O Estado de São Paulo, 27 de dezembro de 2010
Adriana Carranca - O Estado de S.Paulo
Quando a diretora da escola diz que Mona Samouni, de 12 anos, tornou-se uma menina agressiva, é difícil acreditar. Franzina, pouco à vontade diante de estranhos, ela olha todo o tempo para o chão, fala baixo e tem as pequenas mãos trêmulas. Mona teve de suportar a dor pela morte dos pais, irmãos, avós, tios, primos - 48 parentes, no total - nos eventos que seguiram a 27 de dezembro de 2008. Era noite quando Israel deu início à ofensiva. A família Samouni dividia-se em 34 casas e prédios baixos numa área agrícola do distrito de Zeitoun, sudeste da Faixa de Gaza. Na vizinhança, havia milicianos do Hamas e, após uma semana de ataques aéreos, as tropas israelenses invadiram a área por terra.
Pelo menos seis residências da família Samouni foram transformadas em postos de combate. Os moradores foram levados por soldados para a casa de parentes vizinhos. No total, 97 pessoas, entre os Samounis e outras famílias, foram reunidas no salão do térreo de uma casa ainda em construção. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu a partir daí. Uma bomba caiu sobre o local - 20 morreram na hora, entre eles os pais e os dois irmãos de Mona. Outros 30 foram gravemente feridos. Sem assistência, a maioria não resistiu.
Por quatro horas, Mona permaneceu no local, em silêncio para não chamar atenção dos soldados; imóvel entre os corpos, com a cabeça do pai morto em seu colo. "Ela fantasiou que o pai estava vivo e se levantaria assim que o bombardeio terminasse", diz a psicóloga Wejdan El Bayonmi, coordenadora do Centro de Pesquisa em Gênero, que em 2009 deu início a um programa de atendimento psicológico para mulheres e crianças. Uma em cada três crianças apresenta sinais de transtorno de estresse pós-traumático, segundo o Centro de Saúde Mental de Gaza, entidade independente, financiada por doadores estrangeiros. Mona está entre elas.
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