cada país, definitivamente não tem a ver com religião, mas essencialmente com a inquietude da classe trabalhadora provocada pela crise global do capitalismo. O choque de civilizações, o fim da história, a islamofobia e outros conceitos estão mortos e enterrados. As pessoas querem seus direitos sociais e navegar pelas águas da democracia política e da democracia social. Neste sentido, a rua árabe é hoje a vanguarda de todo o mundo. Se os al-Khalifa da vida não compreenderem isso, vão cair.

Pepe Escobar é autor de “Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War” (Nimble Books, 2007) e “Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge”. Seu último libro é “Obama does Globalistan” (Nimble Books, 2009). pepeasia@yahoo.com.

Tradução: Katarina Peixoto

Do Oriente Médio ao meio-oeste dos EUA

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Levantes populares: do Oriente Médio ao Meio Oeste 


Amy Goodman - Democracy Now

Cerca de 80 mil pessoas marcharam no sábado passado ao Capitólio do estado de Wisconsin, em Madison, como parte de uma crescente onda de protesto contra a tentativa do flamante governador republicano Scott Walker, não só de acossar os sindicatos dos servidores públicos, mas de desarticulá-los. O levante popular de Madison ocorre imediatamente em seguida aos que vêm ocorrendo no Oriente Médio. Um estudante universitário veterano da guerra do Iraque, levava um cartaz que dizia “Fui ao Iraque e voltei a minha casa no Egito?”. Outro dizia: “Walker, o Mubarak do Meio Oeste”.

Do mesmo modo, em Madison, circulou uma foto de um jovem em uma manifestação no Cairo com um cartaz que dizia:Egito apoia os trabalhadores de Wisconsin: o mesmo mundo, a mesma dor”. Ao mesmo tempo que mais de 10 mil pessoas marcharam terça-feira em Columbus, Ohio, para se opor à tentativa do governador republicano John Kasich de dar um golpe de estado legislativo contra os sindicatos.

Há apenas algumas semanas, a solidariedade entre jovens egípcios e policiais do Wisconsin, ou entre trabalhadores líbios e funcionários públicos de Ohio, seria algo inacreditável.

O levante popular na Tunísia foi provocado pelo suicídio de um jovem chamado Mohamed Bouazizi, universitário de 26 anos de idade, que não encontrava trabalho em sua profissão. Enquanto vendida frutas e verduras no mercado, em repetidas oportunidades foi vítima de maus tratos por parte das autoridades tunisianas que acabaram confiscando sua balança. Completamente frustrado, ele ateou-se fogo, o que acabou incendiando os protestos que se converteram em uma onda revolucionária no Oriente Médio e Norte da África. Durante décadas, o povo da região viveu sob ditaduras – muitas das quais recebem ajuda militar dos EUA -, sofreu violações dos direitos humanos, além de ter baixa renda, enfrentar altas taxas de desemprego e não ter praticamente nenhuma liberdade de expressão. Tudo isso enquanto as elites acumulavam fortunas.

Nos conflitos que vemos hoje em Wisconsin e Ohio há um pano de fundo semelhante. A “Grande Recessão” de 2008, segundo o economista Dean Baker, ingressou em seu trigésimo mês sem sinais de melhora. Em um documento recente, Baker diz que devido à crise financeira “muitos políticos argumentam que é necessário reduzir de forma drástica as generosas aposentadorias do setor público e, se possível, não cumprir com as obrigações de pensões já assumidas. Grande parte do déficit no sistema de aposentadorias se deve à queda da bolsa de valores nos anos 2007-2009”.

Em outras palavras, os mascates de Wall Street que vendiam as complexas ações respaldadas por hipotecas que provocaram o colapso financeiro foram os responsáveis pelo déficit nas pensões. O jornalista vencedor do prêmio Pulitzer, David Cay Johnston disse recentemente: “O funcionário público médio de Wisconsin ganha 24.500 dólares por ano. Não se trata de uma grande aposentadoria; 15% do dinheiro destinado a esta aposentadoria anualmente é o que se paga a Wall Street para administrá-lo. É realmente uma porcentagem muito alta para pagar Wall Street por administrar o dinheiro”.

Então, enquanto a banca financeira fica com uma enorme porcentagem dos fundos de aposentadoria, os trabalhadores são demonizadas e pede-se a eles que façam sacrifícios. Os que provocaram o problema, em troca, logo obtiveram resgates generosos, agora recebem altíssimos salários e bonificações e não estão sendo responsabilizados. Se rastreamos a origem do dinheiro, vemos que a campanha de Walker foi financiada pelos tristemente célebres irmãos Koch, grandes patrocinadores das organizações que formam o movimento conservador tea party. Além disso, doaram um milhão de dólares para a Associação de Governadores Republicanos, que concedeu um apoio significativo à campanha de Walker. Então, por acaso resulta surpreendente que Walker apoie às empresas ao outorgar-lhes isenções se impostos e que tenha lançado uma grande campanha contra os servidores do setor público sindicalizado?

Um dos sindicatos que Walter e Kasich têm na mira, em Ohio, é a Federação Estadunidense de Empregados Estatais de Condados e Municípios (AFSCME, na sigla em inglês). O sindicato foi fundado em 1932, em meio à Grande Depressão, em Madison. Tem 1,6 milhões de filiados, entre os quais há enfermeiros, servidores penitenciários, seguranças, técnicos de emergências médicas e trabalhadores da saúde. Vale a pena lembrar, neste mês da História Negra, que a luta dos trabalhadores da saúde do prédio n° 1733 de AFSCME fez com que o Dr. Martin Luther King Jr. Fosse a Memphis, Tennessee, em abril de 1968. Como me disse o reverendo Jesse Jackson quando marchava com os estudantes e seus professores sindicalizados, em Madison, na semana passada: “O último ato do Dr. King na terra, sua viagem a Memphis, Tennessee, foi pelo direito dos trabalhadores negociarem convênios coletivos de trabalho e o direito ao desconto da quota sindical de seu salário. Não é possível beneficiar os ricos enquanto se deixa os pobres sem nada”.

Os trabalhadores do Egito, formando uma coalizão extraordinária com os jovens, tiveram um papel decisivo na derrubada do regime deste país. Nas ruas de Madison, sob a cúpula do Capitólio, está se produzindo outra mostra de solidariedade. Os trabalhadores de Wisconsin fizeram concessões em seus salários e aposentadorias, mas não renunciaram ao direito a negociar convênios coletivos de trabalho. Neste momento seria inteligente que Walker negociasse. Não é uma boa época para os tiranos.

Tradução: Katarina Peixoto

Nuestro Norte es el Sur

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A Folha e o neocolonialismo petroleiro


Beto Almeida

Com o título de “TV Companheira”, o jornal Folha de São Paulo – que tem o nome marcado por ter defendido e colaborado com operações da ditadura em torturas e mortes de prisioneiros políticos - publicou artigo de Eliane Cantanhêde tentando atingir, sem o lograr, a credibilidade jornalística da Telesur, "La nueva televisión del sur", em seu esforço de cobrir a crise na Líbia.

Há muitas lições a partir da precária nota da jornalista. Primeiramente, está escancarado que a grande mídia comercial brasileira, seguindo orientações dos conglomerados internacionais midiáticos, editorialmente controlados pelas indústrias bélicas, petroleiras e a ditadura financeira, sempre protegeram os ditadores do Oriente Médio que serviram e ainda servem a estes interesses. A Folha de São Paulo está dentro deste leque de proteção aos “ditadores amigos”. Assim é que durante mais de 30 anos protegeu Mubarak, tratando-o como o árabe moderado, porque transformou o Egito em cúmplice do massacre do povo palestino por Israel, com o apoio de Washington.
Durante 30 anos a Folha de São Paulo jamais cobrou eleições diretas ou democracia no Egito, mas, revelando a imensa hipocrisia da sua linha editorial de dois pesos, duas medidas, engajou-se na campanha dos oligopólios midiáticos mundiais contra o governo da Venezuela que, em 12 anos, eleito pelo voto, realizou mais de 15 eleições, plebiscitos e referendos livres, vencendo 14 deles e respeitando democraticamente o único resultado eleitoral adverso registrado.

“Ditaduras amigas” foram protegidas
A reportagem de Telesur está sim na Líbia, como esteve no Egito e na Tunísia, para oferecer uma cobertura com linha editorial diferenciada, sem qualquer influência do poder petroleiro comandado pelos países imperialistas. Telesur não descobriu somente agora que Mubarak era um ditador e que saqueou recursos do povo egípcio, bem como seu comparsa Ben Ali, tunisino, sempre protegidos pelos grandes países imperiais como EUA, França, Inglaterra etc., por se transformarem em peões da política que facilita a intervenção militar imperialista no mundo árabe, com o óbvio objetivo de rapina sobre suas imensas riquezas energéticas, da qual são tão dependentes.

Ao contrário desta linha editorial complacente com os crimes que se comentem contra os povos árabes, em particular contra o povo palestino, Telesur , em sua curta existência, pouco mais de 5 anos de vida, procura revelar, com critérios jornalísticos, a falsidade e hipocrisia dos discursos “democráticos” que servem sempre de parâmetros para as coberturas que tentam esconder sob o palavreado democrático, o objetivo fundamental que esta mídia cumpre: dar suporte e favorecer o controle total das riquezas energéticas do Oriente Médio pelos trustes imperialistas.

É por esta razão que a Folha de São Paulo tenta, inutilmente, atacar a Telesur, porque questiona e se diferencia do jornalismo obediente ao poder bélico-petroleiro que tantas vidas ceifa na região, inclusive na própria Líbia, tantas vezes bombardeada, agredida e boicotada pelos países membros da Otan. É a subserviência a esta política imperial que leva a Folha e sua articulista a afrontarem as políticas externas soberanas que os países do eixo sul-sul estão desenhando, com o objetivo de libertarem-se das algemas da OTAN, inclusive postulando a criação de uma Organização do Tratado do Atlântico Sul, proposta defendida por vários países sistematicamente enfrentados pela linha editorial da Folha.

Hipocrisia editorial
Mubarak foi protegido e elogiado por este jornalismo tipo Folha de São Paulo - que, aliás, não chamava Pinochet de ditador, mas de presidente - porque comandou o retrocesso das conquistas socioeconômicas que o Egito havia alcançado durante a Era Nasser. Tal como aqui a Folha serve aos interesses estrangeiros e de seus prepostos internos que operaram para demolir as conquistas da Era Vargas; o elogio e a tolerância para com a ditadura de Mubarak deve-se ao fato dele desconstruir o nacionalismo revolucionário de Nasser, colocando o Egito na posição de ser um vergonhoso coadjuvante da macabra política israelense na região, a serviço da indústria petroleira imperial. Mas, os milhões de egípcios nas praças estão escrevendo outra história para aquele país!

Telesur conta esta história. Faz jornalismo para revelar o direito histórico da luta dos povos árabes por sua independência, por sua soberania. É por isso que incomoda tanto. É por isso que agressão da Folha não surpreende, faz parte da blitz midiática internacional que sustenta o intervencionismo militar dos grandes países imperialistas. Esta mídia atua como os clarins que anunciam e clamam pela guerra!

Independente do desfecho que esta crise na Líbia produzirá, a esta altura imprevisível, não há como não perceber a imensa hipocrisia jornalística dos que se calam diante dos sanguinários bombardeios que estão caindo agora mesmo sobre a população civil no Afeganistão, ilegalmente ocupado pelos EUA, ou no Iraque, onde mais de um milhão de vidas foram dizimadas a partir de uma guerra iniciada por meio de grosseiras falsificações de notícias sobre a existência de armas químicas naquele país, fraude jornalística que a Folha de São Paulo endossou, o que lhe retira qualquer moral, juntamente à assessoria que prestou à ditadura militar no Brasil, para reivindicar democracia ou clamar por direitos humanos.

Colônia petroleira
Provavelmente, a crise atual na Líbia tenha também explicação pelos erros cometidos pelo seu governo, entre eles, provavelmente o mais grave, o de ter realizado inesperados e improdutivos acordos com os EUA, com a Inglaterra, com o FMI, inclusive dando início a medidas de privatização injustificáveis e abrindo mão, unilateralmente, do programa de energia nuclear, bobagem que o Irã e o Brasil, mesmo sob pressão, indicam não estarem dispostos a cometer. As concessões de Kadafi aos patrocinadores da morte e de opressão contra os povos iraquiano, afegão, palestino, entre eles Bush e Blair, aprofundou, certamente, os conflitos internos, agravando as disputas tribais, facilitando a infiltração dos que nunca aceitaram a nacionalização do petróleo líbio. Agora, a Folha de São Paulo, que se crê tão moderna, apresenta-se aliada aos que levantam novamente a bandeira da Líbia do Rei Idris, demonstrando preferir operar para o retrocesso histórico da república à monarquia, o que faria da Líbia uma colônia petroleira controlada pelos conglomerados anglo-saxões.

Enquanto as grandes redes oligopólicas de tvs comerciais operam para justificar, auxiliar e assessorar a pilhagem dos recursos energéticos dos povos, - por isso assumiram editorialmente as mentiras que justificaram a guerra de rapina contra o Iraque - Telesur coloca seu jornalismo a serviço do direito dos povos de conhecerem na íntegra a versão objetiva dos fatos, inclusive dando voz aos povos que lutam, que buscam construir modelos de sociedade em que a soberania sobre seus recursos e o seu uso em benefício da população sejam sagrados. Telesur tem consciência de quão árdua é a meta de fazer um jornalismo não controlado pelos oligopólios da guerra, do dinheiro e do petróleo. Mas, desta meta não se afastará, pois foi como expressão dos povos que se rebelam na América Latina contra a dominação imperial que nasceu e que assumiu como bandeira o princípio “ O nosso Norte, é o Sul

(*) Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur

A infiltração de espiões nos movimentos sociais

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Espiões por todos os lados: a infiltração nos movimentos sociais


Wilson Sobrinho - Correspondente da Carta Maior em Londres

Serviços de investigação privados estão sendo utilizados por corporações britânicas para manterem-se informadas a respeito dasatividades dos movimentos sociais. A revelação da semana passada do jornal londrino The Guardian ocorre um mês depois do início de uma crise envolvendo a polícia britânica em função do uso de agentes secretos infiltrados entre ativistas e ONGs. Documentos revelados pelo jornal inglês mostram que pelo menos três companhias de energia com sede nas ilhas britânicas contrataram os serviços de uma empresa privada de investigação para monitorar os passos de grupos que iam de ambientalistas como London Rising Tide e Plane Stupid, focado na aviação, até movimentos contra o comércio internacional de armas, como o Campaign Against Arms Trade, de Londres. (1)

Por pelo menos três anos, pessoas ligadas à empresa Vericola, com sede no sudeste da Inglaterra, fingiram ser apoiadores de causas ecológicas e políticas para ganhar acesso a manifestações, reuniões e listas de discussões que de outro modo seriam restritas a ativistas. A descoberta da infiltração só aconteceu em função de um e-mail erroneamente remetido pela gerente da empresa a alguns grupos que ela monitorava. A Vericon – que se descrevia como um grupo de“gerenciamento de riscos” a negócios sujeitos a “ameaças potenciais” – negou à reportagem do The Guardian que trabalhasse com espionagem corporativa. Eles apenas juntariam informações amplamente divulgadas, remetidas aos leitores das newsletters e publicadas na internet. “Nossa cliente não obteve informação confidencial nem foi desonesta”, disseram os advogados da empresa ao jornal.

Porém, em uma das mensagens obtidas pelo The Guardian, Rebecca Todd, proprietária da Vericon, prepara um funcionário para encontrar-se com manifestantes e dá dicas sobre como se relacionar sem despertar suspeitas. “Diga que você tem problemas com a namorada. Soa melhor do que problemas com a família ou no trabalho”, aconselhou para tentar acobertar a ausência do agente das recentes reuniões. “E não diga que você está indo para Munique – obviamente eles odeiam viagens curtas de avião”, ordenou. Em outra mensagem, dessa vez enviada para um grupo de ativistas, ela teria se mostrado interessada em fazer uma “contribuição positiva ao planeta”, para logo em seguida pedir informações sobre como se reunir com o grupo. “Eu adoraria participar”, lê-se no e-mail obtido pelo jornal.

Pelo menos uma das companhias citadas admitiu usar os serviços da Vericon no passado. “Como uma grande empresa que tem sido alvo de numerosos protestos ambientais, alguns dos quais violentos, nós temos por obrigação cuidar de nossos empregados e mantê-los seguros”, manifestou-se através de um porta-voz uma das companhias, a E.ON, fornecedora de gás e energia elétrica (2). Porém, eles afirmam que estavam interessados apenas nas informações publicamente disponíveis e que não requisitaram e não se responsabilizam por eventuais excessos cometidos por seus prestadores de serviços. Embora não existam provas de outros casos, uma semana antes de o The Guardian publicar a reportagem, o presidente da Associação dos Chefes de Polícia (Acpo), sir Hugh Orde, havia criticado o “descontrolado e irrestrito” papel do setor privado no ramo de inteligência (3).

Não se sabe se Orde tinha informações de que o The Guardian estava prestes a revelar a bisbilhotagem patrocinada por mega-corporações. O que se sabe é que ele estava se defendendo da outra crise, essa envolvendo o governo. No início de janeiro deste ano, pouco antes de seis ativistas irem à julgamento por tentarem fechar uma usina termoelétrica em 2009, Mark Kennedy, um policial infiltrado entre o grupo de manifestantes, mudou de lado e resolveu prestar depoimento em favor dos acusados. O caso foi suspenso e uma série de revelações envolvendo espionagem policial entre ativistas ingleses veio a público. (4)

À revelação da verdadeira identidade de Kennedy, agente duplo desde 2000, seguiu-se uma lista de outros agentes infiltrados em grupos de ecologistas pela Inglaterra. Entre eles, o caso de um agente que teria revelado o disfarce para uma ativista do Reclaim The Steets antes de se casar com ela. Uma manifestação no final do mês de janeiro reuniu em Londres um grupo de mulheres ativistas descontentes com as táticas da polícia inglesa, principalmente pelo fato de que alguns policiais estariam usando suas posições para fazer sexo com as manifestantes.A polícia sabia o que estava acontecendo ou até mesmo encorajou?”, perguntou uma ativista que teria mantido relações sexuais com Kennedy ao longo de um ano. “Se ele estava mantendo segredo da polícia então é diferente. Mas eu acho que ele tinha tantos amigos e relações com pessoas do movimento que eu preciso questionar se era uma tática – ou parte de sua tarefa – para se tornar mais respeitado e ganhar confiança dentro do grupo”, disse a mulher, identificada apenas como Anna.

A Acpo reconheceu por meio de um porta-voz que “sob nenhuma hipótese” é permitido aos agentes manter relações com as pessoas vigiadas. “É grosseiramente anti-profissional”. Porém defendeu o uso de agentes secretos em meio a ecologistas, alguns deles “dispostos a causar danos, cometer crimes, e em algumas ocasiões desabilitar partes importantes da infraestrutura do país”, afirmou o porta-voz. (5) Na semana passada, Orde defendeu que juízes autorizem a decisão de infiltrar um agente secreto em um grupo sob vigilância como forma de restabelecer a confiança do público nos serviços de inteligência.

(1) http://www.guardian.co.uk/environment/2011/feb/14/environmental-activists-protest-energy-companies

(2) http://www.heraldscotland.com/news/transport-environment/campaigners-mock-energy-firms-over-spy-investigations-1.1085549

(3) http://www.acpo.police.uk/ExternalLinks/SirHughOrdeSpeechtoLiberty.aspx

(4) http://www.bbc.co.uk/news/uk-12148753

(5) http://www.bbc.co.uk/news/uk-12238445

As operações de "astroturf"

http://blogs.smh.com.au/gadgetsonthego/android.jpg



http://www.youtube.com/watch?v=v8k66kB4Zn8&feature=related
(Astro)Turf Wars: How Corporate America is Faking a Grassroots Revolution
(Como as empresas estão fingindo uma revolução popular)

Guerra de robôs na internet

George Monbiot - The Guardian

Todos os meses, mais evidência acumula-se, sugerindo que comentários, tópicos e fóruns de internet estão sendo tomados por pessoas que não são exatamente o que parecem ser. O anonimato da rede garante a companhias e governos uma oportunidade de ouro para executar operações de astroturf(*): falsas campanhas populares que criam a impressão de que um grande grupo de pessoas está defendendo ou se opondo a alguma política em particular. Essa artimanha está mais propensa a acontecer quando os interesses das companhias ou dos governos estão em conflitos com os do público. Por exemplo, há uma história antiga das companhias de tabaco por trás de campanhas de astroturfing para lutar contra a regulamentação da indústria. (1)

Depois da última vez que escrevi sobre astroturfing (2), em dezembro, uma fonte disposta a contar detalhes entrou em contato comigo. Ele fazia parte de um time encarregado de infestar fóruns e tópicos de discussão na internet em favor de clientes corporativos, promovendo suas causas e discutindo com quem se opusesse. Como o resto da equipe, ele se passava por um cidadão comum, sem interesses particulares no assunto. Ou, para ser mais exato, como algumas dezenas de cidadãos comuns, sem interesses particulares no assunto: ele usava 70 perfis, para evitar ser desmascarado e criar a impressão de amplo apoio ao seu argumento pró-corporativo.

Eu revelarei mais do que ele me contou assim que terminar a investigação na qual estou trabalhando no momento. Mas parece que essas operações estão mais difundidas, mais sofisticadas e mais automatizadas do que a maioria de nós consegue imaginar. E-mails que hackers políticos obtiveram junto a uma empresa norte-americana de ciber-segurança chamada HB Gary Federal sugerem que um arsenal tecnologicamente impressionante está sendo usado para encobrir as vozes das pessoas reais. Como o Daily Kos relatou (3), os e-mails mostram que:

- Companhias agora usam um “software de gerenciamento de personagem”, que multiplica os esforços dos astroturfers trabalhando para eles, dando a impressão de que existe um apoio majoritário para aquilo que as empresas ou governos estão tentando colocar em prática.

- Esse software cria toda a mobília virtual que uma pessoa de verdade teria: um nome, contas de e-mail, páginas de internet e perfis em redes sociais. Em outras palavras, gera automaticamente um perfil que parece autêntico, dificultando a diferenciação entre o comentário de um robô e o de uma pessoa real.

- Contas falsas podem ser mantidas atualizadas pela republicação ou conexão de material gerado em outros lugares, reforçando a impressão de que o usuário da conta é real e ativo.

- Astroturfers humanos podem utilizar essas contras “pré-envelhecidas” para criar uma história sugerindo que eles estiveram publicando links e tweets por meses. Ninguém pode suspeitar que eles só agora apareceram pela primeira vez, com o único propósito de atacar um artigo sobre ciência climática ou argumentar contra novos controles dos níveis de sal em lanches das grande cadeias de fast food.

- Com o uso inteligente das redes sociais, os astroturfers podem, nas palavras da empresa de segurança, “fazer parecer que o personagem esteve em uma conferência e apresentar-se a certas pessoas chave como parte do exercício... Há variados truques de redes sociais que podemos usar para adicionar um grau de realismo a esses personagens fictícios”.

Mas talvez a mais perturbadora revelação seja essa. A Força Aérea dos EUA abriu licitação para empresas para o fornecimento de software de gerenciamento de personagem, que deve ter as seguintes capacidades:

a) criar “10 perfis por usuário, com passado, história, detalhes que os reforcem e ciber-presença que sejam técnica, cultural e geograficamente consistente.... Perfis precisam ser capazes de ser originários de qualquer parte do mundo e poder interagir através de serviços online convencionais e plataformas de redes sociais”.

b) Prover automaticamente os astroturfers com um “endereço de IP randomicamente escolhido através do qual possam acessar a internet”. [Um endereço de IP é o número que identifica o computador de alguém]. Eles precisam mudar todos os dias, “ocultando a existência da operação”. O software também deve misturar o tráfego de internet dos astroturfers com “o tráfego de multidão de usuários de fora da organização. Esse tráfego misturado fornece uma excelente cobertura e [é] uma poderosa negação”.

c) Criar “endereços de IP estáticos” para cada perfil, permitindo diferentes astroturfers “parecer a mesma pessoa ao longo do tempo”. Deve também permitir “organizações que usam os mesmos sites/serviços com frequência trocar endereços de IP para parecer como usuários normais e não uma organização”.


Um software como esse tem o potencial de destruir a internet como um fórum para o debate construtivo. Desrespeita e faz piada da democracia online. Tópicos em questões de maiores implicações comerciais já estão sendo arruinados pelo que parecem ser exércitos de provocadores organizados – como você pode ver com frequência nos sites do The Guardian. A internet é um presente maravilhoso, mas também o é para os lobistas do mundo corporativo, criadores de marketing viral e relações públicas de governos, que podem operar no mundo virtual sem regulamentação, responsabilização ou medo de serem detectados.

Deixe-me repetir uma pergunta que eu coloquei em meus artigos passados, e que ainda tem que ser respondida de modo satisfatório: o que devemos fazer para combater essas táticas?

Tradução: Wilson Sobrinho (Correspondente da Carta Maior em Londres)

(*) Nota do tradutor - A expressão “astroturfing” é aqui usada em oposição a “grassroots movements”, que na língua inglesa se refere aos movimentos políticos e sociais que tem alguma base de apoio popular. Sendo “grassroots”, na tradução literal, as “raízes da grama”. E AstroTurf, a marca de uma grama sintética comercializada nos EUA.

(1) The denial industry

(2) These astroturf libertarians are the real threat to internet democracy

(3) The HB Gary Email That Should Concern Us All

(4) https://www.fbo.gov/index?s=opportunity&mode=form&id=d88e9d660336be91552fe8c1a51bacb2&tab=core&_cview=1

Um dos retratos do apartheid social no Brasil

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidRZC1_B_YobYYuZm2nyYIk448u8ZJS6tqbmvdSvOca69zmFkrgFgSKg7tNLkaJNB0CdcjpeFqHGbrzYRfyISQ9rxLcjgHG99HW8ia4FDirRQhPx2rK61bviMg34mIYynb4XUa0_1zC9o1/s1600/apartheid_wall.jpg

São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

Clube obriga babá a usar branco e barra ida a restaurante

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

O crachá deve estar sempre no pescoço e a roupa deve ser toda branca. Em alguns dos mais tradicionais clubes de São Paulo, não basta às babás apresentarem carteirinha, como os sócios. É preciso estar trajada de acordo com as regras.
É assim no Pinheiros, no Paineiras e no Paulistano, todos na zona oeste, cujos títulos chegam a R$ 25 mil.
No Pinheiros, algumas babás relatam que são cobradas a usar calçados fechados, mesmo em dias quentes. No Paulistano, é preciso usar "sapatênis, sapatos ou tênis da mesma cor do uniforme".
"Acho discriminação", diz a babá Silvana Santana, 36, que vai ao Pinheiros duas vezes por dia. Na semana passada, ela teve apreendida sua carteirinha (onde se vê escrito "acompanhante") porque vestia bermuda jeans e blusa branca. Foi avisada de que só o patrão poderia retirar o documento.
Outra passou por uma "blitz de babás" e teve a carteirinha retida, pois não usava branco. Ficou "constrangida e envergonhada."
Sua empregadora, que preferiu não se identificar, afirma que ficou tão incomodada que enviou uma carta ao clube explicando que ela não usa uniforme em casa e pedindo que não tivesse de fazê-lo no clube. "Foi indeferido. Alegaram que é regra."
Juliana Rodrigues, 25, também babá, diz que já lhe chamaram a atenção no Pinheiros porque sua blusa branca tinha "uma florzinha no canto" e porque usava sandália "neste calor".
Diz ainda ser proibida de ir ao restaurante acompanhada apenas das crianças e conta que um sócio já pediu que ela se levantasse de um banco perto da piscina.
O Pinheiros confirma que as babás só podem ir ao restaurante infantil.
Sócia do clube, a professora Nuria Carbó, 35, considera o uniforme discriminatório. "Passaram a vir de branco porque muitos sócios reclamaram da presença delas." Já Paula Krishnan, 37, também sócia, acha que a regra é uma forma de controle. "Assim como os funcionários do clube, [as babás também] têm identificação."
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Martim Sampaio, vê discriminação na exigência da roupa branca e, sobretudo, no veto ao restaurante.
"O clube tem o direito de saber quem está adentrando a dependência, até por questão de segurança, mas a carteirinha basta para isso", diz.
"É um constrangimento ilegal a empregada ter que se vestir de forma diferenciada e é absurdo impedir que ela entre no restaurante. Ser obrigada a levantar do banco é um apartheid social."
Segundo o Pinheiros, o clube tem 37 mil sócios e 1.500 acompanhantes de idosos, crianças e deficientes cadastrados. Eles devem apresentar crachá "e portá-lo em local visível durante a sua permanência no clube, como acontece com funcionários em qualquer organização". Uniforme e crachá servem para identificação, diz.
Afirmou que algumas áreas possuem "regras específicas para acesso, podendo ser reservados exclusivamente aos associados". Paineiras e Paulistano não se manifestaram.

Os supersalários ilegais dos Ministros do STJ

http://d.i.uol.com.br/2009/maraja_560.jpg


São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011


STJ ignora teto e paga supersalário a seus ministros

FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) usou brecha para driblar o teto salarial de R$ 26.700 imposto pela Constituição e pagou no ano passado em média R$ 31 mil aos ministros que compõem a corte-quase R$ 5.000 acima do limite previsto pela lei.
O tribunal gastou no ano passado R$ 8,9 milhões com esses supersalários. Um único ministro chegou a receber R$ 93 mil em apenas um mês.
Uma planilha com as despesas de pessoal do STJ mostra que, na ponta do lápis, o valor depositado na conta da maioria dos ministros supera o teto constitucional.
Dos 30 ministros, 16 receberam acima do limite em todos os meses de 2010.
No total, o STJ pagou mais de 200 supersalários - em apenas 26 casos houve devolução de parte do que foi depositado pelo tribunal.
O salário final dos ministros é aumentado, na maioria dos casos, graças ao abono de permanência - benefício pago a servidores que optam por continuar em atividade mesmo tendo contribuído o suficiente para se aposentar.
Esses valores variaram entre R$ 2.700 e R$ 5.500, e foram depositados em 2010 nas contas de 21 ministros.
"Por que um servidor que ganha R$ 10 mil pode receber e quem está perto do teto não? A lei não vale para todos?", questiona o presidente do STJ, Ari Pargendler.

"VANTAGEM PESSOAL"
A Constituição afirma que esse pagamento - rubricado como "vantagem pessoal"- deve estar incluído na conta do teto constitucional.
O pagamento de R$ 93 mil foi feito em agosto, para um ministro que recebeu auxílio de R$ 76 mil para se mudar para Brasília com a mulher e os filhos. O tribunal não divulga o nome dos ministros na folha salarial.
Os supersalários pagos no STJ não se repetem em órgãos similares.
Nenhum ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou do TST (Tribunal Superior do Trabalho) recebeu pagamento acima do teto - com exceção dos meses em que saíram de férias e receberam 13º salário.
O STM (Superior Tribunal Militar) afirma que também paga só até o limite.
RESOLUÇÃO
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) editou, em 2006, resolução sobre os salários dos magistrados.
De acordo com o texto do CNJ, o "subsídio constitui-se exclusivamente de parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, verba de representação ou outra espécie remuneratória".
Como a Folha apurou com integrantes da Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do CNJ responsável por investigar irregularidades no Judiciário, o entendimento da Constituição deveria prevalecer e o pagamento de qualquer benefício não poderia levar os rendimentos totais a ultrapassar o teto.
Um dos conselheiros do CNJ disse que os pagamentos devem ser estudados caso a caso. Uma das ideias discutidas no órgão para a questão, diz ele, é pedir uma lista com os depósitos acima de R$ 26.700 e as justificativas para serem analisadas.
O CNJ, oficialmente, disse que não pode se pronunciar porque há várias ações no STF (Supremo Tribunal Federal) que tratam do teto e a questão está "sub judice" até o Supremo definir quais as "vantagens pessoais" citadas pela Constituição.
O ministro do STF Marco Aurélio Mello critica o uso de brechas que fazem os salários superarem o teto.
"Quando se abre exceções há sempre o risco de generalizar e dar o famoso jeitinho. O teto é furado a partir de jogo sutil de palavras, mas a Constituição é categórica: o teto é efetivo e deve valer", afirmou o ministro.
O Conselho Nacional de Justiça manda os tribunais federais publicarem seus gastos na internet desde dezembro de 2009.
O STM mantém os gastos sob sigilo. O Supremo, que não é subordinado ao CNJ, não publica as despesas.

Minha casa é uma pintura

http://www.favelaeissoai.com.br/img.php?filename=noticia_38330398252929c2f06bba8c7c04dd48.jpg&mascara=1
 

São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

Galeria de grafites a céu aberto conta história de favelas no Rio dos tempos de quilombo aos dias de hoje

FELIPE CARUSO
DO RIO

As fachadas dos barracos dos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, entre Copacabana e Ipanema, zona sul do Rio, viraram telas.
Do grafite, fez-se a linguagem para contar a história das favelas desde os tempos de quilombo, passando pelos imigrantes até os dias atuais, de comunidade pacificada, com 10 mil moradores.
A ideia de criar essa galeria de arte a céu aberto veio da ONG Museu de Favela.
A prática do presidente, Carlos Esquivel, 32, o Acme, grafiteiro nascido e criado no Pavão, uniu-se ao estudo da diretora de patrimônio da ONG, a jornalista e moradora do Cantagalo Rita de Cássia Pinto, que pesquisava a história das favelas, para criar o "Circuito das Casas-Telas".
Com recursos do Ministério da Cultura, 15 artistas de Rio, Paraíba, Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e França pintaram 26 casas-telas.
O roteiro de 2.050 passos revela os quase 400 grafites de Acme e de seus amigos espalhados pelas favelas.
Por ser nas ruas, as casas-telas estão expostas à ação do tempo e das pessoas. As obras já têm riscos, rasuras e até relógios da Light.
"Isso é a evolução da arte. Os grafites interagem com a comunidade", diz Acme.
As visitas foram abertas neste mês e são feitas por agendamento no telefone 0/xx/21/2267-6374.


CONTO DE NATAL

Moradora não queria tragédia

DO RIO

A casa-tela devia retratar o deslizamento do Natal de 1984 no Pavão-Pavãozinho, quando um temporal fez a caixa d'água desabar, destruindo barracos e matando dezenas de pessoas.
Na via aberta pelo deslizamento, foi construído um plano inclinado.
A moradora, porém, não queria a tristeza da tragédia eternizada em sua fachada. Por isso, na imagem grafitada, uma família feliz está reunida na ceia de Natal, enquanto o elevador do plano inclinado sobe à janela.

ANACRONISMO

Moradora preferiu rosto de Brizola ao de Getúlio Vargas

DO RIO

Na casa-tela que retrata o início dos anos 1940, há a imagem de um lavrador com uma enxada sobre os ombros e um buquê de flores na mão, pedindo uma mulher em casamento.
Mais à frente, um homem cobra um cruzeiro de um idoso para subir as escadarias com os galões de água.
Ao dobrar a esquina surge o rosto de Leonel Brizola, que à época articulava a fundação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) no Rio Grande do Sul.
O anacronismo é porque a moradora não queria em sua fachada o rosto de outro gaúcho: Getúlio Vargas, que presidia o Estado Novo e fez as primeiras obras no morro.
"Brizola botou as escadas, as primeiras torneiras, visitava a comunidade e protegia o povo. Isso eles não esquecem", diz o grafiteiro Acme.

IMPROVISO

Religiosos reclamam, e mãe de santo se torna sambista

DO RIO

A escolha das casas que serviriam de tela seguiu dois critérios: o roteiro histórico e a vontade do morador. A moradora não viu problemas em pintar uma mãe de santo na fachada, representando a influência do candomblé na comunidade.
Quando o grafiteiro francês começou a pintar a personagem, mesmo sem entender português, percebeu reclamações sobre o trabalho.
A menos de 50 metros de uma igreja pentecostal, a casa virou alvo de reclamações de católicos, evangélicos e outros religiosos que passavam pelo local.
"As pessoas gostam de são Jorge, mas não entendem que é tudo uma mesma cultura", diz o grafiteiro Acme.
O desenho precisou ser substituído pela imagem de um sambista improvisado no meio do roteiro.