quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Kissinger caiu vítima de seu passado

Que "espírito humanitário" o deste elemento, não?




São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


HK

KENNETH MAXWELL

Aos 87 anos, Henry Kissinger continua a reinar. Favorito das páginas de opinião e fornecedor de conselhos dispendiosos (e secretos) a clientes distintos (mas secretos), bem como guardião de confidências presidenciais, Kissinger continua no topo do plano escorregadio ao qual celebridade e poder confluem -e mantém essa posição há décadas.
Kissinger chegou aos EUA como refugiado judeu da Alemanha nazista aos 15 anos de idade, em 1938, três meses antes da Kristallnacht. Sua família se radicou em Nova York.
Anos depois, ele se alistou no Exército norte-americano e serviu na Alemanha, depois da Segunda Guerra Mundial.
Aluno brilhante em Harvard, onde sua tese de conclusão continua a ser considerada como uma das mais brilhantes já apresentadas, ele se tornou um dos melhores e mais respeitados entre os professores jovens da instituição e estabeleceu uma poderosa rede de conexões nacionais e internacionais, especialmente no Conselho de Relações Exteriores, de Nova York, onde conheceu Nelson Rockefeller.
Kissinger tornou-se secretário de Estado em setembro de 1973, antes da queda de Nixon, em 1974, e manteve esse cargo durante o governo de Gerald Ford.
Mas, nesta semana, Kissinger caiu vítima de seu passado. Não foi por causa do WikiLeaks, e sim da divulgação de segredos muito mais antigos.
As gravações das conversas no Gabinete Oval realizadas por instrução de Nixon e que acabam de ser divulgadas pela Biblioteca Presidencial Nixon mostram que, em 1º de março de 1973, Nixon e Kissinger estavam conversando sobre a visita da primeira-ministra israelense Golda Meir.
Ela havia solicitado que a Casa Branca apoiasse o esforço de pressão sobre a União Soviética para que esta permitisse a emigração dos judeus soviéticos. O senador Henry Jackson e o deputado federal Charles Vanick haviam proposto vincular a melhora nas relações comerciais com a União Soviética aos resultados desse esforço -e posteriormente apresentariam projeto de lei nesse sentido.
Kissinger disse a Nixon: "Encaremos os fatos: a emigração dos judeus da União Soviética não é um objetivo de política externa para os EUA.
E, caso eles condenem os judeus soviéticos à câmara de gás, isso não é problema norte-americano. Pode ser uma preocupação humanitária
".
Kissinger declarou agora que os comentários precisam ser vistos "no contexto da época". Christopher Hitchens, articulista que nada tem de neutro em relação a Kissinger, escreveu no site Slate.com: "Editores e produtores sicofantas deveriam deixar de solicitar suas opiniões inúteis".
Quem dera fosse assim...



KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

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