UOL, 29/11/2010
Rei da "comédia à italiana", Mario Monicelli, 95 anos, se joga de um hospital em Roma
ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Cinema Quem acompanha a novela "Passione" sabe que Gemma (Aracy Balabanian) quase sempre chora e se lamenta usando uma expressão: "Parenti serpenti!". A máxima italiana sobre as agruras da convivência familiar é também o título de um dos filmes mais famosos de Mario Monicelli, morto nesta segunda (29) ao se jogar do hospital onde estava internado, em Roma. Ele nascera há 95 anos, em Viareggio, cidade litorânea da Toscana, região onde ambientou boa parte de seus filmes.
Lançado no Brasil como "Parente é Serpente" (2006), o título foi um dos últimos filmes italianos de Monicelli a fazer sucesso no circuito comercial. Contava a história de uma família que, depois da morte do patriarca, se reúne na casa da mãe viúva para uma festa de Natal. Ao escutar dela que pretende vender a casa para ficar mais tempo com os filhos e os netos, os familiares entram em pânico, começam a jogar o problema uns nas costas dos outros para, finalmente, fazer o que se imaginava impossível.
Monicelli era isso: o humor negro levado ao excesso, ao limite da ironia e do escárnio. Em contrapartida, podia ser terno, doce e melancólico. Ou as duas coisas ao mesmo tempo, como na série de comédias iniciada com "Meus Caros Amigos" (1975), seguida por "Quinteto Irreverente" (1982) e selada com "Caros F... Amigos" (1994). O centro dessa trilogia é um grupo de velhos amigos de escola liderados por um jornalista veterano interpretado por Phillipe Noiret que fugia da rotina do dia a dia para pregar peças nos outros e rir desbragadamente da vida. Ugo Tognazzi é o conde falido; Adolfo Celi, o médico; Gastone Moschin, o arquiteto, e Duílio Del Prete, o remediado.
Entre seus grandes sucessos, estão "O Incrível Exército de Brancaleone" (1966), com Vittorio Gassman, e "Os Eternos Desconhecidos" (1958), que além do citado Gassman, trazia ainda Claudia Cardinale, Marcello Mastroinanni e Renato Salvatori. Este último é considerado a semente da "Commedia all'italiana", um subgênero que floresceria nas duas décadas seguintes. Se algo que ligue os filmes, é o olhar carinhoso de Monicelli em relação aos personagens ridículos e patéticos que ele acreditava que faziam parte de todos nós.
Monicelli começou carreira nos anos 30, ao lado do editor Alberto Mondadori, parceiro no primeiro curta-metragem e em outros projetos. A veia humoristica foi aperfeiçoada na parceria com Steno e Totó, no fim dos anos 40 e início dos anos 50. A partir de 1953, inicia a carreira solo, que seria marcada por vários êxitos. Entre os quais, um Leão de Ouro por "A Grande Guerra" (1959), que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E uma segunda indicação ao prêmio da Academia, desta vez por "Os Companheiros" (1963).
Com uma carreira prolífica e extremamente rica, não é de se espantar que Monicelli saia de cena desta maneira, surpreendendo a todos de forma trágica e com uma atitude totalmente inusitada. Se foi o desespero ou o cansaço de uma vida limitada será difícil saber com certeza. Talvez - e só talvez - fosse essa dúvida o efeito esperado por ele, como em um grande ato final.
Editor de UOL Cinema
- Mario Monicelli participa de festival de cinema espanhol em imagem de setembro de 2008
Lançado no Brasil como "Parente é Serpente" (2006), o título foi um dos últimos filmes italianos de Monicelli a fazer sucesso no circuito comercial. Contava a história de uma família que, depois da morte do patriarca, se reúne na casa da mãe viúva para uma festa de Natal. Ao escutar dela que pretende vender a casa para ficar mais tempo com os filhos e os netos, os familiares entram em pânico, começam a jogar o problema uns nas costas dos outros para, finalmente, fazer o que se imaginava impossível.
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Os atores Ornella Muti e Michele Plácido em "Romance Popular" (1975), de Mario Monicelli
Monicelli era isso: o humor negro levado ao excesso, ao limite da ironia e do escárnio. Em contrapartida, podia ser terno, doce e melancólico. Ou as duas coisas ao mesmo tempo, como na série de comédias iniciada com "Meus Caros Amigos" (1975), seguida por "Quinteto Irreverente" (1982) e selada com "Caros F... Amigos" (1994). O centro dessa trilogia é um grupo de velhos amigos de escola liderados por um jornalista veterano interpretado por Phillipe Noiret que fugia da rotina do dia a dia para pregar peças nos outros e rir desbragadamente da vida. Ugo Tognazzi é o conde falido; Adolfo Celi, o médico; Gastone Moschin, o arquiteto, e Duílio Del Prete, o remediado.
Entre seus grandes sucessos, estão "O Incrível Exército de Brancaleone" (1966), com Vittorio Gassman, e "Os Eternos Desconhecidos" (1958), que além do citado Gassman, trazia ainda Claudia Cardinale, Marcello Mastroinanni e Renato Salvatori. Este último é considerado a semente da "Commedia all'italiana", um subgênero que floresceria nas duas décadas seguintes. Se algo que ligue os filmes, é o olhar carinhoso de Monicelli em relação aos personagens ridículos e patéticos que ele acreditava que faziam parte de todos nós.
Monicelli começou carreira nos anos 30, ao lado do editor Alberto Mondadori, parceiro no primeiro curta-metragem e em outros projetos. A veia humoristica foi aperfeiçoada na parceria com Steno e Totó, no fim dos anos 40 e início dos anos 50. A partir de 1953, inicia a carreira solo, que seria marcada por vários êxitos. Entre os quais, um Leão de Ouro por "A Grande Guerra" (1959), que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E uma segunda indicação ao prêmio da Academia, desta vez por "Os Companheiros" (1963).
Com uma carreira prolífica e extremamente rica, não é de se espantar que Monicelli saia de cena desta maneira, surpreendendo a todos de forma trágica e com uma atitude totalmente inusitada. Se foi o desespero ou o cansaço de uma vida limitada será difícil saber com certeza. Talvez - e só talvez - fosse essa dúvida o efeito esperado por ele, como em um grande ato final.
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