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Dilma muda e poupança bomba.
Publicado em 06/06/2012
Saiu no Brasil Econômico, na capa:
“Com novas regras, poupança capta R$ 2,4 bi e mantém fôlego.”
“Montante registrado entre 4 de
maio, quando Governo anunciou mudanças no cálculo, e 30 de maio; …
aplicação continua sendo mais rentável do que outras modalidades de
investimento, como o DI”.
Não deixe de ver como a poupança bombada permite que a Caixa financie imóveis a 35 anos.
Que horror !O amigo navegante sabe por onde andam o Jungmann e a turma comunista (sic) do PPS ?
Aqueles que espalharam o pânico no horário eleitoral gratuito com a acusação de que o Lula e a Dilma iam confiscar a poupança.
Por onde andam, amigo navegante ?
E o pessoal do DEMO, que agourou a nova poupança ?
Alguma notícia ?
Em tempo: não esquecer da análise do Delfim. A mudança da Dilma na poupança vai botar os bancos e fundos pra trabalhar. Eles vão sair da moleza da poupança gorda para disputar, com custos de administração mais baixos, o mercado competitivo dos lançamentos de papéis de empresas privadas. A Dilma fez mudança profunda e muita gente ainda não captou. Pra por pra trabalhar gente que nunca trabalhou, dizia o Vinicius …
Resistir: o mercado não fará isso por nós
Por Saul Leblon
O governo Dilma acelera o passo na direção que em Lula enveredou a partir da crise de 2008: colocar o mercado, a banca e os recursos públicos a serviço do país para protege-lo do duplo naufrágio europeu-norte americano.
O vagalhão provocado pela submersão de 34% do PIB mundial ruma de encontro às economias da Ásia e América Latina em duas ondas sobrepostas: a retração em cadeia do comércio internacional, onde a singular coordenação do FMI recomenda que todos os países exportem mais e importem menos, o que fará todo sentido quando a Terra estreitar laços econômicos com Saturno; e a fuga de capitais para qualidade e segurança.
Títulos alemães e americanos mesmo pagando juros negativos tem a preferência da manada. De toda a manada, razão pela qual pagam cada vez menos. Papéis do Tesouro dos EUA com prazo de 10 anos, por exemplo, valem 1,4% ao ano para uma inflação da ordem de 2%.
Trata-se de uma corrida contra o tempo; deles e nossa. Os capitais aceitam receber menos do que aplicam porque precificam uma deflação de ativos superior a essa perda. A liquidez que tem em mãos - direitos teóricos sobre a riqueza,como ações de bancos europeus, por exemplo -, não vale o que está impresso na face.
A bolha que começou a explodir em 2008 no mercado imobiliário norte-americano tem uma verruga correspondente dentro de cada um desses papéis: a montanha somada de todos eles alcança 10 vezes o PIB mundial; as espirais derivadas desse Everest equivalem a 460 vezes a riqueza global tangível. Então é preciso correr. A dança das cadeiras deixará trilhões sem assento quando a música parar. A batuta da Espanha e da Grécia ensaia o gran finale.
Dilma tem pouco tempo, mas dispõe paradoxalmente de mais espaço que teve Lula para agir. O tempo é dado pelo vagalhão econômico internacional que avança aos saltos e pode disparar se a banca afundar na Espanha ou a Grécia romper com a ortodoxia dia 17; já o espaço é uma variável política. Dilma tem um espaço de legitimidade para agir inversamente proporcional à credibilidade do discurso neoliberal.
Colunistas órfãos reclamam da ausência de oposição no país e torcem para que Veja acerte ao menos uma parceria contra o PT - seja com Cachoeira, Serra ou Gilmar Mendes. Iludem-se ao achar que as coisas mudariam radicalmente assim. O buraco é mais fundo. A lezeira da oposição deve-se a trinca estrutural em seu alicerce ideológico.
Foi isso que propiciou a margem de manobra para Dilma romper a lógica rentista na esfera dos juros e alterar o lacre inviolável que a poupança oferecia à banca. E nada aconteceu; ou melhor, os depósios em poupança aumentaram na semana seguinte.
Em março de 1999, no governo FHC, a taxa básica de juro do país, a Selic, era de 45% (21,6% em termos reais); hoje é de 8,5% (uns 3% reais). Se ficar em 8%, em média, até 2014, o Estado brasileiro terá economizado R$ 56 bilhões - uns três anos de Bolsa Família. Dilma está tratorando a banca privada para obriga-la a reduções correspondentes no spread e nas tarifas que subiram 17% no primeiro trimestre e renderam mais de R$ 17 bilhões em 2011.O emparedamento conta com a força do setor financeiro estatal que saiu na frente no corte das taxas e na expansão do crédito: em abril a oferta de crédito na esfera pública foi 25% superior a abril de 2011; nas instituições privadas a variação foi de 13%.
O estímulo do crédito não é desprezível, mas insuficiente. As vendas do varejo vitaminadas também pelas desonerações de IPI crescem há tres meses seguidos; em maio registraram o maior salto mensal desde agosto de 2007 (4,1%). Nem por isso, o país está protegido da retração mundial. A contaminação do efeito manada aqui se dá pelo decisivo canal do investimento.
O país cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre e uma das razões - além das perdas na agricultura por razões climáticas -, foi o baixo desempenho da formação bruta de capital fixo ( mede o acréscimo de galpões e máquinas no sistema produtivo). A participação dessa alavanca de crescimento ficou em 18,7% do PIB no primero trimestre; foi de 19,5% no mesmo período em 2011.
A natureza pró-cíclica do capital privado, uma espécie de 'maria vai com as outras' que acentua e acelera o ciclo de queda assim como turbina de forma irresponsável a fase de alta - bolhas financeiras são a expressão máxima dessa ciclotimia - explica em grande parte essa retração e deixa uma advertência no ar.
A retomada vital do investimento - única variável capaz de engendrar um cinturão de resistência efetivo à crise mundial - não virá espontaneamente dos mercados. Eles não farão isso pelo Brasil, como não fizeram pelos EUA nos anos 30 e não fazem hoje pela Europa, em que pese a insistência de Ângela Merkel na receita da 'contração expansiva', baseada em arrocho nos direitos e salários 'para abrir espaço à iniciativa privada'. O Estado terá que assumir um papel hegemônico na retomada do investimento brasileiro se o governo quiser de fato proteger o país do vagalhão em curso.
Turbinar o investimento público implica, entre outras medidas corajosas, reduzir o superávit destinado ao pagamento de juros ao rentismo ocioso;mas, também, simplificar os trâmites para a licitação transparente de obras públicas e mesmo assumir a coordenação direta das empreiteiras.
O dispositivo midiático conservador perdeu a prerrogativa de impor interditos, mas não perdeu a pose. Os mesmos editorialistas que festejavam o desmonte promovido pela agenda do Estado mínimo na era tucana reclamam agora dos atrasos nas obras do PAC decorrente, em grande parte, de um cerco asfixiante de burocracia e preconceito que ajudaram a implantar. O Estado brasileiro, da forma como se encontra manietado, está programado para não fazer. Dilma que afrontou e venceu dogmas tão poderosos como o dos juros tem credenciais e espaço para romper mais esse torniquete. Só não tem muito tempo para decidir.
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