Para que as transformações sejam irreversíveis
Por Emir Sader
O Brasil passa por um extraordinário e imenso processo de democratização econômica e social, como produto das políticas implementadas pelos governos Lula e Dilma. O país, conhecido por ser o mais desigual do continente mais desigual do mundo, pela primeira vez vê diminuir as desigualdades, a miséria e a pobreza. Isso não acontecia nem com expansão, nem com recessão econômica, nem com democracia, nem com ditadura.
Milhões de pessoas, excluídas de políticas centradas no mercado, passaram a ter acesso a bens básicos, que lhes tinham sido negados – desde emprego com carteira de trabalho até casa, passando por microcréditos e o correspondente acesso a bens antes considerados distantes da sua capacidade de compra. O emprego seguro é certamente uma das maiores conquistas, mesmo que os salários – ainda sendo elevados ao longo de toda a década – são baixos, assim como as condições de trabalho são ruins – a começar pelo tamanho da jornada, pelas condições de transporte, segurança no trabalho, etc.
Esses milhões de brasileiros permitem que o país esteja se transformando, apoiado nessa nova maioria, de caráter popular, que elegeu e reelegeu a Lula e elegeu a Dilma. Significativamente, o nordeste, que era a principal base de apoio da direita, passou a ser o esteio prioritário das forças de esquerda, como expressão das políticas centradas nos direitos sociais das maiorias antes postergadas.
A continuidade indispensável dessas transformações depende da sequência e do aprofundamento das políticas econômicas e sociais do governo, que por sua vez dependem, também, das condições econômicas externas. O principal esforço do governo nestes dois primeiros anos da Dilma – e provavelmente será a prioridade em todo este mandato – está concentrado em resistir às pressões recessivas externas e às resistências dos bancos privados, mas também de setores industriais, a somar-se ao esforço do governo em elevar o ritmo de crescimento da economia.
Mas a consolidação dos avanços que o Brasil vive e a possibilidade de transformá-los em irreversíveis, não reside nesse plano. O país pode chegar a sofrer de maneira mais profunda as pressões recessivas, mas não pode depender da situação econômica para consolidar os avanços. A única garantia de que estes se tornem irreversíveis se situa na consciência social dos milhões de beneficiados pelas políticas sociais do governo e na sua organização, para defender essas conquistas.
Esta é uma tarefa muito grande para ser assumida somente pelo governo, mas este tem as responsabilidades essenciais, especialmente com suas políticas de educação, de cultura e de comunicação, combinadas e articuladas entre si, em um imenso arrastão, que deve incluir campanha para terminar com o analfabetismo ainda neste mandato presidencial; retomada, extensão e consolidação da políticas de pontos de cultura, entre outras, neste plano; extensão da internet gratuita para todo o país, entre outras.
Do lado do campo popular, as organizações sociais e culturais tem que se dedicar a trabalhar nessa direção, da forma que encontrem possível e desejável, para avançar na luta contra a alienação e pela organização e constituição das novas forças populares que devem protagonizar, também no plano político, as grandes lutas que o Brasil tem nesta década, para se transformar realmente numa grande democracia econômica, social, politica e cultural.
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