segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nobel da Paz: "Um prêmio ilegítimo outorgado por um comitê ilegítimo"

O Prêmio Nobel há muito passou a ser instrumento de promoção daqueles que são alinhados com os valores e ideário norte-americanos.

Com raríssimas exceções, como Saramago, por exemplo, elementos medíocres têm sido premiados em detrimento de personalidades autoras de trabalhos infinitamente mais relevantes e humanistas.



Segunda-Feira, 20 de Dezembro de 2010
Liu Xiaobo merece o prêmio Nobel da Paz?

Tariq Ali - Sin Permiso

O vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2010 promoveu a guerra no Afeganistão poucas semanas depois de receber a honraria. O prêmio surpreendeu ao próprio Obama. Este ano o governo chinês cometeu a bobagem de transformar em mártir o ex-presidente do Independent Chinese PEN Centre e neocon Liu Xiaobo. Ele nunca deveria ter sido preso, mas os políticos noruegueses que compõem o comitê, liderados por Thorbjorn Jagland, ex-primeiro ministro trabalhista, quiseram dar uma lição a China e, para isso, fecharam os olhos para os pontos de vista de seu herói.

Ou talvez não tenham feito exatamente isso, uma vez que suas perspectivas não são muito diferentes. O comitê pensou em conceder a Bush e Blair o prêmio da paz conjunto por invadir o Iraque, mas o protesto público obrigou a que desistissem da ideia.

Para constar, registre-se que Liu Xiaobo declarou publicamente que, na sua opinião:

(a) A tragédia da China é não ter sido colonizada ao menos durante 300 anos por uma potência ocidental ou pelo Japão. Aparentemente isso teria civilizado a China para sempre;

(b) As guerras da Coréia e do Vietnã empreendidas pelos Estados Unidos foram guerras contra o totalitarismo e aumentaram a "credibilidade moral" de Washington;

(c) Bush fez bem em ir à guerra no Iraque, e as críticas do senador Kerry eram "propagadoras de calúnias";

(d) Afeganistão? Aqui não há nenhuma surpresa: apoio completo à guerra da OTAN.


Ele tem todo o direito a ter essas opiniões, mas, considerando as mesmas, deveria receber um prêmio da Paz?

O jurista norueguês Fredrik Heffermehl disse que o comitê infringe a vontade e o testamento deixados pelo inventor da dinamite, cuja fortuna financia os fundos para os prêmios:

"O comitê do Nobel não recebeu o dinheiro do prêmio para uso livre, mas sim foi encarregado de outorgá-lo a um elemento fundamental no processo de paz, rompendo o círculo vicioso da corrida armamentista e dos jogos do poder militar. Deste ponto de vista, o Nobel de 2010 é de novo um prêmio ilegítimo outorgado por um comitê ilegítimo".

(*) Tariq Ali é jornalista, escritor e membro do conselho editorial de Sin Permiso. Seu último livro publicado é "The Protocols of the Elders of Sodom: And Other Essays", publicado pela editora Verso de Londres. Tradução para
www.sinpermiso.info: Daniel Raventós. Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto.


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http://www.voltairenet.org/article164171.html 
Dalai Lama & Obama: O encontro entre dois Prêmios Nobel da mentira

por Domenico Losurdo*

O encontro entre estas duas almas gémeas era inevitável: com vinte anos de separação entre um e outro (1989 e 2009), ambos receberam o Prémio Nobel da Paz e ambos receberam esta distinção ad maiorem Dei gloriam ou, para mais exatidão, para a maior glória da "nação eleita" por Deus. 1989 foi o ano em que os EUA obtiveram o triunfo na guerra fria e preparavam-se para desmantelar a União Soviética, a Jugoslávia e também – como eles esperavam – a China. Nestas condições, aquele que ia ser coroado campeão da paz não podia ser senão o monge intrigante que desde há trinta anos, encorajado e financiado pela CIA, lutava para destacar da China um quarto do seu território (o Grande Tibete).
Em 2009, a situação havia mudado radicalmente: os dirigentes de Pequim haviam conseguido evitar a tragédia que se queria infligir ao seu país; ao invés de serem remetidos às décadas terríveis da China, oprimida, humilhada e muitas vezes condenada em massa à morte por inanição, à "China crucificada" de que falam os historiadores, um quinto da população mundial havia experimentado um desenvolvimento prodigioso, enquanto se verificava claramente o declínio e o descrédito que afligia a super-potência solitária que em 1989 havia acreditado ter o mundo aos seus pés. Nas condições que emergiram em 2009, o Prémio Nobel da Paz coroava aquele que, graças à sua habilidade oratória e à sua capacidade de se apresentar como um homem novo e vindo de baixo, estava destinado a recuperar o lustro do imperialismo estado-unidense.
Na realidade, o significado autêntico da presidência Obama está presente aos olhos de todos. Não há zona do mundo na qual não se tenha acentuado o militarismo e a política de guerra dos EUA. Ao Golfo Pérsico foi enviada uma frota, equipada para neutralizar a possível resposta do Iran aos bombardeamentos selvagens que Israel prepara febrilmente graças também às armas fornecidas por Washington. Na América Latina, depois de ter encorajado ou promovido o golpe de estado em Honduras, Obama instala sete bases militares na Colômbia, relança a presença da IV frota, aproveita a urgência humanitária do Haiti (cuja gravidade é também a consequência da dominação neocolonial que os EUA ali exercem desde há dois séculos) para ocupar maciçamente o país: com uma deslocação de forças que é também uma forte advertência aos países latino-americanos. Na África, sob o pretexto de combater o "terrorismo", os EUA reforçam o seu dispositivo militar por todos os meios: a sua tarefa real é tornar o mais difícil possível o abastecimento de energia e matérias-primas de que a China tem necessidade, de modo a poder estrangulá-la no momento oportuno. Na própria Europa, Obama não renunciou à expansão da NATO para o Leste, e ao enfraquecimento da Rússia; as concessões são formais e visam apenas isolar a China o mais possível, o país que se arrisca a por em causa a hegemonia planetária de Washington.
Sim, é na Ásia que o carácter agressivo da nova presidência estado-unidense emerge com toda clareza. Não se trata apenas do facto de que a guerra no Afeganistão foi estendida ao Paquistão, com o recurso aos aviões sem piloto (e a sua consequência de "danos colaterais") claramente mais maciço que na época da administração Bush júnior. É sobretudo no que se refere a Formosa que é significativo. A situação estava a melhorar nitidamente: entre a China continental e a ilha, os contactos e os intercâmbios retomavam-se e desenvolviam-se; as relações entre o Partido Comunista Chinês e o Kuomitang foram restabelecidas. Com a nova venda de armas, Obama quer atingir um objectivo bem preciso: se realmente não se pode desmantelar o grande país asiático, pelo menos é preciso impedir a reunificação pacífica.
É neste ponto que anuncia a sua chegada a Washington um velho conhecido da política de contenção e de desmantelamento da China. Eis que no momento oportuno entra de novo em cena Sua Santidade que, antes mesmo de por os pés nos EUA, benzeu à distância o mercador de canhões que tem sede na Casa Branca. Mas o Dalai Lama não é universalmente conhecido como o campeão da não-violência? Permito-me, a propósito desta manipulação refinada, remeter para um capítulo do meu livro (A não-violência. Uma história afastada do mito), que o editor Laterza (de Bari-Roma) lançará nas livrarias a 4 de Março próximo. Por enquanto limito-me a antecipar um único ponto. Obras que têm como autor ou co-autor ex-funcionários da CIA revelam uma verdade que jamais deve ser perdida de vista: a não-violência é um "écran" (screen) inventado pelo departamento dos serviços secretos estado-unidenses empenhados sobretudo na "guerra psicológica". Graças a este écran, Sua Santidade foi mergulhado numa aura sagrada, quando desde há muito, após a sua fuga da China em 1959, ele promoveu no Tibete uma revolta armada, alimentado pelos recursos financeiros maciços, pela poderosa máquina organizador e multi-mediática e pelo imenso arsenal estado-unidense; revolta que entretanto fracassou por causa da falta de apoio por parte da população tibetana. Tratava-se de uma revolta armada – escrevem ainda os ex-funcionários da CIA – que permitiram aos EUA acumular experiências preciosas para as guerras na Indochina, ou seja, para guerras coloniais – sou seu que acrescento, desta vez – que devem ser classificadas dentre as mais bárbaras do século XX.
Agora, o Dalai Lama e Obama encontram-se. Estava na lógica das coisas. Este encontro entre os dois Prémio Nobel da mentira será tão afectuosa quanto pode ser um encontro entre duas personalidades ligadas entre si por afinidades electivas. Mas ela não promete nada de bom para a causa da paz.
 
Domenico LosurdoFilósofo e historiador, professor da Università di Urbino, Itália.
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O Estado de São Paulo, 12.10.09

Por Gustavo Chacra, Seção: Geral 14:32:21.

Sempre existiram dois Estados Unidos. Ou a imagem de dois Estados Unidos. O primeiro é o clichê que todos conhecem no mundo, com os filmes de Hollywood, o Burger King, o Starbucks, Elvis Presley, Michael Jackson. E o segundo é os Estados Unidos dos americanos, com o baseball, o futebol americano, o sanduíche de peanut butter and jelly, a Pink lemonade, os programas de TV, as milhas, as "pounds", os colleges.
Quase todos acolescentes brasileiros sabem identificar uma foto do Brad Pitt com a Angelina Jolie. Os um pouco mais velhos se lembrarão do Michael Jordan, já que o basquete é um esporte internacional. Mas quantos sabem que o Yankees, com seu gênio Alex Rodriguez, mais conhecido como A Rod, chegou à final da American League ontem? A própria rede de TV CNN diferencia estes dois Estados Unidos. Para o mundo, exibem a mais moderada e pouco opinativa CNN International. Internamente, transmitem a CNN americana, com figuras que não medem palavras como Lou Dobbs.
No caso do atual presidente dos Estados Unidos, também parece existir dois Barack Obama. O primeiro é o idolatrado em todo o mundo, com discursos no Cairo, Istambul e Berlim, Nobel da Paz, com camisetas com seu nome para vender em Damasco e seu retrato exposto em cidades do Nordeste brasileiro. Obama seria a salvação dos Estados Unidos e do mundo para muitas destas pessoas. Nos EUA, na eleição do ano passado, a maior parte da população também o enxergava assim.
Agora, quase nove meses depois do início de seu governo, Obama se torna um presidente comum, mesmo porque seria quase impossível ser diferente dentro do sistema bipartidário americano. Como Bill Clinton, enfrentará uma complicadíssima batalha para tentar aprovar as reformas no sistema de saúde. Como Ronald Reagan, tem a obrigação de recuperar a economia. Como Jimmy Carter, idealiza solucionar o conflito no Oriente Médio. Como George W. Bush, terá a sua guerra.
Criticado em seu país, Obama pode sair vencedor ou perdedor e muitos fatores que não estão sob o seu controle influenciarão o resultado final, como influenciaram os outros presidentes. Porém, nos EUA, Obama é um mortal comum. E como todos os mortais, já se tornou motivo de gozação nos programas de comédia, que em sua maioria absoluta o apoiaram nas eleições.
A imagem de Obama, nestes programas, é a de um homem indeciso, confuso e que adora falar bonito, mas não consegue nada concreto. Analistas diziam ontem no New York Times que os humoristas refletem justamente a percepção do restante da sociedade. E hoje é assim que vêem Obama. Alguns apostam que ele terminará como Carter, um bem intencionado presidente, com algum sucesso na área externa, como o acordo entre o Egito e Israel, mas fracassos no Irã e na América Central. Com a economia em crise, foi trucidado por Reagan. Há ainda outros que têm a esperança de que Obama seja um Roosevelt ou um Wilson. Vamos esperar. Mas, que fique claro, nos EUA, Obama se tornou um presidente como qualquer outro. A idolatria externa já perdeu completamente o fôlego aqui, com sua popularidade em queda constante.
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Uma análise inteligente...

13/10/2009

Nobel de Obama é mais um peso que uma honra

Der Spiegel
Claus Christian Malzahn
 
O prêmio Nobel da Paz veio cedo demais para Barack Obama. O presidente dos EUA não pode apontar qualquer sucesso diplomático real até hoje, e há poucas perspectivas para o futuro.

Costumava ser a regra que o prêmio Nobel da Paz fosse concedido a políticos que pudessem mostrar sucessos tangíveis. Presidentes e políticos americanos foram constantemente agraciados com o prêmio: Theodor Roosevelt o recebeu em 1906 por seu papel em garantir o acordo de paz entre a Rússia e o Japão. Woodrow Wilson foi honrado com o prêmio em 1919 por seu trabalho na criação da Liga das Nações, precursora da ONU. Martin Luther King recebeu o prêmio em 1964 por seu comprometimento com os direitos civis dos afro-americanos. O ex-secretário de Estado Henry Kissinger foi agraciado em 1973, polemicamente, por seu papel na negociação do fim da Guerra do Vietnã.
Hoje é a vez do 44º presidente dos EUA, Barack Obama, que recebeu na sexta-feira o prêmio por seus "esforços extraordinários para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos", segundo o comitê do Nobel.

Com todo o respeito por Obama como pessoa e por seu cargo: isso é realmente suficiente?

Obama foi empossado há nove meses. Suas tentativas de usar discursos brilhantes e iniciativas diplomáticas para encontrar uma maneira de sair de antigos conflitos bem valem o esforço. Ele tentou criar um clima internacional em que o diálogo e as declarações francas são novamente possíveis.

Surpresa nos EUA

Mas Obama está apenas começando. Dar-lhe o prêmio Nobel agora é como dar uma medalha a um maratonista que acaba de correr os primeiros quilômetros. A situação no Iraque ainda é frágil; no Afeganistão está até pior. Apesar dos esforços maciços do governo americano, parece haver poucas perspectivas imediatas de se alcançar um compromisso entre israelenses e palestinos no Oriente Médio. O regime iraniano continua fazendo seus jogos nucleares com o Ocidente em nível diplomático, enquanto em casa um dissidente após o outro é colocado no cadafalso. Um Paquistão armado nuclearmente parece perto do colapso, enquanto na Coreia do Norte o Dr. Strangelove acaricia sua bomba.

A maior surpresa com a decisão de Oslo será sentida nos próprios EUA. Isso porque o homem que foi indicado para o prêmio na sexta-feira não é o presidente americano, um homem que tem de tomar decisões difíceis e às vezes impopulares em casa, mas uma figura global simbólica, que durante a campanha eleitoral de 2008 passou a personificar as esperanças e os desejos das pessoas de todo o mundo. Obama até reivindicou essas expectativas quase sobre-humanas. No entanto, nove meses depois da posse, sua atual tarefa política é ser visto como um presidente que pode praticar a arte da "realpolitik" assim como ser a esperança globalmente popular para o futuro. A concessão do prêmio não fará muito para ajudá-lo nisso. Na verdade, será mais um peso que uma honra.

A atribuição de um prêmio Nobel da Paz tem, é claro, tudo a ver com o indivíduo. Mas o procedimento também é sempre um comentário de Oslo sobre a política contemporânea. Naturalmente, é possível recompensar esforços diplomáticos e assim torná-los mais eficazes. O ex-chanceler alemão Willy Brandt se beneficiou muito disso em 1971, quando recebeu o prêmio Nobel por sua famosa "Ostpolitik", de reaproximação com os países do Pacto de Varsóvia. Na época, Brandt não era menos polêmico na Alemanha do que Barack Obama é hoje nos EUA; a oposição estava de prontidão e o ridicularizou da maneira mais objetável. Mas Brandt, que como Obama era um fã da diplomacia internacional, já havia assinado os Tratados do Leste quando o comitê anunciou sua decisão.

Em comparação, quem aceitou a mão estendida de Obama até hoje? O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad? Os taleban? Kim Jong-il, da Coreia do Norte? Vladimir Putin ou Dmitri Medvedev da Rússia? O primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, ou o presidente palestino, Mahmoud Abbas? Nenhum deles. Não há qualquer sucesso à vista.
É, portanto, muito provável que Obama reconsidere e revise suas iniciativas diplomáticas durante seu mandato - ele poderia até reelaborar totalmente algumas delas. Talvez então consiga recorrer a medidas além de seus discursos banais. Talvez então possamos ver o punho fechado que ele mantém no bolso caso a outra mão, estendida, não tenha o efeito desejado. Ele terá de devolver o prêmio se mostrar esse punho?

Perdendo o sono

A realidade em Washington não é tão romântica quanto o comitê em Oslo parece pensar. Um aumento significativo das tropas no Afeganistão está sendo considerado, uma decisão que Obama terá de tomar. Barack Obama provavelmente não acordou ontem à noite porque teve mais um sonho maravilhoso sobre como poderia melhorar o entendimento entre os povos do mundo. O que o mantém acordado à noite é provavelmente muito mais a questão de como poderá impedir que os taleban estejam dominando Cabul quando ele fizer seu discurso - sem dúvida muito comovente - no Ponto Zero em 11 de setembro de 2011, para marcar o décimo aniversário dos atentados terroristas ao World Trade Center.

A alegria sobre a concessão do prêmio Nobel deste ano seria muito maior se prestasse tributo a resultados concretos, em vez de apenas refletir o entusiasmo sobre esforços diplomáticos que podem ser muito elogiáveis, mas que até hoje foram infrutíferos. Por exemplo, uma decisão do Irã de não tentar obter armas nucleares. Ou a estabilização e democratização com sucesso do Afeganistão. Ou um acordo de paz efetivo entre israelenses e palestinos. Ou, ou, ou...

Não teria prejudicado o Comitê do Prêmio Nobel, portanto, se ele tivesse decidido colocar Obama na lista de espera para o prêmio de 2011 e dado o de 2009 para um blogueiro iraniano ou um dissidente chinês. Barack Obama certamente não teria se queixado dessa decisão.

Em seu discurso curto e humilde diante da Casa Branca, Obama foi suficientemente prudente para não deixar dúvidas sobre a decisão. Seu breve discurso foi menos um agradecimento ao comitê em Oslo do que uma rápida resposta diplomática para as críticas crescentes à decisão. Nenhum político do mundo pode solucionar seus problemas sozinho, ele disse, notando que também carrega a responsabilidade de comandante-em-chefe. Afinal, é um presidente que os americanos querem na Casa Branca - e não um ideal sonhado por Oslo.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009


Nobel não dá paz a Obama

CLÓVIS ROSSI

BENFEITAS as contas, o presidente Barack Obama precisa é de paz, não de um Nobel da Paz, ainda que prêmio seja sempre bem-vindo, principalmente quando se trata do que é, talvez, o de maior prestígio internacional. Mas não será o Nobel que eliminará a assustadora campanha de ódio movida pela extrema direita contra o presidente.
Ficou ainda mais assustadora a partir do momento em que Thomas L. Friedman, colunista do "New York Times", escreveu faz pouco que "as críticas da extrema direita começam a roçar a deslegitimação e a criar o mesmo tipo de ambiente aqui [nos EUA] que existia em Israel na véspera do assassinato de Rabin" [Yitzhak Rabin, primeiro-ministro morto em 1995].
Friedman tem toda a autoridade para tocar nesse assunto, não apenas por ser um dos mais respeitados colunistas do planeta. Ele foi sucessivamente correspondente no Líbano e em Israel. Abre parêntesis: de sua experiência resultou um livro ("De Beirute a Jerusalém"), indispensável para qualquer jornalista que queira fazer coberturas internacionais.
Fecha parêntesis e voltemos a Friedman: ele foi testemunha ocular de como o ódio como alavanca da ação política leva ao horror. O exemplo de Rabin é suficiente para mostrar que o Nobel é incapaz de proteger seus detentores do ódio dos extremistas: foi assassinado um ano depois de levar o prêmio, por radicais judeus cuja cabeça não é diferente da mentalidade da extrema direita norte-americana.
Rabin foi companheiro de Nobel de Iasser Arafat, que continuou, ele também, exposto à ira dos inimigos, no caso o governo de turno de Israel. Morreu (em Paris) longe da paz, depois de sitiado por Israel em sua Mukata, a sede do governo palestino em Ramallah.
Ou, visto por outro ângulo, o Nobel da Paz não assegura que os premiados logrem, de fato, a paz. Convenhamos que, por mais simpatias que Obama desperte com suas iniciativas apontadas de fato nessa direção, a dura realidade é que nenhuma delas prosperou o suficiente para que o prêmio seja justo. É apenas prematuro. Pior: a herança que Obama recebeu de seu antecessor George Walker Bush tira a paz de espírito não só do próprio presidente mas também de uma parcela significativa dos seus governados.
Constrangido pelas circunstâncias, Obama abandonou ou, ao menos, mitigou a noção dos EUA como um poder excepcional, um farol para a humanidade, que sempre esteve no núcleo central da narrativa heroica norte-americana. Roger Cohen, outro dos grandes colunistas do "New York Times", citou anteontem frase de Tom Paine (1737-1809), um dos pais da pátria ("founding fathers") norte-americana, que é a seguinte: "A causa da América é, em grande medida, a causa de toda a humanidade".
Cohen termina seu artigo lembrando que "os americanos estão [depois da crise] em um lugar mental diferente" e que "a América odeia retroceder". Corolário: "O desafio que [Obama] enfrenta agora é como gerenciar expectativas reduzidas". Nada que o Nobel da Paz seja capaz de resolver.

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