sábado, 23 de outubro de 2010

Ponto de Partida

Ponto de Partida

Composição: Sérgio Ricardo
Não tenho para a cabeça
Somente o verso brejeiro
Rimo no chão da senzala
Quilombo com cativeiro

Não tenho para o coração
Somente o ar da montanha
Tenho a planície espinheira
Com mão de sangue, façanha

Não tenho para o ouvido
Somente o rumor do vento
Tenho gemidos e preces
Rompantes e contratempo

Não tenho para o meu olho
Apenas o sol nascente
Tenho a mim mesmo no espelho
Dos olhos de toda gente

Não tenho para o meu nariz
Somente incenso ou aroma
Tenho este mundo matadouro
De peixe, boi, ave, homem

Não tenho pra minha boca
Sagrados pães tão somente
Tenho vogal, consoante
Uma palavra entre dente

Não tenho para o meu braço
Apenas o corpo amado
E assim sendo o descruzo na rédea
No remo e no fardo

Não tenho para a minha a mão
Somente acenos e palmas
Tenho gatilhos e tambores
Teclados, cordas e calos

Não tenho para o meu pé
Somente o rumo traçado
Tenho improviso no passo
E caminho pra todo lado

Tenho pra minha vida
A busca como medida
O encontro como chegada
E como ponto de partida.

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