terça-feira, 26 de outubro de 2010

Falha na tireoide eleva risco cardíaco

São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Falha na tireoide eleva risco cardíaco  
Pela primeira vez, pesquisa estabelece relação entre o hipotireoidismo sem sintomas e doenças coronarianas

Estudo com 55 mil pacientes, incluindo brasileiros, pode mudar padrão de tratamento do problema hormonal

GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO

Um novo estudo acabou com uma velha controvérsia, ao provar que pacientes com hipotireoidismo subclínico (quando alterações hormonais não chegam a causar sintomas) têm mais probabilidade de desenvolver doenças coronarianas.
Já se sabia que o hipotireoidismo manifesto (quando a queda na produção de hormônios da tireoide causa sintomas) tem relação com maior mortalidade por doenças cardiovasculares.
Isso porque nesses pacientes há aumento dos níveis de colesterol e triglicérides, aceleração do processo de formação de placas de gordura e aumento das lesões na parede interna dos vasos. A relação da doença subclínica com o risco cardíaco, no entanto, era incerta.
A pesquisa revisou dados de mais de 55 mil pessoas em vários países ao longo de 20 anos, incluindo o Brasil. Foi publicada em setembro no "Journal of the American Medical Association", um dos principais da área.
Os dados da metanálise revelaram que o risco de ter uma doença coronariana ou um infarto é 89% maior nessas pessoas. A chance de morrer também é 58% mais alta para esse grupo.
O hipotireoidismo subclínico ocorre quando os níveis do hormônio TSH, produzido pela hipófise (glândula do cérebro), aumentam para estimular o trabalho da tireoide. Isso pode sinalizar uma falha no funcionamento da glândula, mas que ainda não se traduz em uma queda na produção de T3 e T4 (hormônios da tireoide).
Mesmo assim, esses pacientes têm algumas alterações, como colesterol elevado, por exemplo.
O problema atinge entre 8% e 9% dos brasileiros, principalmente mulheres.
"Havia uma polêmica na literatura em relação ao risco cardiovascular do hipotireoidismo subclínico", diz o endocrinologista José Augusto Sgarbi, professor da Faculdade de Medicina de Marília, que conduziu o estudo brasileiro em parceria com a Universidade Federal de São Paulo, com apoio da Fapesp.
O resultado do trabalho traz ainda outra questão: até agora, as diretrizes atuais, que acabam de ser revisadas, não recomendam o tratamento dessas pessoas.

MAIS GENTE TRATADA
"Vamos ter que repensar essas indicações e é possível que passemos a tratar mais gente", diz Laura Ward, vice-presidente do departamento de tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Segundo a pesquisa, o risco é significativo na faixa etária dos 60 ao 75 anos. "No entanto, levando em conta outros fatores, pacientes mais jovens também podem receber indicação de tratamento", diz Sgarbi.
Além disso, o estudo levanta a discussão do diagnóstico da disfunção. Hoje recomenda-se a dosagem de TSH na pós-menopausa, em mulheres com histórico familiar de doenças da tireoide ou auto-imunes, nas gestantes e nos recém-nascidos.
É possível que, acima dos 40 anos, a dosagem do TSH vire rotina em exames de check-up, principalmente para as mulheres

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